Autor: Lemuel C. Nascimento
Viver para servir é o cerne da ética cristã. Deus não nos quer ter para si mesmo de modo que nos percamos Nele em contemplação mística, mas deseja possuir-nos para o Seu serviço.
Deus não quer que Lhe ofereçamos sacrifício especial, destinado exclusivamente a Ele. Quando alguém se volta para Ele, desejando servi-lo, Ele o volta para o mundo e suas necessidades. É a sua vontade que, o nosso serviço a Ele seja expresso pelo nosso serviço ao mundo, através Dele e por causa Dele.
Jesus Cristo ao comissionar os Seus doze discípulos, disse-lhes: “De graça recebestes, de graça daí” (Mat. 10.8). Certa feita, conversando com os seus doze discípulos, afirmou-lhes: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós e vos nomeei par que vades e deis fruto e vosso fruto permaneça” (Jô. 15.16). Falando aos seus discípulos a respeito da Sua missão, disse-lhes: “O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” (Mat. 20:28). E quando orou pelos seus discípulos, assim se expressou: “Não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal” (Jô. 17:15). Jesus Cristo não pediu a Deus que fossemos tirados do mundo. Para servir a Deus, o nosso lugar é no mundo. Não somos do mundo, mas temos de estar no mundo. Vivemos no mundo, servindo a Deus.
Deus não deseja “alguma coisa” de nós, Ele nos deseja a nós mesmos, não primariamente as nossas obras, mas a nossa personalidade, a nossa vontade, o nosso coração. Está é a obediência da fé: esta a disposição de Deus. Em tudo o que fizermos, fazer a vontade de Deus, desejando glorifica-lo. Preceitua o apostolo Paulo: “Tudo o que fizerdes fazei para a glória de Deus” (I Cor. 10:31).
A parábola dos talentos nos ensina que somos mordomos dos bens de Deus no mundo, que somos chamados a nos dedicar ao Seu serviço no mundo, no uso dos talentos que nos dotou.
A nossa vida inteira deve ser vida de serviço a Deus. Deus quer que vivamos totalmente para servi-lo. E o nosso serviço a Ele é expresso pelo nosso serviço ao próximo.
A concepção cristã de salvação tem duas dimensões, individual e social. A experiência individual de salvação é importante, mas o indivíduo não vive fora da comunidade; e da comunidade a sua vida muito depende: alimentação, roupa, abrigo, trabalho, etc. Há obrigações sociais.
Portanto o cristão que prega o amor e a justiça de Deus não pode ficar indiferente às necessidades daqueles aos quais deve ministrar. O verdadeiro, o genuíno Cristianismo, afirma comunhão com Deus e afirma também a expressão desta comunhão com Deus. Afirma a fé e também a expressão da fé as obras.
Somos servos de Deus no mundo. Somos, portanto, servidores e fracassamos não na medida em que deixamos de desenvolver misticismo ou ortodoxia formalista, mas na medida em nos isolamos, indiferentes, das necessidades daqueles a quem Deus quer beneficiar e salvar por nosso intermédio.
A hipocrisia da Igreja que prega o amor e a justiça de Deus e permanece ao mesmo tempo indiferente às necessidades daqueles aos quais deve ministrar é que tem provocado tremendas reações contra a Igreja e, tragicamente, a rejeição da fé que ela proclama.
Não há dúvida nenhuma que somos chamados a viver de serviço e somente na medida em que realmente servimos com desprendimento e amor é que estaremos afirmando a realidade de nosso Cristianismo.
Faça um comentário