Autor: Misael Nascimento
Esta reflexão sobre sexualidade e homossexualidade, baseada nas Escrituras, é feita a partir de uma análise das perspectivas da criação, da queda e da redenção.
A perspectiva da criação
Os dois primeiros capítulos da Bíblia fornecem os modelos da criação, que refletem a intenção divina no que diz respeito a toda a ordem da existência. Deus criou, de modo geral, o universo, e especificamente, a terra com todos os tipos de seres que nela habitam, inclusive o homem. Naquele ato soberano, os gêneros sexuais foram claramente estabelecidos: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus os criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.25 – tradução do texto hebraico).
Por isso mesmo é vital que entendamos a sexualidade como dádiva divina, cujo desfrute encontra sua plenitude e satisfação na relação de aliança conjugal, entre marido e mulher (Gn 2.21-25). A relação sexual entre esposo e esposa representa muito mais do que contato físico. Trata-se do ponto alto de uma união efetiva e espiritual, gerando a fusão em profundidade de duas vidas, aquilo que a Bíblia chama de “uma só carne” (Gn 2.24). Essa dimensão é tão profunda e misteriosa, que reflete o relacionamento místico existente entre Cristo e a sua Igreja (Ef 5.31-32).
A sexualidade diz respeito à própria identidade humana. Cada indivíduo interage com o mundo de forma sexual: como homem ou como mulher. E mesmo os solteiros podem expressar de forma saudável a sua sexualidade nos vínculos familiares, amizades e companheirismo fraterno, sem a necessidade da prática da cópula ou coito conjugal (Mt 19.12; 1Co 7.7-8; 32-34). As idéias correntes, de que o ser humano, a fim de realizar-se, precisa manter relações sexuais freqüentes, ou de que o acasalamento é uma necessidade fisiológica, não encontram fundamento nas Escrituras.
O cristianismo bíblico celebra a sexualidade na devida medida, recusando a banalização imposta pela sociedade hodierna, que define homens e mulheres como sendo meros objetos de consumo e desvaloriza os vínculos de compromisso e unidade.
Observe-se ainda que a sexualidade foi concebida para ser experimentada e administrada de forma bipolar, ou seja, masculina ou feminina. Não há brechas nos textos, tanto do Velho quanto do Novo Testamentos, para a expressão do homossexualismo. Deus criou os seres humanos para a heterossexualidade.
Por último, a Bíblia condena a prática da impureza (porneia, raiz da palavra pornografia), utilizando diversos termos para identificá-la: sensualidade, imoralidade, adultério, sodomia, malícia, cobiça, incontinência, prostituição e lascívia (Rm 1.27; 1Co 6.9-11, 18; Ef 4.31, 5.3-5; 1Ts 4.3-5). Todas essas práticas exigem arrependimento e abandono do pecado (Jo 8.11; Ef 5.3-17; Ap 21.8).
A perspectiva da queda
O relato da queda, encontrado em Gn 3, nos mostra que a humanidade decaiu do estado de pureza original, mergulhando em profunda depravação espiritual e, conseqüentemente, moral. Tal desvirtuamento é claramente atestado no Novo Testamento, nas palavras do apóstolo Paulo:
Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão (Rm 1.25-27).
Nesse sentido, de acordo com a Escritura, com relação à sexualidade, foram desenvolvidas diversas práticas pecaminosas:
- A homossexualidade (a afinidade sexual somente para indivíduos do mesmo sexo – Lv 18.22).
- A bissexualidade (comportamento sexual dirigido aos dois sexos).
- A heterossexualidade incontinente (comportamento sexual dirigido ao sexo oposto fora dos parâmetros da pureza e santidade – a continência e a prática do ato conjugal somente dentro da aliança do casamento – Êx 20.14).
- A bestialidade (orientação sexual dirigida a animais – Lv 18.23).
- O incesto (orientação sexual dirigida a parentes de primeiro grau – Lv 18.6-16).
- Quaisquer outros tipos de porneia (Gl 5.19).
A consideração da Bíblia como Palavra de Deus, infalível e inerrante, exige dos cristãos a concordância com os juízos acima, por mais que isso pareça ultrapassado ou até mesmo “politicamente incorreto”, para a sociedade atual.
Idéias correntes sobre o homossexualismo
A vivência homossexual tem sido considerada, cada vez mais, como algo aceitável. A revelação bíblica, no entanto, define o homossexualismo como pecado (ato contrário à Lei Moral) e disfunção (comportamento iníquo). Nesse aspecto, ela contrasta com algumas idéias muito populares.
Três posicionamentos são apresentados à comunidade global, alinhavados cuidadosamente na estrutura da nova ética sexual.
Idéia 01: A homossexualidade é válida porque é uma prática antiga, tanto do homem quanto de outras espécies animais.
Idéia 02: A homossexualidade é uma orientação sexual determinada geneticamente.
