Reforma

Autor: Gloecir Bianco

“Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.” (Ezequiel 36: 26)
Ao estudar um pouco sobre a Reforma Protestante ocorrida no século XVI, deparei-me com aspectos surpreendentes que a história nos proporciona. O primeiro deles é com relação aos movimentos que antecederam a reforma propriamente dita. Já no século XI e XII, movimentos contrários aos abusos da igreja, que na época era uma só, começaram a surgir por toda a Europa e alguns dos chamados pré-reformadores começaram a despontar. É bom lembrar que estes pré-reformadores, apesar de não serem freqüentemente citados pela história, foram os precursores do grande movimento atribuído, quase que exclusivamente a Lutero. O Rev. Dr. Antônio Gouvêa de Mendonça, escrevendo ao Estandarte, edição comemorativa do centenário da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, cita estes movimentos e realça sua importância.
Os cátaros, também chamados “homens bons”, surgiram no sul da França e tinham como base principal o Evangelho de João. Consideravam-se herdeiros dos apóstolos e assumiram conceitos mais humanos do Evangelho. Não praticavam a mentira, não reconheciam a autoridade dos reis e tampouco dos bispos e dos papas. Entretanto, ao lado do esforço por recuperar doutrinas cristãs originais e lutarem contra os abusos da igreja, incorporaram traços de religiões orientais contrárias ao cristianismo. A igreja foi implacável, pondo-os sob o poder da inquisição. No mesmo século XII surgiram na França os albigenses , ligados às doutrinas dos cátaros. Os albigenses afirmavam não estarem os cristãos sujeitos a todas as regras eclesiásticas, mas jejuavam e celebravam a eucaristia. Negavam a intercessão dos santos, o purgatório e outras doutrinas da igreja de Roma. Mais uma vez, a igreja calou este movimento pelo sangue. Em Lyon, também na França, surge Pedro Valdo dando origem ao movimento chamado valdenses. Pedro Valdo dedicou boa parte de seus anos e sua grande fortuna aos pobres e a explicar textualmente e diretamente a Bíblia ao povo. O mais importante deste movimento entretanto, está na antecipação dos motivos reais da reforma que aconteceria quatro séculos mais tarde, ou seja, o sacerdócio universal de todos os crentes, o batismo e a eucaristia como sacramento e o fundamento da fé exclusivamente na Bíblia.
A história é rica e podemos preencher muitas páginas comentando, transcrevendo e nos deliciando com ela, no entanto, gostaria de refletir sobre as razões da reforma do século XVI e da necessidade de uma nova reforma no século XXI. Na primeira, houve luta, angustia, divisão, fugas e muitas mortes. Além disso, a pregação e a atitude em condenar a existência de um clero radical, fechado, superior a tudo e a todos. Quando retornamos ao século XVI e constatamos que o sacerdócio universal de todos os crentes foi o motivo preponderante da reforma, imediatamente retorno ao século XXI e constato a necessidade de uma nova reforma.
Constato que uma reforma profunda se faz necessário no seio da igreja reformada. No coração de cada crente. Já no século XI os pré-reformadores clamavam pelo sacerdócio universal de todos os crentes, no século XVI o sacerdócio universal de todos os crentes foi uma das bandeiras marcantes do movimento e muitos foram condenados à fogueira por defendê-la. No século XXI temos o sacerdócio e a unção do Espírito Santo de Deus a nosso dispor e por vontade e decisão próprias não os utilizamos. É preciso que os motivos da reforma do século XVI estejam constantemente conosco, é preciso refletir sobre a história, as origens e as raízes da Igreja, é preciso tomar posse do sacerdócio e exercê-lo com sabedoria, com humildade e sob o governo do Espírito Santo de Deus que nos foi outorgado.  Que o versículo 26 do livro do profeta Ezequiel capítulo 36, possa nos incomodar constantemente, porque é isto que o Senhor Deus quer fazer conosco. Que o Espírito novo  e o coração de carne colocado em nós esteja se manifestando continuamente, para a honra e a glória do nosso Deus.

Fonte consultada: caderno comemorativo do Estandarte referente ao centenário da IPI do Brasil.

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