Se Deus é soberano, por que fazer alguma coisa?

Autor: Matt Perman

A soberania de Deus, tal como estou convencido de que a Bíblia ensina, significa que Deus preordenou tudo o que acontece. Antes da criação, Deus planejou e decidiu (“ordenou”) toda a direção da história humana até os mínimos detalhes. Todas as circunstâncias no tempo são portanto a evidência externa do plano de Deus o qual Ele decretou na eternidade.

À luz disto, uma objeção comum é: “Se Deus já decidiu o que vai acontecer, então por que eu devo fazer alguma coisa? Nós, de qualquer jeito, não controlamos a história. Portanto, apenas nos acomodaremos num assento e não faremos nada”. O oponente está dizendo que o resultado lógico da crença na absoluta soberania de Deus é o que nós chamaremos “fatalismo indiferente”: a visão de que nós não devemos fazer nada, uma vez que Deus a tudo controla.

Como responderemos à objeção do fatalismo indiferente? Por que não acreditar na soberania absoluta de Deus leva ao fatalismo indiferente? E se Deus é absolutamente soberano, como nossas escolhas podem ter um sentido real? São questões muito boas que uma compreensão própria da soberania de Deus responderá.

Primeiro nós precisamos entender a diferença entre fatalismo e o que é chamado de compatibilismo. Compatibilismo é a visão de que Deus é absolutamente soberano e ainda assim nossas escolhas têm sentido real e somos responsáveis por elas. É o que creio que a Bíblia ensina, e é muitas vezes chamando “calvinismo”. O fatalismo, de outra sorte, ensina que, aconteça o que acontecer, o que você escolha ou faça, as coisas produzirão o mesmo resultado. Por exemplo, se está determinado que Bill vai obter um “zero” na sua prova de amanhã, então não importa quão duro ele tenha estudado, ou quão bem ele saiba a matéria: ele vai fracassar. Suas escolhas não vão realmente afetar o que vai acontecer.[1]

A compatibilismo, em contraste com o fatalismo, diz que nossas escolhas realmente afetam o futuro, e que se uma escolha diferente tivesse sido feita, o futuro teria sido diferente. Nesse ponto de vista, se Bill não estudar, ele vai fracassar. Mas se ele estudar duro, então seu estudo será o meio que lhe fará obter uma boa colocação. Em consideração à soberania Do Deus, isso significa que Deus não apenas ordena os fins (por exemplo, uma boa classificação para Bill) e então dizer “isso vai acontecer, não importa como”. Não, Deus também ordenou os meios de Seu plano final (por exemplo, Deus ordena que Bill vá estudar tal como os meios da obtenção de uma boa colocação que Ele decretou). Nossas decisões são como vínculos na cadeia de meios ordenados por Deus para ocasionar Seu plano final. Se decisões diferentes foram feitas, as conseqüências serão diferentes. Mas Deus trabalha para verificar que os meios que Ele tem ordenado certamente ocorrerão para que nenhum de Seus propósitos possa fracassar. Isto faz das decisões humanas realmente significativas e vitais.

Deveria ser agora mais evidente por que a absoluta soberania de Deus não remonta à indiferença do fatalismo. Em resumo, Bill deve estudar porque são esses os meios que Deus usa para perfazer sua boa colocação. Se Bill consegue boa colocação, então seu estudando esteve tão predestinado pelo plano de Deus como sua boa classificação. Todas as boas escolhas que alguém faz são definitivamente causadas por Deus; todas as más escolhas são permitidas de bom grado por Deus como uma parte de Seu plano. Além disso, Deus perfaz Seus decretos preservando de certo modo nossa responsabilidade e não viola nossa vontade (isso será explicado mais daqui a pouco).

A segunda razão para a indiferença do fatalismo é sua auto-contradição. A pessoa que é fatalisticamente indiferente estará dizendo: “Porque Deus decide tudo o que vai acontecer, eu pararei de fazer escolhas”. Mas a escolha de parar de fazer escolhas é em si mesma uma escolha!

