Autor: Daniel Costa
Efésios 5: 15 – 21
Qual de nós que nunca se viu perplexo e assustado com a sensação do fim dos tempos, por causa dos acontecimentos do mundo a nossa volta? Mas esta não é uma prerrogativa apenas de nossos dias. Aliás, não há nada tão antigo na história humana quanto a constatação de cada geração de que os seus dias são dias difíceis de serem vividos. Todas as gerações acham o seu tempo o mais difícil de ser vivido. A frase: “Ah, como é difícil esse nossos dias!”, talvez seja uma das mais antigas expressões de lamento da humanidade. Porventura, não foi com essa mesma intenção, de que os dias que se vive são dias difíceis, que o apóstolo Paulo utilizou, com muita propriedade, a sua afirmação: “Remindo o tempo, porque os dias são maus”.
Como se vê, a preocupação com a influência da cultura contemporânea sobre o comportamento das pessoas esteve sempre presente na história da humanidade e isto não é diferente em nossos dias. Mas na minha concepção a verdadeira preocupação não está em perguntar quão difícil são os dias que enfrentamos, se são piores e mais malignos do que os dias de nossos antepassados. O que de fato precisamos perguntar é se temos um senso crítico, se temos discernimento e sabedoria capazes de promover um processo seletivo e consciente em nossa cultura de valorização da vida? É importante perceber que o apóstolo Paulo não nega a malignidade dos seus dias, mas apela para o bom senso, para o poder da crítica e da escolha seletiva, para a sabedoria como instrumento para enfrentar a maldade dos seus dias e de construir uma relação melhor com a vida.
Na minha opinião, há muita malignidade em nossos dias sendo promovida: a violência, a cultura da permissividade, da exposição dos bumbuns de exportação, a corrupção, a fanfarra e o nepotismo na política atual, etc. Mas o que de fato incomoda, a verdadeira doença de nosso tempo, são pessoas vazias, sem valores estabelecidos, sem senso crítico, néscias. Estamos mais para tolos do que para sábios, quer nas nossas relações familiares, quer nas escolhas das relações de amizade ou nas reflexões filosóficas, no pensamento teológico e nas discussões ideológicas. Vivemos em um vácuo crítico cultural, por isso estamos tão expostos e susceptíveis à influência do comportamento contemporâneo que acaba por moldar-nos como quer. Somos todos nivelados por baixo, é um mundo banal. Para vivermos em tempos maus sem sermos influenciados por eles precisamos ser sábios e prudentes. Por isso o apóstolo nos exorta: “Vede prudentemente como andais”. Não é a malignidade do tempo que é decisiva, mas a forma como você escolhe andar nestes dias. E quais são as atitudes que precisamos tomar como gente de sabedoria capaz de desenvolver uma postura de reação à banalização de nossa cultura e a influência desses nossos dias maus?
Primeiro: não perca tempo com tolices. Invista somente naquilo que tem valor para a vida. O que você está fazendo agora é aquilo que realmente Deus tem para a sua vida? O apóstolo Paulo nos orienta afirmando: ”Remindo o tempo, porque os dias são maus.” A expressão “remir” aponta para um critério seletivo, um processo de escolha, mas para ter essa capacidade seletiva é necessário se ter uma escala de valores e importância na vida. Prioridades! O grande problema de nossa cultura é que nós perdemos tempo demais com coisas que são bobagens, são descartáveis, não são essenciais à vida e nem são frutos da convicção da vontade de Deus. Dias atrás uma pessoa muito importante em minha vida me disse que para se viver uma vida relativamente sem estresse, seria importante escolhermos melhor nossas batalhas, quer as interiores quer as exteriores, porque levamos muito tempo lutando contra coisas inúteis.
Uma Segunda atitude: não se deixe dominar por nada que te tire o bom senso e o equilíbrio. O apóstolo afirma nesse texto de Efésios: “E não vos embriagueis com vinho…” O valor da bebida aqui é o que menos importa. A palavra “embriaguez” aponta para dominação, aquilo que tem influência sobre a sua vida, que de alguma forma determina o seu comportamento, condiciona o seu ser. Por isso, o que é mais importante neste contexto, para entendermos a malignidade dos dias, não é a expressão “vinho” e sim a expressão “dissolução”. Esta palavra significa divisão, separação, aponta para a fragmentação da vida e do ser. O que Paulo está dizendo é não se deixe dominar, levar por nenhum comportamento ou atitude que traga separação em você mesmo, que fragmente a sua vida mesmo que este seja o comportamento da maioria das pessoas. Esse é um sério problema de nossos dias: a cultura da massificação. Um espírito não embriagado, um espírito livre, não condicionado é o que precisamos ser; capazes de agir de posse de nossas convicções e domínio de nossas faculdades mentais. As nossas decisões não podem ser fruto da pressão do meio ou imposição dos outros. Nada pode nos dominar e, se alguma coisa tiver domínio em nossa vida então, que seja o Espírito de Deus porque nele há a promoção da vida.
Por fim, desenvolva relacionamentos saudáveis de amizade e amor. Se há alguma coisa na qual eu devo gastar tempo é nas minhas relações interpessoais: marido e mulher, pais e filhos, amigos, patrões e empregados. Ser sábio é ser capaz de desenvolver relações cuja marca seja o amor, a dignidade e o respeito para com o outro. Um dos mais fortes sinais da maldade desses nossos dias é o desrespeito pela pessoa humana. Eu fico perplexo como uma cultura que celebra tanto a brincadeira e a alegria, como a nossa e, se importe tão pouco com a felicidade do próximo, com o respeito à vida do outro, com relacionamentos saudáveis e sem egoísmo. Ser sábio nesses nossos dias é ser capaz de viver saudavelmente os nossos relacionamentos. É ser capaz de promover a vida, o crescimento do outro, é ver no outro a face de Cristo, é ter no peito o desafio de viver o último conselho do apóstolo Paulo neste contexto: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Deus te de sabedoria para viver nesses dias maus.
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