Autor: Glauber Luiz Lenk
“A História não registra intenções; apenas fatos!”, já disse o Nelson Jobim, na cerimônia de sua posse no Ministério da Defesa. Confesso que fiquei admirado ao saber que seu discurso de entrada foi improvisado e, atribuindo ao ministro a razão propriamente contida em suas palavras, me oponho aos críticos. Pelo menos nisso Jobim acertou em cheio! Quem já ouviu falar do missionário Colombo? Ou do paternal Hitler? Do patriota Judas Iscariotes? Ou ainda do evangelista Cabral?
Sejamos sóbrios: o provérbio popular que diz que "de boas intenções o inferno está cheio" não é bíblico, mas se aproxima muito! Principalmente para nós – que cremos que os fins definitivamente não justificam os meios – é conclusão certa, daí, que atitudes ímpias não deixam de ser ímpias por nascerem de propósitos que, no fundo, são nobres.
Sendo assim, a boa intenção européia de conquistar "terras para o rei e almas para o papa" – slogan da campanha expansionista pela cruz e a espada – não enobrece o holocausto do homem nativo e da terra nativa americanas. Nem mesmo os sinceros e louváveis propósitos evangelistas de Cabral e Colombo. Cortez nem merece comentário. (Se de boas intenções o inferno realmente estiver cheio, esse aí, coitado…).
Sejamos justos: por outro lado, em todo tempo, passado ou presente, sempre houve gente que, por boas ações, mostraram suas boas intenções. Pelas obras mostraram sua fé – parafraseando Tiago. Pessoas de bem cujas atitudes beneficiaram outras, mas nunca foram contadas aos outros. Lamentavelmente, nem todo fato é registrado pela História. Fato, nem todo; intenção, nenhuma.
E assim, o Evangelho sempre esteve, simultaneamente, bem e mal representado. Cada qual siga o modelo que melhor lhe convier. Em todo tempo haverá o mau exemplo do qual se diga em justificativa hipócrita: "a mulher que Tu me deste por esposa…" (Gn 3:12). E, do outro lado da rua, estará alguém do qual se comente: "Vejo que este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus" (2 Rs 4:9).
Ainda há esperança! Recuso-me a crer no contrário. Não vou ceder. É possível evitar a repetição dos erros do cristianismo no passado. Talvez até remediá-los. Mas é preciso atitude e compromisso com o evangelho. É preciso ação e empenho. Tanto os que o praticam mal quanto os que não praticam nada prejudicam nossa obra. Voltando a citar Nelson Jobim, "nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe. Aja ou saia.". Quem não quiser agir conforme a necessidade e praticar as evangélicas imperiosas boas ações, talvez tenha de ver suas boas intenções se juntarem àquelas outras. Aquelas. Aquelas das quais “o inferno está cheio”.
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