Deus nos fez de modo tal que somos seres tomadores de decisão. Sempre faremos um escolha ou outra em dada situação – não podemos ajudar mas para fazer escolhas quando confrontado com alternativas (não temos escolha nesse caso!). Por exemplo, quando confrontado com a opção de comer uma torta qualquer ou um bolo, seria impossível para mim não fazer um tipo de escolha. Eu teria ou a torta, ou o bolo, ou nenhum. Se eu me recuso a fazer uma escolha, eu ainda estou fazendo uma escolha – a escolha de não comer. O fatalismo indiferente é falso porque é impossível – ele se auto-destrói numa auto-contradição. Impossibilidades são totalmente inaplicáveis, porque tentar propor o fatalismo indiferente é negá-lo. Para esta razão isto não pode ser a aplicação lógica de opinião em soberania absoluto Do Deus.

Evidentemente, a soberania de Deus não remove a necessidade e a realidade das nossas escolhas. Mas se uma pessoa “modifica” sua posição de fatalismo indiferente e tenta usar a soberania de Deus como uma desculpa para permanecer em pecado?

Alguém poderia tomar a soberania de Deus e (in)aplicá-la nesse caminho. Isso seria pecado. Mas um ensino não se torna falso tão-somente porque ele foi mal aplicado. Deveríamos chegar também à conclusão de que a confiança da segurança eterna e a justificação pela fé só seriam falsas porque algumas pessoas tentam usá-las como desculpa para o pecado? (veja em Romanos 6:1-2 como Paulo responde à inaplicabilidade dessas verdades) Um pessoa pode decidir não buscar a Deus ou não O obedecer porque “tudo está submetido a Ele, de qualquer jeito”. Mas perfaz indiferença e passividade o resultado lógico de crer na soberania de Deus? A crença na soberania de Deus não poderia apenas ser tomada tão facilmente em outra direção e devidamente aplicada para encorajar a obediência zelosa, ao invés de um fatalismo indiferente? Uma vez que nós devemos fazer um escolha ou para viver justamente ou viver pecaminosamente, em que bases enlata se diz aquele soberania Do Deus conduz logicamente para um escolha de ser humano em vez de de sinfulness da preguiça um escolha para godliness humano? Paul dizer alguma coisa aplicável aqui: “e por que não dizer (como nós estamos caluniosamente relatou e como algum afirmar aquilo nós dizemos), “há males que vêm para o bem? É certa sua condenação” (Romanos 3:8).

Em vez de dizer “Deus é soberano, portanto Eu não me preocuparei em buscá-Lo e fazer o que é correto” poder-se-ia dizer com igual coerência lógica que “Deus é soberano, portanto eu O obedecerei zelosamente em todo tempo porque eu sei que Ele certamente abençoará minha obediência com ótimos frutos. E sei que Ele me susterá vitoriosamente com Sua força e perseverança, uma vez que Ele não está somente no controle mas também é um Deus santo e piedoso, que ama a justiça.” Um caminho ou outro será escolhido. Nós não podemos não escolher.

Mas como são feitas as escolhas? Responder a essa pergunta nos levará à real questão em jogo. Como seres humanos, nós fazemos escolhas segundo nosso estrito desejo momentâneo – nós escolhemos o que pensamos ser a melhor opção no momento. Isso quer dizer que nossas escolhas revelam nosso caráter, uma vez que é nosso caráter quem produz nossos desejos e, portanto, determina o que consideramos a melhor opção. Um bom caráter geralmente desejará boas coisas, e um mau caráter desejará coisas más. O que nós escolhemos, portanto, revela a condição de nosso coração.

Portanto, se nós usamos a soberania de Deus como uma desculpa para pecar, isso revela a iniqüidade em nosso coração. Se aplicamos corretamente essa doutrina, no entanto, e vemos a liberdade que ela nos dá para obedecer diligentemente, ela revela a bênção de que Deus está trabalhando em nossos corações. Se tentamos usar e usamos a soberania de Deus como desculpa para pecar, precisamos ir a Ele e nos arrependermos ao invés de concluir que Deus não é realmente soberano, afinal.

