O bode expiatório

Autor: Paulo Érico Ramos de Oliveira
Quando passamos por problemas na vida, temos uma tendência para julgar que a culpa é sempre de alguém, mas nunca é nossa. A questão está bastante ligada às manifestações do egoísmo, através dos seus múltiplos tentáculos, em especial aparece na forma de um amor-próprio exacerbado, digo assim, porque um pouco dele é até bom para nossa auto-estima, favorece que amemos a nós mesmos na dimensão adequada, que é um princípio para que possamos amar ao próximo. O egoísmo é considerado o maior dos sentimentos que se opõe ao amor, e, como Deus nos recomenda o amor, devemos estar constantemente alertas contra essa força que pode impedir a presença de Deus dentro de nós mesmos. O ser humano possui dentro de si, todas as manifestações do egoísmo, todos os defeitos opositores da virtude (Rm 7,18-20), que se não nos esforçarmos para combatê-las, podem nos afastar da presença divina, a qual se manifesta de forma testemunhal quando praticamos o amor, aquele sem compromisso, que não exige nada em troca. Se colocamos a culpa de tudo que nos acontece nos outros, é sinal de que nosso amor-próprio está passando de seus limites, é o estudante justificando sua reprovação dizendo: “ o professor é uma droga…”; os pais que não se empenham na criação dos filhos: “o ambiente está péssimo…”; os filhos culpando os pais: “meus pais não me compreendem…”; o profissional diante do fracasso: “no meio desta corrupção …” Quando chegamos a tal ponto é sinal de que estamos sofrendo de uma espécie de “miopia para nossos defeitos e uma hipermetropia para nossas qualidades”. Nossa auto-imagem é geralmente melhor do que aquela vista sob o ponto de vista de outras pessoas. Levando a vida desta forma, colocando a culpa nos outros, nossos defeitos tendem até a “desaparecer”, de repente nem temos mais pecados, não necessitamos confessá-los, se não os temos; passamos então à soberba, outra forma do egoísmo, podendo até pensar que chegaremos à Salvação dependendo apenas e somente de nós mesmos. Somente a partir do amor é que o homem terá forças para combater as diversas formas do egoísmo. A partir deste amor, o homem poderá se transformar, passando por um processo contínuo, de persistência, de verdadeira luta espiritual, permitindo que um novo homem nasça no lugar do velho. E a transformação será profunda (Jo 3,1-15; Rm 6,6-11). Não teremos mais a necessidade de um “bode expiatório” para expiar nossos defeitos, contamos com a misericórdia de Deus para isto, e assim, no altar de cada Missa de Domingo, estaremos oferecendo ao Pai, através de Jesus Cristo, o nosso próprio ser em renovação.

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