Autor: João Carlos
Tem-se a impressão, e muitos já o disseram, que Jesus foi um reformador, revolucionário ou, em palavras mais recentes, um progressista. Não concordo com isso, pois nesses conceitos há muito conteúdo ideológico e a cobrança por direitos, o que não era o caso de Jesus. Ele dizia de mudança interior, de ponto de partida, onde cada um seria responsável por seus atos e deveria agir em acordo com o respeito dos direitos dos outros como premissa principal, não em defesa própria.
A mudança de atitude faria com que a violência arrefecesse e suas conseqüências fossem diminuídas. Mas, onde começaria essa mudança? Em mim. Cada qual é o ponto de partida, sob a ótica de Deus. Primeiro eu cumpro minha parte, testemunhando que estou servindo ao Senhor e praticando sua benignidade aqui na Terra; depois, sem que seja preciso cobrar, a minha parte será acrescentada. Essa virtude de amar nesse grau de servir, que demanda ação, nós recebemos do Senhor, conforme prometido por Jesus em Atos 1: 8 – “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.
Partindo de mim, pessoa a pessoa, o mundo todo receberá testemunho do amor. Nem precisarei ir muito longe para pregar, embora muitos sejam chamados a essa missão. A virtude significa para nós o mesmo que significou para Maria, no ato da concepção de Jesus: a geração de uma vida nova, de amor e testemunho aos povos.
O povo de Israel, pelo cumprimento da lei, tinha sua virtude fundamentada em mérito pessoal. Cumpria a lei, mas esta não lhe restituía a capacidade de amar e produzir o fruto do Espírito, o amor. Por outro lado, agora, após recebermos a virtude do Espírito Santo, estamos capacitados a produzir o fruto do amor, o mesmo da árvore a que estamos, por Ele, ligados (ver Gálatas 5: 22).
Sendo assim, Jesus não foi um revolucionário progressista, pois o que pregava era a igualdade fundamentada no amor e no reino de Deus. Jamais estimulou rebeldia ou usurpação de direitos de outros, a que razão fosse. A própria oração do Pai Nosso caracteriza bem isso, pois representa justiça: pede ao Pai, conforme pratica. A vitória é pela justiça, não pelo grito mais alto!
O exemplo de Jesus é no sentido de que valorizemos o que somos e o que podemos ser, para poder servir. Importa que quem serve tenha um fruto especial a servir e, se o mesmo está sendo produzido em nós, o que estamos servindo? Um fruto bom e apetitoso? Ou um fruto podre e bichado?
Existe uma lógica muito interessante na visão de Deus: só ganha quem primeiro se doa e o sentido é de mão única. Se cada um dá de si ao próximo também acaba recebendo e assim o que, em principio, era mão única transforma-se em mão dupla, onde todos ganham.
Ninguém perde no reino de Deus! “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo” (Lucas 6:38). Apesar de sempre ter ouvido esse texto como estímulo a recolhimento de ofertas materiais, acredito que sua aplicação, mais cabal, seja quanto aos aspectos aqui mencionados.