Autor: Aharon Sapsezian
1. O Espírito que a Igreja confessa é a presença viva e vivificadora de Deus no mundo.
a) O ponto de partida para a doutrina do Espírito Santo é sua manifestação na Igreja, conforme o testemunho da Igreja apostólica registrada na Escritura.
A própria existência da Igreja que confessa o Espírito, é a evidência de que o Espírito vivificador de Deus age no mundo.
2. A profecia de Joel, dada por cumprida por Pedro em Atos 2, pode servir de base escriturística específica para que a Igreja hoje confesse a ação cósmica do Espírito Santo.
a) A efusão do Espírito implica na sua presença cósmica (“panta”).
b) A presença do Espírito é nas próprias estruturas de resistência e hostilidade contra Deus (“sarks”).
c) A efusão do Espírito inaugura o fim e o desenrolar da consumação dos atos criadores e redentores de Deus na História.
A ação de Deus pelo seu Espírito, no mundo, é ação oculta, isto é, é uma afirmação de fé.
a) O mundo não a sabe, não a reconhece, rejeita-a.
b) Não é simplesmente verificável pela observação direta e imediata (e sim indireta e mediante uma compreensão da história pela fé na fidelidade de Deus).
Nem por isso é menos real, concreta e histórica; ela afeta as estruturas da sociedade, a maneira como os homens se organizam para viver neste mundo.
A afirmação de fé da Igreja quanto a ação do Espírito no mundo, responsabiliza-a a manifestar o que é oculto (Mt10:26-27).
“…nada há encoberto que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a ser conhecido; o que vos digo às escuras, dizei-o a plena luz, e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o dos eirados”.
A Igreja é chamada para fora de si mesma para estar onde Deus, pelo seu Espírito, está agindo; toda obra de evangelização da Igreja é a resposta obediente da Igreja à obra pioneira e vanguardeira do Espírito no mundo.
A Igreja é chamada a discernir o “sinal dos tempos”, a indicar a ação secular ou profana de Deus no mundo, ou, em outras palavras, a ver o sobrenatural no natural, ou sacral no profano, a vontade de Deus se realizando no nível das ações humanas.
Nessa tarefa a Igreja não é abandonada a si mesma, a seus sentimentos ou à sua subjetividade ou à sua “experiência”. O critério escriturístico é válido também nesta circunstância.
a) O evento da efusão do Espírito Santo (Atos 2) tomado juntamente com o episódio da edificação da torre de Babel pode orientar-nos.
Descrevem o drama da alienação e da reconciliação.
– Contrasta a ascese humana com a condescendência de Deus.
– A conseqüência do pecado (hybris) é alienação, e o da redenção é comunicação (línguas).
A obra do Espírito Santo é restaurar a aptidão de os homens se entenderem: nisto se manifestam “as grandezas de Deus”.
Testemunhar com transparência a essa condescendência reconciliadora de Deus através do seu Espírito, eis a tarefa da Igreja.
a) Nisso se evidencia que o Espírito é o Espírito de Cristo: em quem Deus estava reconciliando o mundo consigo. Por isso o Espírito glorifica a Cristo, dá testemunho dele, manifesta sua obra.
b) Nisso também se salienta, uma vez mais, o caráter escatológico da obra do Espírito Santo: torna a história humana prenhe e iminente.
7. De uma perspectiva de fé a Igreja verá a ação do Espírito Santo em todos os sinais de desintegração das barreiras de alienação e separação entre os homens, ainda que sejam aparentemente seculares.
a) O despertar de classes e povos que buscam integração na comunidade humana e internacional.
b) Os esforços de humanização mediante a adoção de estruturas mais Justas e livre de vida em sociedade.
c) O extraordinário surto tecnológico que colocou ao alcance do homem, numa dimensão planetária, o domínio da terra e a possibilidade da criação de uma comunidade mundial.
d) A rutura da barreira entre o religioso e o secular, e o abandono da falsa opção que essa barreira implicava, mediante a substituição da nova criatura em Jesus Cristo. Tudo isso são fatos do nosso mundo onde a Igreja pode exercer sua vocação de manifestar a ação oculta do Espírito Santo.
“Aparchê” (Rm.8:23) e “arrabon” (2Co.1:22; 5:5).
a) Esses dois termos e os conceitos a eles inerentes reafirmam o caráter escatológico da obra de Deus pelo seu Espírito.
b) Isso impõe limites à interpretação ingenuamente otimista da atualização da vontade de Deus no mundo.
c) Por outro lado, porém, tanto “aparchê” como “arrabon” são empregados no Novo Testamento não para refrear a confiança ao contrário para combater o negativismo pessimista acoroçoar a confiança na ação soberana, livre e vitoriosa de Deus que pela sua fidelidade fará “novas todas as coisas”.
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