Autor: Terry C. Muck
É missão, ou missões, com um “s”? Se tornou popular em muitos lugares insistir que aquilo que os missiólogos estudam deve ser denominado missão, sem o “s”. Há pelo menos três argumentos que usam para apoiar sua posição.
O argumento do missio Dei foi talvez o primeiro argumento. Karl Barth foi o primeiro a usar o termo com significado missiológico numa palestra em 1932. Logo outros adotaram o termo. Apesar do fato da idéia da “missão de Deus” ter se desenvolvido de forma diversificada, a idéia central é que missão é a obra singular de Deus, expresso e executado de muitas maneiras, não apenas pela igreja, mas por todas as instituições e ações.
Esta colocação positiva leva ao segundo argumento, geralmente expresso de maneira negativa: Missão não é uma coleção de iniciativas humanas competitivas feitas por igrejas, agências e heróis missionários. Missões (com “s”) põe a ênfase em cruzadas, grupos alvos e programas, em vez na própria natureza de Deus—uma natureza missional.
Um terceiro argumento é prático. O uso da forma singular como sujeito nos faz missiólogos melhores. Aprendemos olhar de forma mais abrangente para os fenômenos — políticos, culturais, econômicos, teológicos e práticos—quando estamos tentando responder a pergunta central: “O que Deus está fazendo na terra?” Esta visão mais abrangente nos ajuda evitar a tendência a limitar missão “genuína” àquilo que nossa igreja e nosso programa estão fazendo.
Estes argumentos parecem persuasivos. Como todos os argumentos, no entanto, reexaminar vai os fortalecer ou os dispensar. E parece que os argumentos para o singular no uso de “missão” estão precisando especialmente ser examinados, desde que estão contra a tendência pós-moderna em três disciplinas relacionadas que colocam o “s” em vez de tirá-lo.
Considere o uso das palavras “civilização” e “civilizações”. O historiador Fernand Baudel em A History of Civilizations (Uma História de Civilizações) traça a história das palavras. “Civilização” foi inventada por Victor Riquetiu em 1756 com o significado largo de “o oposto de barbarismo”, e entendeu que refletiu à sociedade francesa. Não ocorreu na mente dos estudiosos ocidentais que colocar o “Ocidente” como o cume de civilização minimizou as contribuições e valores de dezenas de outras civilizações. Hoje os historiadores falam pouco de civilização, e muito mais de civilizações.
Uma mudança semelhante tem ocorrido entre antropólogos e seu uso da palavra “cultura”. Originalmente usado no sentido de descrever “tudo que a humanidade tem realizado”, ocorreu com tempo que “realização” depende do gosto de cada um. Isto é, não há uma cultura só, contra qual todas as outras são medidas, mas dezenas de culturas, cada um com seus pontos fortes e fracos.
Finalmente, a palavra “religião” tem feito os estudiosos do assunto mais e mais inquietos. A razão é a mesma dos que estudam civilização e cultura. Mas, enquanto os historiadores e antropólogos não permitiam que suas deliberações colocassem em dúvida a realidade objetiva em questão de civilização e cultura, os estudiosos de religião, sim. A realidade objetiva de religião não é bem entendida e os estudiosos não estão em acordo da sua definição. Talal Asad, por exemplo, conclui que religião é simplesmente algo construido por uma “história particular de conhecimento e poder”—e falar de religião como religiões não resolve o problema totalmente. Um jogo de singular ou plural não resolve muito este problema para eles. De qualquer jeito é bom tentar compreender estes termos “guarda chuva”, mesmo quando há diferenças.
O que tem tudo isto com nossa reflexão sobre missão e missões? Scott Moreau nota que a mais recente corrente entre missiólogos vai em direção oposta aos que tratam de cultura, civilização e religião. Isto é, um movimento de missões para missão. Devem os missiólogos ficarem preocupados que não estão levando em consideração as lições aprendidas pelos estudiosos de historia, antropologia e religião?
Se a intenção de todos os estudiosos é, nos seus estudos, refletir a realidade de forma precisa, até o possível, então parece que missiólogos fazem isto na mudança do plural ao singular, enquanto os outros fazem em mudar da singular para o plural. Por estas mudanças, Graudel, Mauss, e Asad estão reconhecendo que civilizações, culturas e religiões são feitos por seres humanos, e assim condenados a ser relativos e plurais. Missiólogos, no outro lado, estão tentando reconhecer que missão, entendido de forma certa, é singular, tudo uma parte da única grande missão que é inerente à natureza de Deus. Os outros parecem estar mudando em direção das exigências das suas disciplinas, assim, todos na direção de melhor descrever a realidade. Apenas missiologia, em propor uma força transcendente, singular (Deus) como uma parte da sua realidade, pode, com razão, reivindicar um foco singular para aquela realidade.
Uma ironia interessante é o resultado desta diferença. Missiólogos pensam que a virada “pós-moderna” é um simples percurso de vida. Se toda missão deriva de uma fonte transcendente, então toda missão é singular e deve ser julgado baseando-se no tempo, lugar, e contexto local em relação à fonte. Os resultados de colocar transcendência não são totalitarianismos arrogantes, como muitos sociologistas temem, mas o oposto. Os teoristas a temer, metafísicas e cientistas sociais, são os que universalizam o princípio de relatividade sem a rede de segurança da transcendência. Eles são teoristas quem totalize de uma base humanista inadequada. E caem presos aos mesmos excessos que advertem contra.
Que nos leva a um comentário final. O perigo de qualquer teoria é totalização. E ouvimos nas discussões para missão e missões, ecos disto. Em vez de escolher um ou a outro termo, talvez a escolha que melhor reflete a realidade é escolher os dois. Braudel, terminando seu ensaio sobre o termo civilização, disse que “por muito tempo ainda tanto a palavra civilização será usado tanto no singular como no plural”.
Parece que a melhor proteção para os missiólogos a exagerar com uma definição estreita demais, ou em generalizar tudo até não existe mais, é usar tanto o singular como o plural. Há um missio Dei e todos nós que nos chamamos de Cristão trabalhamos na vinha dEle. E por causa de tempo, espaço, dons, e vocação de cada um, trabalhamos em partes diferentes da vinha dEle. Estudamos missão e estudamos missões. Pelo menos por agora.
Muck, Terry C. “The Missiological Perspective: Is It Mission or Missions?” Em Missiology, Vol. XXXII, Nº 4, Oct. 2004. Traduzido por Barbara Helen Burns.
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