O silêncio profético

Autor: Rev. Ézio Martins de Lima & Rev. Ricardo César
“Quem tem ouvido, ouça o que o Espírito diz às Igrejas!”

(Apocalipse, 3.22)

A atividade dos Profetas no Antigo Testamento apontava para a corrupção da religião, da política e da justiça. O povo de Deus preferia ouvir as profecias da mentira à verdade que exige mudanças. Então os profetas eram apedrejados… mortos… esquecidos… por quê? Porque a verdade que exige mudança é dura de ser ouvida… é melhor fazer calar os profetas do que atender à verdade de Deus e mudar as atitudes!

A partir do século XVI, a cristandade passou a ter uma outra visão como opção de vida. Até então, a pregação era: “temos que viver e nos conformar com a pobreza e as necessidades pelas quais passamos aqui na terra, e manter no coração a esperança nas riquezas que nos esperam no céu”. Um grande legado do Calvinismo*, por exemplo, foi a idéia de que a missão da Igreja contemporânea é – também – trazer para a realidade terrena, o máximo possível, as características da vida futura que teremos no céu (trazer um pouco do céu para a terra).

A realidade é que temos vivido, como igreja, séculos e séculos de vida cristã contemplativa, vertical, dando excessiva prioridade à espera da segunda vinda de Jesus, e esquecendo de enxergar o homem e o mundo – o homem inserido no mundo – horizontalmente, como o próprio Cristo nos ordenou.

A Igreja tem perdido sua voz profética porque tem pregado a mensagem que todos querem ouvir… a mensagem que não aponta erros, que não traz à tona os nossos pecados e omissões. Somos quantos evangélicos no mundo? E isso tem feito diferença? Há menos pobres? Menos favelas? Menos crianças nas ruas? Menos mortandade, menos miséria, menos doenças? As prostitutas, os publicanos* e pecadores encontram lugares em nossas Igrejas? A Igreja de Jesus tinha lugar para todos estes e outros que, via de regra, nunca entram nas nossas… estamos mais preocupados com a religião do sucesso e da prosperidade do que com a genuína transformação espiritual que agrada a Deus – “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: Que pratiques a Justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”…

É mais do que chegada a hora de nos livrarmos da “favela” dos nossos corações, e reacender a chama do amor e da compaixão pela dor, sofrimento e necessidades dos nossos irmãos. Que o Senhor nos guie nessa jornada!

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