A soberania de Deus é, realmente, uma doutrina grandemente libertadora para nós. Ela nos liberta para obedecermos com alegre confiança, segurança e paz. Tal como um crente, nós devemos pensar assim: “Uma vez que Deus é soberano, a não obediência pode fazer mal ao meu relacionamento com Deus e, portanto, a obediência nenhuma, não importa quão “bobo” isso seja ao mundo e não importam as conseqüências, isso no final pode fazer mal a mim”. Não é dessa maneira que Paulo usou a doutrina em Romanos 8:28-36? Ele disse no verso 28 e então procedeu à explicação de que a segurança que ela nos dá através do zelo, da obediência de risco porque “nada nos separará do amor de Cristo”.[2]

Olhe a maneira pela qual Paulo aplica a soberania de Deus à nossa obediência em Filipenses 2:12-13: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor, porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” De acordo com Paulo, o fundamento de nossa obediência é o fato de que Deus é no final das contas Quem coloca em nós a boa vontade e o efetuar a obediência. Paulo não disse que “Deus põe a boa vontade e trabalha em você, portanto fique na cama”. Muito pelo contrário, ele viu a soberania de Deus como uma razão profunda e animadora para a obediência de risco!

Tendo entendido como nós fazemos as escolhas, estamos agora numa posição de entender como Deus pode controlar todas as coisas, e ainda conduzir Seu plano de modo a preservar a responsabilidade e liberdade humanas. Provérbios 16:9 diz que “O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” Este versículo parece afirmar a liberdade humana e o controle absoluto de Deus por cima de nossa liberdade – ao mesmo tempo. Como podem ser compatíveis?

Como vimos anteriormente, nós escolhemos sempre segundo nosso desejo – sempre escolhemos a opção que preferimos. Isso faz cada escolha determinada (está determinado que eu vou escolher a opção que eu acho preferível), livre ainda (uma vez que não estamos sendo forçados a escolher, mas estamos escolhendo o que nós queremos).[3] Além disso, a ação de escolher está sempre acompanhada, subconscientemente ou conscientemente, pelo processo de considerar todos os aspectos da situação e pelo nosso desejo de realizar a opção que mais queremos. Uma vez que nós percebemos qual opção preferimos, sempre decidiremos por aquela opção, então. Por exemplo, quando dada a opção entre chocolate ou bolo branco, eu não posso e não determino espontaneamente que desejarei o bolo branco. Antes, eu reconheço ponderadamente que meu grande desejo é o bolo branco. Nossas escolhas são livres e são realmente nossas porque consideramos todos os aspectos da situação por nós mesmos e vimos à conclusão acerca de qual escolha ser melhor através de nossos próprios processos mentais. Assim, “a mente do homem planeja seu caminho”

Deus, no entanto, pode ainda estar no final das contas no controle e assim “dirigir nossos passos” regulando nossas situações e assim as informações sobre as quais baseamos nossas escolhas. Uma vez que sempre escolheremos a opção que nossas mentes encontram como a mais preferível à luz da situação, Deus pode simplesmente fazer as circunstâncias de modo tal que essa opção a qual achamos ser a preferível (e por isso a opinião que escolheremos) seja a escolha que Ele ordenou para realizarmos. Nossa escolha é livre e realmente nossa uma vez que é um resultado de nosso próprio raciocínio e processo mental (“a mente do homem planeja seu caminho”), mas Deus ainda a controla porque Ele ordenou e conduziu para que as informações de nossos processos mentais fossem a base para verificarmos que a escolha que fazemos é a que Ele desejou (“o Senhor dirige seus passos”).

Se alguém com quem nós estamos conversando tenta sempre usar a soberania absoluta de Deus como uma desculpa para não buscar a Deus ou Lhe obedecer, a solução não é dizer que “Deus não é realmente soberano – você tem um livre-arbítrio para escolher contra os propósitos eternos de Deus”. Os pecadores, a Bíblia diz, fogem de Deus por natureza e procuram uma desculpa qualquer para justificar sua fuga. Uma tentativa de usar a soberania de Deus como desculpa para continuar em pecado revela as pessoas pecadoras e a necessidade da graça de Deus. A soberania de Deus não é a causa da indiferença – o pecado é a causa. Não atribuímos a culpa a quem ela não pertence.

