Laura e o campo do Senhor

Autor: Samuel Costa
Do alto da colina ela olhava o vale florido que se estendia até encontrar-se com o ribeiro de águas cristalinas, lá embaixo. A visão maravilhosa tomou conta de todos os seus sentidos. Quanta beleza e ela não se dera conta, até então. Naquela tarde, porém, resolver dirigir seu carro até o alto do monte que ela durante anos só contemplara de sua janela, enquanto lavava a louça, varria a casa, cuidava das crianças, discutia com o marido ou simplesmente conversava com alguma amiga que, esporadicamente, a visitava.
No dia-a-dia dos afazeres, seu mundo se circunscrevia a fazer repetidamente o que a rotina lhe impunha como dona-de-casa/mãe/esposa responsável. Entretanto, naquele final de tarde ela resolveu romper com a rotina. Ligou para o marido e disse que talvez chegasse mais tarde. Tirou os chinelos, calçou um tênis e verificou sua aparência em frente ao espelho, como se estivesse indo encontrar alguém especial.
A pequena viagem não durou mais que 20 minutos e agora ela via sua cidade lá do alto. Dava até pra ver o bairro onde morava há mais de 12 anos. Chegando lá em cima desligou o carro, saiu e bateu a porta do veículo atrás de si. Ali, naquele alto, ela parada ao lado do carro, tomou o primeiro susto. O silêncio do campo era profundo: não havia buzinas, chiados, sons de rodas no asfalto molhado, panelas de pressão num fogo desesperado, ali não havia nenhum som urbano. No alto da colina ela se deu conta de que o silêncio existe. Mais do que isso o silêncio do campo, após alguns minutos é um silêncio orquestrado. Há uma infinidade de sons que um ouvido urbano não consegue assimilar. Nada que uma hora no campo não consiga reverter.
O tempo foi passando e a dona-de-casa urbana deslumbrada sentou-se na relva. Agora ela ouvia aves piando à distância, passarinhos chilreando entre as ramagens. “Meu Deus, que mundo belo e eu não o via!”, pensava emocionada. Laura deu-se conta de que o vento ali era fresco e brincava com seus cabelos, desarrumando-os levemente. Vento suave de sentir, que trazia cheiros agradabilíssimos que só o campo pode fornecer. Ali ela respirava o perfume de Deus, que lhe enchia a alma de prazer.
Mais de uma hora já havia passado e ela ainda estava lá. Magicamente o campo a fizera acalmar-se. Mais do que isso. O campo fez Laura refletir sobre sua vida. Ali, no silêncio orquestrado da natureza refletiu sobre sua fé, seus valores, suas lutas, seus compromissos firmados. Descobriu que vivia infeliz, mas descobriu também que tinha um Deus que se preocupava com ela. Toda uma vida na igreja, permeada por escolas dominicais, cultos, vigílias não lhe deram a bênção da presença de Deus como sentia naquele momento, no alto da colina, tendo o rosto soprado constantemente pelo vento do Senhor. Dali do alto agora Laura conseguia ouvir o borbulho da água do ribeirão, lá embaixo, anunciando que o Senhor – a água da vida – ainda enche o cântaro seco dos seres urbanos e agitados pela vida moderna.
Entendendo estar mais próxima do céu começou a conversar com o seu Deus como nunca antes fizera. Discutiu com Ele como fazia com seu marido. Começou reclamando da vida e pedindo socorro. Contudo, um milagre acontecia sem que ela percebesse. Quanto mais cheiro do campo ela respirava, quanto mais canto de aves ela ouvia, quanto mais vento no rosto lhe soprava, quanto mais capim ondeava sob a força da brisa, mais calma ia ficando e menos murmurante também.
Ao final Laura agradecia a Deus pela vida. Pediu perdão, porque não se importava com Ele há muito, e não se dera conta de tão grave pecado. Ali, no alto, fez um voto com o Criador, de que voltaria, sempre que pudesse.
Ao voltar pra casa, naquela noite compartilhou com o marido e os filhos sua experiência com o Senhor. Laura tornara-se uma cristã mais feliz, mais bela, menos ranzinza. Os problemas continuavam os mesmos, porém, o milagre havia acontecido; ela enchera-se de esperança.
Todas as vezes que separamos um tempo para estarmos a sós com o Senhor, o milagre da vida acontece. Com Isaque também foi assim: “Saíra Isaque a meditar no campo, ao cair da tarde; erguendo os olhos, viu, e eis que vinham camelos” (Gn. 24:63). Sua noiva Rebeca é quem vinha num dos camelos. Isaque constituiu família e foi bem sucedido em todos os seus projetos. Não é sem razão que Isaque, ao sair ao campo para orar ao Senhor (meditar), ao levantar os olhos, vê o presente de Deus vindo ao seu encontro.
Laura compreendera a bênção de ir ao campo para orar ao Senhor. Não somente ela mudou, mas também sua família. Aliás, há poucos dias todos foram com ela e juntos louvaram ao Senhor.
É no campo que descobrimos que não estamos sozinhos. É lá, quando tudo parece parar, que percebemos que somos muito amados do Senhor.
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