Folia de crente

Autor: Rosana Salviano

Fevereiro. O Brasil, (lamentavelmente) conhecido como “o país do carnaval” celebra sua maior festa popular. São 4 noites onde a nação pára, e, literalmente, abre alas para a folia, que na maioria das vezes, vem acompanhada de bebedeira, prostituição, adultério, pornografia e ilusão. E do Rei Momo, que “ganha as chaves da cidade”.
Não é de hoje que se comenta a decadência do Carnaval: a repetição dos ritmos e samba enredos, a mesmice das fantasias, a repetição de apelos e a promiscuidade. E mesmo assim, ele ainda reúne multidões em busca de “diversão”.
Só no Rio de Janeiro, onde a festa é uma das mais famosas do mundo, são esperados para este ano 3 milhões de turistas, vindos de todas as partes do planeta. Eles vêm cantar e dançar ao som de cultos à Iemanjá, deuses e mitos; vêm assistir à desfiles de fantasias, alegorias e mulheres seminuas. Esse último, aliás, um dos mais fortes apelos nos quatro dias de festa: a liberação sexual. “Durante o carnaval, tudo é permitido”, diriam alguns foliões. E não é à toa que o Ministério da Saúde intensifica as campanhas de prevenção nesta época do ano: mais de 22 milhões de camisinhas devem ser distribuídas em 2001. O objetivo é evitar a Aids e também o que já ficou conhecido como “efeito pós carnaval”, quando no mês de novembro (9 meses depois da folia), há um aumento espantoso no número de partos, principalmente entre adolescentes e jovens solteiras.
Na contramão do sistema
Enquanto a “festa da carne” impera, alguns aproveitam o feriado para descansar. Outros milhares, principalmente evangélicos, reúnem-se em retiros, acampamentos e congressos. “Aproveitamos o feriado prolongado para promover a comunhão em nosso meio”, explica Araídes Loureiro, coordenador de um grupo de jovens batistas de São Paulo que tradicionalmente se reúnem numa chácara durante o carnaval. E não há pecado nisso. Mas nos últimos anos, boa parte da igreja decidiu dar um basta ao reinado de Momo e começou a sair pelas ruas falando de um outro e verdadeiro Rei, de uma outra, e não passageira alegria.
Em Vitória, no Espírito Santo, por exemplo, centenas de jovens de várias denominações invadem as avenidas já em novembro no Vital – carnaval fora de época – distribuindo panfletos e promovendo shows e cultos ao ar livre. Em outras capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, blocos carnavalesco compostos por evangélicos ganharam a simpatia do público em carnavais passados. Eles vão com faixas e folhetos falando de Jesus, e em meio à batuques, fazem alusão ao Amor de Deus. “Queremos sair do casulo e comprar a briga. Aqui, o diabo não manda”, justifica Juliano Reis, de 19 anos, que pela segunda vez vai evangelizar no sambódromo do Rio. Folia de crente? “Não, vamos lá para trabalhar e fazemos isso com seriedade; há muita intercessão por trás disso”, esclarece.
Alternativa bem diferente, mas que também passa longe dos retiros, é o Kyrius Music. O evento de música gospel, que durante este carnaval deve reunir até 5 mil pessoas por noite no Espaço Esperança, em Londrina, Paraná, está em sua quarta edição e é promovido pela Igreja Presbiteriana Independente. Mas antes que alguém pense o contrário, não tem nada a ver com “carnaval de crente”. Pelo menos isso é o que garante o pastor Fabrízio Salabai Barbosa, um dos responsáveis pela festa e colaborador do eucreio.com. “O Kyrius é uma alternativa para os não crentes e uma grande oportunidade de evangelismo para os crentes; o objetivo é só esse, pregar o evangelho através da música para aqueles que não vão aos bailes carnavalescos por algum motivo mas também não querem ficar em casa”, diz. Ele lembra que nos anos anteriores, centenas de pessoas entregaram suas vidas para Cristo ao som de rock gospel, celebração e adoração, que mesclam o evento.

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