Desvios e limites da missão

Autor: Gerson Rodrigues

Seria o “ide por todo o mundo uma ordem de Cristo específica e somente aos que ficaram em Jerusalém aguardando o cumprimento da promessa de At 1:8 ? Seria a  autoridade de Cristo e a grande comissão de Mt 28:18-20, limitada a determinados  feitos,  públicos,  locais  ou  épocas, no qual  Cristo  conclama a  “ir por todas as nações e fazer discípulos” ?  Ao longo da história, homens, confissões e religiões, ditas cristãs, não vem cumprindo a ordem do IDE ou ainda tem invertido esse sentido e, andado na contra-mão pregando um Vinde” a determinados locais e momentos, via de regra usando os meios de comunicação para propagar os nomes e endereços de seus “templos”  e “tempos” de  suas reuniões religiosas, invertendo também o papel da igreja e do cristão de testemunhas de Cristo, submetidos à vontade de Deus, como instrumentos na missão de “salvação, pela graça, por meio da fé, dom de Deus por obra do Espírito Santo”, ao que tratemos dos desvios e limites da missão:

 

a) NO TEMPO, sob duas conotações: Primeira, de que haveria épocas específicas para o ide e pregai o evangelho, visando a expansão desse. Historicamente, essa posição não é recente, motivando debates entre os reformadores quanto à forma de governo se presbiteriano ou congregacional, alegando que praticamente o mundo todo, que havia de ser salvo,  já estava evangelizado e, que vez ou outra, se necessário fosse, Deus usaria missionários específicos e, daí, as funções de apóstolos, profetas e evangelistas nas igrejas só justificam-se nesse contexto, como foi na igreja primitiva . Felizmente a ação do Espírito Santo e a eficácia da Palavra de Deus são eternas e soberanas e essa interpretação equivocada foi derrubada e verificada não só na igreja como na sociedade dos Séculos XVIII e XIX, com o poderoso mover do Espírito Santo influenciando todo o mundo nas diversas missões transculturais nos cinco continentes. A Segunda e, não menos perigosa tentativa de limitação da missão é a do tempo de um culto, onde a leitura e estudo da palavra perdem seus valores e ficam reduzidos a um  escasso período ou mesmo deixam de existir nas “liturgias”, nas quais aparecem e com maior importância atos que não deveriam fazer parte dessas, como a apresentação de celebridades, shows musicais e muitos anúncios, exceto o da  Palavra de Deus, às vezes e, também temporal, pela falta de interesse ou dedicação dos mensageiros no preparo da mensagem, interpretação bíblica e aplicação. Em casos mais graves, até a proibição do estudo da bíblia, semelhante aos motivos das teses de Martinho Lutero.

 

b) NO TEMPLO: Ao contrário do Velho Testamento, onde havia local específico para prestar cultos e sacrifícios a Deus, no Novo Testamento, com a morte de Cristo, o véu que separava o povo, de Deus, no templo, foi rasgado, sendo quebradas as barreiras da religião única e nacional (judaísmo) e dado livre acesso a todos os homens, inclusive aos gentios, a chegarem-se a Deus, através do sacrifício de seu Filho Jesus. Assim, Deus, que é onisciente, onipotente e onipresente, participa a missão aos salvos através do IDE, que é para a sua Igreja (ecclesia), que significa “chamados para fora”.

Essas máximas não nos permitem pensar ou agir de modo diferente, porém, muitas vezes ocorrem desvios, inércia e até a inversão do sentido da missão e função da igreja, contradizendo-a. Ser cristão significa aceitar ao chamado de Deus para testemunhar e IR aos que não o conhecem, não só com Cristo, mas aonde e naqueles a quem Esse já conhece e habita e quer que sua palavra seja ensinada, na certeza de que Ele vai à frente e se manifesta através de suas vidas, o verdadeiro templo do Espírito e, servi-lo mais do que com palavras e atos, mas com qualidade de vida, no seguimento e submissão total ao seu senhorio em busca de outros, atendendo as suas necessidades, em serviço e no mundo. Afinal, nessa missão três aspectos são confiados à igreja e estão todos integrados: A proclamação da palavra (kerygma) ; A vida em comunhão (koinonia) e, o serviço (diakonia),  a tempo e a fora de tempo, nos templos e  fora desses, como ocorria na igreja primitiva.  Há quem creia e interprete que esse modelo de igreja só coube em um lugar e época na história.  Seria esse o real sentido ou, mais uma tentativa de limitar a missão, por contrariar o atual sistema sócio, econômico e político; ou não atender aos fins egoísticos do homem, da maximização de poder, vantagens, lucros, interesses, próprios ou de suas associações; ou ainda uma mera fuga de responsabilidade, ainda que com bases racionais, emocionais, confessionais e até “teológicas” contrárias ao sentido bíblico de cristianismo e missão? 

Medite e aja no:

“Ide, fazei discípulos…, em todas as nações,ensinando-os a guardar todas as cousas que tenho vos ordenado.E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.”   

 

Bacharel em Teologia p/Sem.Teológico Presbiteriano Independente–São Paulo  

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