Então, o que devemos fazer não é apelar ao “livre-arbítrio” numa tentativa de convencer a pessoa de que ela deva obedecer, mas apontar-lhe seu pecado, dobrar nossos joelhos e orar: “Deus, Eu sei que controlas todas as coisas. Portanto eu oro a Ti para que mudes o coração do meu amigo e o faça buscar a Ti. Por favor, dá-lhe um desejo irresistível por Ti.” Deus é a resposta para uma fuga de Deus pelo incrédulo, não o livre-arbítrio. Apelar para seu “livre-arbítrio” não pode ajudar, uma vez que seu “livre-arbítrio” não pode se submeter a Deus além de Sua graça soberana (Romanos 8:7; João 6:44,65). A soberania de Deus não é problema deles, é sua única esperança.

Concluindo, eu tive um experiência no verão passado que talvez dê uma luz a essa questão. Estava no topo do Monte Pike no Colorado. As nuvens acima eram de cor preta e ameaçadoras, mas eu não estava muito consciente do perigo. Estava gostando da vista do cume da montanha numa área escancarada, longe de qualquer abrigo. De repente meu cabelo levantou todo. Isso sinalizou a mim de que um relâmpago ia cair bem perto a mim, e logo. Eu não tinha nenhum controle sobre isso, se iria acertar ou não, e eu sabia. Soube também que não havia nenhum lugar para procurar abrigo do relâmpago. Não havia nem permanecido ali ainda e disse: “Eu não estou no controle da situação, então que importa se ele vai me acertar ou não – não me interessa.” Não – eu estava assustado e corri até um abrigo, mesmo sabendo que podia não conseguir. Sabendo ser incapaz foi a razão pela qual eu procurei refúgio.

É uma situação parecida com a soberania de Deus. Nós não estamos no controle – Deus está. Mas saber disso pode ser talvez o sentido de Deus usar meios para mover um santo ocioso a agir. A soberania de Deus, no entanto, é ligeiramente diferente da minha experiência do relâmpago. Se Deus principia em nós um escape para refúgio em Sua misericórdia e bondade, essa não é uma esperança fugaz. Ele nos trará com segurança a Si mesmo.

NOTAS

1. Veja Lowell Kleiman e Stephen Lewis, Filosofia: Uma Introdução Através da Literatura, (Paragon House: Nova Iorque, 1992), p. 554.

2. Se somos cristãos obedientes, podemos estar sempre satisfeitos completamente na esperança que a divina providência nos dá – mesmo quando experimentamos momentos difíceis nessa terra. O desejo íntimo de um cristão é que eles se deleitem nisso e estejam plenos na glória de Deus e adorem exaltá-Lo no mais alto do céu. O maior desejo de Deus, por outro lado, também é o de ser exaltado no mais alto do céu. E Ele é mais glorificado quando Seu povo se satisfaz Nele. Uma vez que Deus é soberano – tão bem quanto infinitamente desejoso por Sua própria glória – Ele não deixará Seu prazer em ser glorificado fracassar. Realmente, Ele trabalha todas as coisas em conjunto para Sua maior glória, o que é nosso maior bem. E isso significa que um deleite de um cristão obediente por um dia apreciar a glória de Deus ao máximo possível não pode ser decepcionado!

3. Que ocorre quando você escolhe, por exemplo, estudar para uma prova quando você na verdade quer ir ao cinema à noite? Nesse caso, você desejou os benefícios, de longo prazo, da boa nota que o estudo lhe trará, mais do que o prazer de curto prazo que um bom filme trará. Assim quando opta pelo estudo, você ainda está escolhendo o que prefere, no final das contas.

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Traduzido por: Cleber Olympio
Fonte: http://www.militar.cristao.nom.br

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