Viver como Jesus viveu?

Autor: George Foster

Só se abraçamos dificuldades e disciplinas como ele as abraçou.

Como seguidores de Jesus Cristo, sabemos que Deus está sempre operando em nossa vida para nos conformar à imagem de seu amado filho. Até mesmo as dificuldades que passamos – e que nem sempre entendemos – têm essa finalidade. Quando a Bíblia afirma que todas as coisas cooperam para nosso bem (Romanos 8.28), o que Deus tem em vista é justamente  o objetivo expresso no versículo 29:  “nos conformar à imagem de seu filho”. As adversidades são tão necessárias ao desenvolvimento de nossa vida espiritual como o foram na vida do Senhor Jesus. “Embora sendo filho, ele aprendeu por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hebreus 5.8-9).
É natural desejarmos que a bondosa mão de Deus trabalhe em nosso favor, transformando as experiências que enfrentamos em passos que nos conduzirão a esse alvo. É que dentro de nós há o desejo de sermos semelhantes ao Senhor Jesus em nossas ações e reações. Desejamos saber perdoar as pessoas que nos ferem, manter a calma em meio às tempestades da vida, seguir confiantes na hora da angústia, sentir Deus presente em todos os momentos, amar as pessoas que nos desagradam  e manter a pureza de coração na hora da tentação. Queremos tudo isso, mas nem sempre é o que acontece: guardamos rancores, perdemos a calma, “trememos nas bases” e nos sentimos sós quando, na realidade, Deus está conosco.
As bem-aventuranças, parte do ensino de Jesus no “Sermão do Monte”, expressam o padrão de atitude e de conduta definidos pelo próprio Senhor como normal para os súditos do seu reino. Nessa mensagem, ele abençoa os humildes, os tristes, os pobres, os puros, os mansos, os perseguidos, os justos e os misericordiosos.
Sabemos que devemos cultivar essas qualidades. Porém, o que ocorre é que as experiências de vida que deveriam nos aproximar mais delas acabam por gerar atitudes opostas. Não conseguimos fazer o que deveríamos fazer. Com o tempo, essas falhas nos levam à conclusão de que o padrão de vida que Jesus viveu e propos aos seus seguidores é inalcançável. Resultado: acabamos aceitando um padrão de vida espiritual, moral, e eticamente inferior aos padrões divinos. E, além disso, ensinamos aos outros que esse padrão é o normal – o que é ainda pior.

Em seu livro, The Spirit of the Disciplines (O espírito das disciplinas), Dallas Willard aborda esse problema:
“Algumas décadas atrás surgiu um romance cristão muito bem sucedido: Em Seus Passos, que Faria Jesus? O enredo apresenta uma série de situações trágicas que levam o pastor de uma igreja próspera a perceber que sua vida se havia deteriorado e estava bem distante da vida de Cristo. O pastor, então, desafia os membros de sua igreja a fazer um voto; em qualquer situação, antes de agir, perguntariam a si mesmos: “O que faria Jesus neste caso?” O resto da história deixa bem claro que o autor entendia que esse voto refletiria uma intenção séria de seguir a Cristo e de caminhar ‘em seus passos’.
“É claro que estamos falando de um romance, mas o certo é que na vida real seria de se esperar mudanças significativas na vida de stãos que fizessem, com seriedade, um voto assim –mudanças semelhantes às narradas no livro.
“Entretanto,  existe um ‘senão’ nessa maneira de pensar. O enfoque do livro é levar o leitor a tentar agir como Jesus teoricamente agiria diante de escolhas específicas. No romance, não há uma única indicação sequer de que o Senhor tenha feito outra coisa na vida a não ser tomar as decisões certas a cada momento. O mais interessante é que o autor nem menciona o fato de que o poder para tomar as decisões certas estava enraizado no estilo total de vida que Jesus havia adotado, a fim de manter seu equilíbrio interior e sua intimidade com o Pai. O livro nem ao menos  sugere que ‘seguir nos seus passos’ implica abraçar de verdade a maneira de viver que Jesus adotou. Por essa razão, o livro passa a idéia errada de que seguir a Jesus significa simplesmente tentar se comportar como ele se comportou ao enfrentar situações difíceis, conviver com pressões, ser perseguido, ou observado pelos outros. O que falta é um reconhecimento de que aquilo que Jesus fazia em tais situações fluía naturalmente da vida que ele vivia quando não se achava em situações de crise.”

Para mim, o que se destaca nesse comentário de Willard é algo que todo atleta sabe muito bem: para se alcançar o máximo de desempenho na hora de uma competição é preciso estar em forma. E isso se obtém através de treino e de um bom condicionamento físico.
Semelhantemente, precisamos estar em forma na vida espiritual. Se quisermos cumprir o propósito de Deus para nossa vida, conformando-nos à imagem de Jesus e manifestando as qualidades que ele manifestou, temos que, primeiramente, consagrar-nos a esse propósito e, em seguida, abraçar os padrões e hábitos que ele evidenciou ao viver aqui na terra.
Tempos atrás, comecei a analisar os fatores que mais têm contribuído para o progresso da minha caminhada espiritual. Ao fazer isso, pude perceber tanto os meus pontos fortes quanto os fracos. Penso que os fatores que identifiquei podem ser classificados sob três aspectos, que poderiam ser ilustrados com três círculos.
O primeiro representa a graça que Deus derrama sobre mim para me sustentar e abençoar. O segundo representa a verdade, e, principalmente, os princípios da Palavra, que Deus usa para estabelecer os padrões que orientam minhas decisões e me guiar. O terceiro representa as disciplinas que pratico para manter a forma espiritual e alcançar os padrões divinos; são caminhos pelos quais o Senhor me alcança com sua graça e verdade, comunicando-me a sua vida. Sinto que preciso me dedicar mais a essas disciplinas.
Que disciplinas são essas? A oração, o estudo bíblico, a leitura devocional, o exercício físico, a contemplação, o jejum, a solidão, o serviço prático prestado aos outros, a fidelidade no trabalho, a honestidade nos nossos tratos, enfim, todas aquelas práticas que demonstram que estamos vivendo pelo Espírito, cultivando a comunhão com Deus e com os irmãos e desenvolvendo um caráter responsável.
Que Deus me ajude, e a todos nós, a recuperar esses valores indispensáveis, se de fato queremos alcançar o propósito de Deus para nossa vida: o de nos tornarmos cada vez mais semelhantes ao Senhor Jesus.

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