Autor: Jonathan Menezes
Parecem-me bastante pertinentes algumas expressões e palavras que retratam a vida cristã nas dimensões de uma “luta”. Em meio a uma “enxurrada” de jargões sentimentalistas e mercantis com “cara” de piedade, que “correm” no meio evangélico brasileiro nos últimos tempos, o cristianismo prossegue “convencendo” muitas pessoas de sua posição privilegiada na dinâmica religiosa. Pessoas estas que afirmam sua suposta “vitória” e imunidade em relação aos males e infortúnios da vida, adotando uma teologia moral de “causa e efeito” (“faça isto para receber aquilo”), produto de nossos púlpitos cada vez mais empobrecidos, que acabam criando (me perdoem a dureza) comunidades lotadas de indivíduos neuróticos e adoecidos, que, deste modo, não conseguem produzir frutos que sejam “dignos de arrependimento”.
Davi foi um dos homens de Deus mais humanos que já conheci. Isto não significa que não houve, ou haja, outros tais como ele; mas a bíblia o apresenta especialmente, ou simplesmente, como um prenunciador de uma gente tão paradoxal como “a gente” é: coerente e obtuso, às vezes muito “crente”, outras meio incrédulo, solidário e egoísta, amável e execrável, alegre e triste ao mesmo tempo. Seus salmos simbolizam muito daquilo que somos no cotidiano, posto que apresentam orações e suplicas que vêm romper com um protótipo “espiritual” desencarnado e angelical que tem se criado nos últimos tempos, do crente sem mácula, sem problemas, sem crise, sem dúvidas e até pecados.
A oração de Davi, presente no Salmo 13, expressa sua mais legítima humanidade. “Até quando Senhor?” (v.1-3), interroga ele expressando sua aberta indignação diante da circunstância em que se encontrava. Do lamento brota a súplica: “Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu!” (v.3-4). Por fim, de queixoso e suplicante, Davi demonstra-se confiante e grato: “No tocante a mim, confio na tua Graça (…) Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem” (v.5-6). Davi foi uma amostra viva de que Deus se agrada daqueles que, de coração, falam a verdade e vivem com integridade, muito mais dos que fazem obras de caridade, mas sem misericórdia, ou que num lugar levantam as mãos, choram copiosamente e se esparramam no chão em suposto culto a Deus, mas que, fora dali, prosseguem aceitando suborno, difamando com a língua, oprimindo o próximo, lançando intriga contra o vizinho, cultivando orgulho e “amor” próprio, aliados a uma mente maquiavélica.
Sou muito mais aderente à indignação, ao questionamento e à dúvida que, por fim, resultem em louvor e confiança, que a uma postura externa piedosa, autoconfiante e aparentemente inabalável, mas decorrente de um coração rixoso e cheio de julgamento e amargura. Que Deus nos livre da falácia da justiça (farisaica) própria e da vanglória, e nos dê corações verdadeiros e sinceros, preservando nossa humanidade e incitando-nos a viver uma espiritualidade de gente, e não de anjos (ou demônios!).
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