Idéia 03: A homossexualidade é uma opção sexual neutra, moralmente aceitável.
Tais pontos de vista são reforçados pelas opiniões e práticas vivenciadas por celebridades e publicadas nas diversas mídias (rádio, TV, publicidade, Internet, DVDs, vídeos, revistas e jornais).
Algumas respostas
Sem a pretensão de esgotar o assunto, são propostas respostas simples (mas nem por isso insatisfatórias) aos três argumentos listados acima.
Quanto à antigüidade do homossexualismo, a prática homossexual estava presente já no cotidiano da cidade de Sodoma (Gn 19.1-5), dezenove séculos antes da vinda de Jesus Cristo. Desde aquele tempo, a relação sexual entre homens passou a ser identificada como sodomia. O fato de a prática ser antiga não a torna eticamente válida. Tal como mostrado nos textos do Novo Testamento, listado no início desse estudo, a sodomia é considerada como pecado passível de julgamento divino. A prática do homossexualismo por outras espécies animais, ao invés de confirmar sua legitimidade, apenas revela a extensão e profundidade em que a natureza foi afetada pela depravação decorrente da queda (Gn 3.17-18; Rm 8.19-23).
Quanto aos “fundamentos genéticos” do homossexualismo, apesar do empenho de pesquisadores e instituições que apoiam a causa homossexual, os estudos das ciências biológicas não comprovaram nenhum tipo de propensão genética relacionada à homossexualidade ou qualquer outra prática sexual pecaminosa (há quem defenda, por exemplo, que a tendência humana ao adultério é também configurada geneticamente). Mesmo as pretensas “provas” utilizadas pelos defensores de tais pontos de vista são meras hipóteses, formulações não comprovadas empiricamente e, portanto, inválidas do ponto de vista científico.
Quanto ao homossexualismo como opção sexual neutra e aceitável, todas as afirmações bíblicas citadas nas primeiras seções deste trabalho retratam o homossexualismo como uma escolha moral, hábito adquirido consciente ou inconscientemente, prática contrária à vontade de Deus e ofensiva à integridade do indivíduo.
Influências psicossociais, fases e fantasias da infância e adolescência
O homem é também um ser social, absorvendo (consciente ou inconscientemente) crenças e comportamentos provindos da realidade que o cerca. Assim sendo, podem ser considerados motivadores tanto do homossexualismo quanto de outras disfunções:
- Certas vivências familiares, com suas conseqüentes marcas na psique, notadamente a confusão quanto aos papéis conjugais, a ausência dos pais ou a violação sexual na infância, dentro dos limites do lar.
- Influências de colegas de infância, especificamente jogos sexuais de pré-adolescentes e adolescentes.
- Uso de pornografia.
- Absorção acrítica dos conteúdos da mídia contemporânea.
Tais influências não são, no entanto, determinantes. Um menino que demonstre trejeitos femininos ou identifica-se, em determinada fase de seu desenvolvimento, com objetos ou grupos de meninas, não deve ser considerado homossexual, uma vez que, à medida em que amadurece, pode ter aflorada e confirmada a sua masculinidade. Da mesma forma, meninas (principalmente criadas entre irmãos) podem gostar de brincadeiras ou atividades tidas notadamente como masculinas, envolvendo-se em grupos sociais essencialmente de meninos, até o momento em que manifesta-se a sua feminilidade.
Crianças desenvolvem fantasias absorventes e aparentemente determinantes. Isso sempre foi verdade no ambiente educacional, tal como se percebe nas clássicas “paixões” que alunos nutrem por seus professores. A sociedade pós-moderna, tecnológica e orientada pela mídia exacerba este fenômeno e cria ainda uma distorção, tornando (infelizmente) comum, por exemplo, a situação em que uma menina afirme estar “apaixonada” por uma apresentadora de televisão. Destarte, declarações efusivas de “amor” e diversos outros desdobramentos comportamentais aparentemente obsessivos podem sinalizar fases que serão abandonadas à medida em que o indivíduo avança em sua caminhada de crescimento integral.
Homossexualidade e intersexo
A homossexualidade difere do intersexo, que é o estabelecimento genético de múltiplos padrões sexuais e que produz três categorias disfuncionais, o herm, pessoas com formações de testículos e de ovários ao mesmo tempo, o ferm, pessoas com ovários e alguma expressão da genitália masculina e o merm, indivíduos com testículos e algo da genitália feminina. Os portadores de intersexo (um em cada 1,5 mil) são submetidos, na maioria dos casos, a intervenções cirúrgicas pretensamente corretivas e enfrentam grandes dificuldades de definição de gênero sexual na idade adulta. Trata-se, neste caso, de uma anomalia genética que nada tem a ver com a prática homossexual.
