Autor: Sérgio Fonseca Cruz
Muitas pessoas já ouviram falar da famosa figura da mitologia grega chamada Narciso. Ele era um menino solitário que morava num jardim. Certo dia, ele se sentou à beira de um lago de águas puras e cristalinas e, ao debruçar-se sobre ele para matar a sede, viu sua imagem refletida. Como não conhecia espelho, o menino nunca havia olhado para si próprio; acabou por se apaixonar pela imagem refletida. Foi assim que Narciso mergulhou e sumiu no lago à procura daquela pessoa por quem se apaixonara, sem saber que buscava a si mesmo.
Na vida não é muito difícil encontrarmos pessoas como Narciso: optam por conviver consigo e mais ninguém. Contudo, não podemos nos esquecer que Deus, ao criar o ser humano, diz: “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). Há no ser humano a necessidade de relacionar-se com o seu semelhante. Porém, a relação humana constitui-se num grande desafio para cada um de nós, quando percebemos que o nosso semelhante não é tão semelhante assim.
Aceitar o outro como ele é torna-se algo extremamente difícil para algumas pessoas. Principalmente quando aquilo que o outro traz em si, choca-se com aquilo que trazemos em nós – e não pensem que estou falando de aceitação numa perspectiva de passividade, frente à tirania e ao orgulho infantil daquelas pessoas que dizem “eu sou assim mesmo e não vou mudar… se quiser vai ter que ser assim”. Penso em “aceitação do outro” numa perspectiva transformadora para o nosso ser e para as nossas relações. No entanto, o que geralmente acontece é que tentamos projetar no outro aquilo que pensamos que ele “deveria ser”, quando identificamos nele algo que difere do nosso desejo, ou de nós mesmos. Como diz Caetano Veloso “é que Narciso acha feio o que não é espelho”.
O centro nervoso da questão é que algumas pessoas só conseguem amar a si mesmas. Elas não conseguem lidar nem respeitar a diferença existente naqueles que estão à sua volta. Em boa parte, seus relacionamentos são caracterizados por um desvairado narcisismo, que desperta nelas o desejo de querer contemplar no outro, como em um espelho, a sua própria “beleza”. Elas passam a acreditar que a melhor visão de mundo, os melhores pontos de vista… são os delas. Essas pessoas, sem perceber, e de forma equivocada, apresentam-se na vida como referencial de “perfeição”, o que dificulta suas relações pessoais. Sabe qual é o resultado disso? Um mergulho profundo num mundo solitário e pretensioso, como se bastassem: sem perceber elas morrem afogadas em si mesmas.
Creio ser importante a toda pessoa um momento de solitude que nos permita a contemplação de nós mesmos e da vida em geral. Contudo, ninguém pode viver distante de tudo e de todos o tempo inteiro. O Senhor nos faz viver em família, na igreja, no ambiente de trabalho – em sociedade. Sendo assim, é preciso aprender a lidar com o Narciso que há em nós. Aproxime-se de Jesus, aproxime-se de pessoas e permita que elas também se aproximem de você. Peça a Deus para te ajudar a respeitar e lidar melhor com a diferença do outro. Você pode ser mais feliz!
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