Autor: Autor Desconhecido
Pais e mães têm medo de enfrentar o problema das drogas
Não é à toa que o psiquiatra Içami Tiba tem lotado auditórios no Brasil inteiro e conseguido inscrever seus livros nas listas dos mais vendidos. Nos textos e nas palestras, ele trata de um tema que angustia milhões de pais e mães, sedentos de orientação: como educar bem os filhos?
Tiba, que tem três filhos adultos, não costuma ser condescendente com os pais. Diz que as famílias estão errando muito na educação de crianças e adolescentes. Mas ameniza: não porque queiram, mas porque estão desorientadas. “A principal angústia que sinto nos pais e mães que assistem às minhas palestras é que eles se sentem impotentes. E isso acontece porque não conhecem os problemas que precisam enfrentar e perderam a referência do que é educativo e do que não é”, afirma.
Içami Tiba diz que não pretende ser um “dita-regras”. “Falo de conceitos e cito casos. Cada um tem que adaptar o que digo à sua própria situação”, afirma.
ENTREVISTA:
Os especialistas geralmente atribuem os desvios de comportamento a falhas na educação. Considerando que hoje há mais problemas de violência e drogas, dá para afirmar que os pais estão errando mais?
Estão. Na verdade, eles não estão sabendo fazer, o que é diferente. Errar é quando você sabe o certo e não faz. Os pais estão desorientados. Estão mais criando que educando filhos. Criar significa dar tudo, proteger acima da conta, não deixar o filho criar responsabilidades. Os filhos acabam achando que têm que ser cuidados pelos outros. Acostumam-se mais a ganhar do que a usufruir o brinquedo que ganharam.
Isso está ligado à falta de tempo para conviver com os filhos?
A educação não pode correr longe do que está acontecendo no mundo. Se o homem tem pouco tempo, a educação tem que se adapatar a isso. Muitos pais querem resumir tudo num tempo curto, mas sem referência alguma. A criança tem que saber se expressar. Não adianta os pais, porque convivem pouco com a criança, tentarem adivinhar o que o filho quer. O filho tem que pedir o que ele quer. Ou ele pede ou não se compromete com o que está ganhando. A atenção concentrada não garante que os pais vão acertar, se não souberam o que tem que passar.
E o que é fundamental passar?
Valores sociais. O sistema de chefia na educação não serve mais. Nem em empresa o pessoal quer chefe, mas líder, que estimula a participação, e não a obediência. O que está acontecendo é que os pais estão ficando obedientes e os filhos estão ficando tiranos.
Quais são os erros mais comuns na educação de crianças?
Os pais não exigirem retorno dos filhos, não exigirem gratidão, não respeitarem a religiosidade, no sentido de respeito ao ser humano. Há crianças que chutam a canela do pai e da mãe.
E como agir numa situação dessas? Dar um castigo, por exemplo, é correto?
Não. Se castigo resolvesse, não haveria problema, porque cadeia é uma forma de castigo. As crianças têm que assumir as consequências do que fazem e a gente tem que ensinar o caminho. Quando o filho chuta a canela do pai porque quer uma coisa que o pai não dá, ele quer fazer com que o pai mude de idéia. Se o pai aceita, cria uma atitude tirana.
Uma queixa muito frequente dos pais é que os filhos não valorizam o que têm. Como mudar isso?
Isso também resulta de desorientação dos pais, porque eles dão o que podem, não o que o filho precisa. O filho precisa de R$ 10, o pai dá R$ 20, porque pode faltar. Se sacrificam para dar o que não é necessidade do filho. O filho entra na faculdade, os pais querem dar o melhor carro, que nem eles tiveram. Está errado. Os filhos ficam beneficiários de todo o lucro que os pais tiveram.
Mas tudo o que acontece de errado com os filhos é culpa dos pais?
Na maioria das vezes, quando há um problema e os pais mudam de postura, os filhos também mudam. Mas também não é tudo culpa dos pais. O exemplo nem sempre educa. Se fosse assim, a maioria dos filhos seriam bons. Tem pais que se sufocaram, foram honestos, trabalharam, venceram, e o filho é um ladrão.
A influência dos amigos, da sociedade, é maior que a dos pais?
A sociedade está entrando muito cedo na vida das crianças. Com dois anos já está na escola, antes disso já está vendo televisão. Então, não está formando uma matriz familiar. E o resgate da educação está em fazer com que o filho sinta-se pertencendo a um núcleo. Quando ele pertence a um grupo ele defende esse grupo. Agora, se ele vai para o mundo sozinho, sai numa sexta-feira e os pais só vão conversar com ele na segunda, então vão deixar como o filho quer. Se o filho depende dos pais para ter celular, para viajar e o pai sustenta uma coisa com a qual não concorda, o que está ensinando?
Os pais preocupam-se muito com a influência da televisão. Como se deve lidar com isso?
Eu acho que a televisão é muito mal aproveitada pela família. Numa banca de jornais também tem revistas porcaria e revistas boas. Se entrar na internet, pior. Tem sites ensinando como fazer uma bomba, como assaltar bancos, como melhorar o teor de THC da maconha. A televisão também tem programas bons e ruins. Mas a família solta cada filho numa televisão. Ela deveria ser um ponto de convergência. Vamos sentar juntos e, chegou o comercial, não sair do canal. Abaixa a televisão e vamos conversar um pouco. É preciso alimentar o relacionamento familiar.
Como tratar um adolescente rebelde?
O pai tem que ter segurança na educação que está passando. Se ele fala para o filho não ir em determinado lugar, o filho acaba não indo e fica bem. Muitos pais não têm coragem de enfrentar uma situação, têm receio de prejudicar o filho se fizerem ele ser diferente dos outros, que podem tudo. No fundo estão prejudicando justamente por não tomarem certas medidas.
Fonte: Gazeta do Povo
http://tudoparana.globo.com/familia/materias.phtml?ed=1
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