A perspectiva da redenção
As duas perspectivas acima, da criação e da queda, orientam-nos a enxergar o homem tanto como portador da imagem de Deus quanto como réu diante de sua justiça, carente de sua misericórdia e redenção. Como cristãos, não nos escandalizamos, nem desistimos do ser humano. Sabemos que cada pessoa possui maravilhosos potenciais de realização e virtudes recomendáveis, ao mesmo tempo que defeitos e traços, tanto de caráter quanto de comportamento, que necessitam de transformação ou aperfeiçoamento.
Uma vez que fomos chamados para fazer discípulos, existimos para compartilhar com todos a maravilhosa revelação de Deus Pai como único Redentor, Cristo como único Senhor e Salvador, e o Espírito Santo como santificador daqueles que crêem. Nos abrimos para acolher a todos os que desejarem conhecer estas boas notícias de salvação, desejosos de sermos úteis nas mãos de Deus para evangelizar, discipular e edificar vidas.
O contato do cristão com o homossexual
O crente trata a todos os seres humanos com amor incondicional e humildade, reconhecendo, em si mesmo, as evidências do pecado que merece a ira divina e da misericórdia que lhe foi oferecida em Cristo. Assim ele, sua caminhada é pautada por alguns compromissos:
- Todos as pessoas devem ser tratadas com respeito, amor e dignidade.
- A Igreja de Cristo deve fornecer, para todos os dela participarem, conteúdos de orientação sexual sadia, baseada em fatos comprovados cientificamente e nos ensinos da Palavra de Deus.
- O indivíduo que apresente indícios de tendências, atitudes ou comportamento homossexual não pode ser, em hipótese alguma, discriminado ou diminuído, seja por palavras, posturas ou iniciativas de qualquer cristão. No tratamento de questões relacionadas a tal pessoa, o crente não utiliza designações ou títulos pejorativos.
- O cristão é discipulador e não se sente ameaçado pelo pecador. Pelo contrário, com amor, firmeza e, acima de tudo, dependência do Espírito Santo, busca informá-lo, ajudá-lo e encorajá-lo a encontrar sua identidade nos projetos da criação (Gn 1 e 2) e da redenção (Jo 3.16 e Rm 15.7).
- A Igreja precisa valorizar e fornecer suporte às famílias, para implementação de iniciativas de aperfeiçoamento da crença, caráter e comportamento de seus integrantes.
- As ações tanto do cristão quanto da igreja, ao lidar pastoralmente com questões relacionadas à sexualidade, devem ser pertinentes a cada situação, sempre orientadas biblicamente e com oração, voltadas para o bem do indivíduo e sua família.
- A igreja possui respostas suficientes sobre a salvação, mas não sobre todas as complexidades do comportamento humano. Demandas que extrapolem a competência da igreja devem ser encaminhadas para outros especialistas, de acordo com as necessidades específicas.
Liberalismo, farisaísmo, preconceito e suas conseqüências
Fica claro, diante do exposto, que esta reflexão não é liberal em suas concepções relacionadas à sexualidade. Ao mesmo tempo em que confirma a visão do sexo como dádiva, ela declara sua adesão aos limites estabelecidos pela ética das Escrituras judaico-cristãs.
Por outro lado, esta concepção não é legalista, entendendo que o ser humano é acolhido, redimido e transformado unicamente por misericórdia e fé, afirmando que “todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 23-24). Como cristãos autênticos, descendentes espirituais dos reformadores do século XVI e dos apóstolos do Novo Testamento, confirmamos o evangelho do amor incondicional revelado pelo Verbo, o Filho do Deus vivo (Jo 1.1-14).
Como filhos de Deus, repudiamos todo e qualquer preconceito ou discriminação. Mesmo considerando os pecados de forma bíblica, sem meios-termos, declaramos a dignidade de cada indivíduo, comprometendo-nos a respeitá-lo, independentemente de sua idade, raça, cor, posição social, religião ou prática.
A desconsideração de tais princípios conduz ao fracasso ministerial. Ao abraçarmos o liberalismo, o farisaísmo ou o preconceito, somos inconsistentes com nossa missão, deixando de ser eficazes na realização de nosso chamado. Se falhamos na prática da missão, deixamos de ser bênçãos para as famílias da terra (Gn 12.3), deixamos de salgar e não prestamos para mais nada (Mt 5.13). O resultado de longo prazo de tal postura é o fechamento de portas, tal qual se verifica em muitas igrejas históricas da América do Norte e Europa. Valiosas edificações, obras-primas arquitetônicas, agora vazias, transformadas em museus, clubes e condomínios, igrejas que se esqueceram de profetizar, de amar e de acolher com amor. Os princípios da Palavra de Deus são valiosos tanto para a edificação da fé quanto para o sucesso em todos os âmbitos da existência.
Cabe a cada comunidade cristã ser um oásis em meio ao deserto, um porto seguro no meio da tempestade. Isso só é possível com um compromisso firme com as Escrituras, esperança, dedicação e muito amor.
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