Uma fé elogiável

Autor: Juarez Marcondes Filho
O centurião que não quis receber Jesus em sua casa ganhou um elogio do Senhor; assim, afirmou o Mestre: “nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Lucas 7.9).
Sua fé foi apreciada por Cristo porque estava baseada numa clara consciência de sua realidade espiritual. Os judeus insistiram em que Jesus atendesse ao apelo do comandante militar porque o consideravam digno de tal favor. Já, o próprio centurião disse de si mesmo: “não sou digno de que entres em minha casa” (Lucas 7.6). E acrescentou: “não me julguei digno de ir ter contigo” (Lucas 7.7).
O centurião sabia que, por mais esforçado que fosse, ele não era merecedor do favor divino. Sua fé compreendia que Jesus não tinha a menor obrigação de atendê-lo. Ele almejava ser objeto do amor e da graça de Deus.
Há quem pense de modo diferente. Há pessoas que imaginam ter granjeado tamanha intimidade com Deus que podem exigir determinadas regalias, porque afinal têm uma grande fé. O exercício da fé que torna possível o deslocamento das montanhas não pode ser dissociado do pensamento paulino que diz: “quando sou fraco, então, é que sou forte” (II Coríntios 12.10). A grande fé é fé modesta, humilde, muitas vezes, silente, e que atribui em tudo glória a Deus.
Jesus elogiou a fé que centurião tinha porque ela lhe dava consciência de que era um homem de lábios impuros, habitando no meio de um povo de impuros lábios, vislumbrando o Senhor dos Exércitos (Isaías 6.5). Não fosse a misericórdia de Deus purificando-o e perdoando-o (Isaías 6.6) e ele não veria a alva do dia (Lamentações 3.22).
Certamente, Jesus elogiou o centurião por sua fé, porque ela não se restringia a uma experiência para consumo pessoal. Neste particular, o comandante da centúria revelou sua preocupação com o próximo; ele estava interessado na saúde de seu serviçal, a quem ele estimava (Lucas 7.2).
Há um perigo em ser “muito crente”: é o perigo da verticalização da espiritualidade. Ter muita fé não significa ter muita comunhão com Deus em detrimento do próximo. Significa amar muito a Deus e ao próximo, a quem Deus ama, também.
Em Atos 27 lemos de outro centurião, chamado Júlio, que tratou o Apóstolo Paulo com humanidade (v.3). Há pseudo-crentes tratando o seu semelhante com desumanidade. Falam do Evangelho, do Reino, dos sinais e prodígios, mas não assistem ao seu próximo. Dificilmente serão elogiados por Cristo.
As aparências enganam.  De repente, nos deparamos com este discurso do centurião: “eu sou uma autoridade e quando eu dou uma ordem ela é obedecida” (Lucas 7.8). Não nos deixemos enganar pela aparência. O centurião não está cobrando nada de Jesus; ele está, apenas, reconhecendo a autoridade de Cristo. Em outras palavras ele está confessando: “Senhor, eu sei o que é autoridade e sei que a tua autoridade é soberana; sei que a tua Palavra é poder e o que o Senhor disser será feito”.
A fé elogiável não é aquela que determina o que Deus deve fazer, mas é aquela que faz o que Deus determina que seja feito, que confia e obedece ao mandar divino. 

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