Sexo e a Bíblia

Autor: Francisco Carlos Côrtes Alves

Um homem conceituado na elite política do país tenta seduzir uma bela mulher; rechaçado, ele a violenta, depois a abandona, e a tragédia é instaurada para ambos. A esposa de uma autoridade do governo tenta em vão seduzir um jovem, auxiliar do marido, depois o acusa de tentativa de estupro, causando sua prisão. Uma certa cidade, exaltando sua liberdade sexual, volta-se para a perversão, com homens e mulheres homossexuais praticando ostensivamente os seus desvios, exigindo o direito de fazê-lo publicamente. Por acaso, são fatos que aconteceram hoje, e leremos nos jornais amanhã? Não!!!
Embora pareça que os fatos acima nos sejam contemporâneos, são todos tirados da Bíblia. Livro que nunca perdeu a atualidade, ela poderia ser chamada de “o melhor compêndio sobre sexo”.

Nenhum livro trata do assunto com mais franqueza. Como história, a Bíblia registra sem deturpação as aberrações sexuais de seu tempo. Como biografia, recusa-se a “passar por alto” sobre os pecados sexuais de seus heróis, mas os expõe e mostra suas conseqüências com clareza. Como filosofia, ela estabelece os imutáveis padrões de Deus.

Neste tempo da “sociedade permissiva”, ou como denomina o apóstolo Paulo, em 1Timóteo 4.1, “últimos tempos”, ouvimos muitas vozes sobre esse importante tema que é o sexo – a maioria delas confusas. Creio que é chegado o momento de ouvirmos novamente as advertências bíblicas sobre as quais foram construídos os padrões morais judeu-cristãos. Estou convencido de que a educação sexual é uma questão palpitante. Sem orientação moral, ela pode ser desastrosa.

A Bíblia não ensina que o sexo em si é pecado. Longe de ser pudica, ela enaltece o sexo e sua prática correta, apresentando-o como criado por Deus, ordenado por Deus, abençoado por Deus. Torna-se claro que o próprio Deus implantou o magnetismo físico entre o homem e a mulher por duas razões: para a propagação da raça humana e para exprimir aquele amor entre o marido e a esposa que faz dos seres “uma só carne”. Essa união é tão importante quanto o mandamento de “sede fecundos, multiplicai-vos”.

A Bíblia deixa claro que o mal, quando relacionado com o sexo, não significa o uso de algo intrinsecamente corrupto, mas o uso errado do que é puro e bom. Ela ensina claramente que o sexo pode ser um servo maravilhoso, mas um terrível senhor. Ele pode ser uma força criadora mais poderosa que qualquer outra na promoção do amor, do companheirismo, da felicidade – ou pode ser a mais destruidora de todas as forças da vida.

Os mandamentos bíblicos não são proibições destinadas a retirar toda a alegria da vida; são placas de sinalização postas pelo próprio Deus para proteger nossa felicidade e ajudar-nos a tornar nossa jornada tão livre de tragédias quanto possível.

Todos os mandamentos de Deus são para o nosso bem. Tal verdade não é muito divulgada nos dias atuais, quando se proclama uma “revolução sexual”, quando induções ao sexo ilícito nos assaltam constantemente através da televisão, e pelos jornais e revistas.

Em muitas igrejas podemos assistir a cultos o ano inteiro sem ouvir uma só vez a palavra “pecado”. São muitos os líderes e professores religiosos que se tornaram presas deste pensar permissivo, o qual sustenta que não existem absolutos, que o certo e o errado de um ato dependem de circunstâncias de tempo e lugar. E atos tais como o sexo pré-conjugal ou extraconjugal são considerados justificados “se não prejudicar ninguém”. Se líderes religiosos pensam assim, não é de se espantar que a juventude esteja confusa, e que a autoridade moral da igreja esteja se desgastando quase a ponto de desaparecer.

Para compensar os efeitos desastrosos dessa nova permissividade que nada mais é do que “a velha imoralidade atualizada”, precisamos de uma revigorante dose de moralidade bíblica. Este mandamento nunca foi revogado nem abrandado. Ninguém o quebra. Se bem que muitos se quebram contra ele.

Numa orgia sexual nunca igualada à que temos nos tempos modernos, precisamos ter a sensatez de dar atenção às lições da História. Ela ensina, sem sombra de dúvida, que a decadência de uma nação decorre da decadência de seus padrões morais. O Teólogo Paul Tillich, em seu livro Morality and Beyond, declara categoricamente: “Sem o imperativo moral, cultura e religião se desintegram”. E o sociólogo Pitirim Sorokim advertiu que o “grupo que tolera a anarquia sexual está pondo em perigo a sua própria sobrevivência”. Os profetas de Israel bradavam insistentemente ao povo israelita, que vivia em sociedades dadas a deuses pagãos, que se guardassem da imoralidade. Aos jovens da nação os professores relatavam constantemente as histórias dos personagens bíblicos surpreendidos no que se podia chamar de “situações sexuais”, incutindo-lhes a lição de que o pecado sexual só pode fazer do forte, fraco; do sábio, tolo; do grande, ordinário.

José foi um exemplo da nobreza da castidade. O belo e jovem servo de Potifar resistiu às seduções da esposa deste, e preferiu ser encarcerado a trair seus ideais. Daniel ousou clamar contra as imoralidades da corte de Belsazar, e diante do rei profetizou o fim do seu reino. Ele, ministro de três reis e dois impérios, se tornou um dos maiores estadistas de todos os tempos.

A Bíblia relata também a história de homens que seriam grandes, mas que permitiram que a fraqueza moral manchasse a imagem deles. Sansão, o mais forte dos homens, cuja perdição começou com a luxúria, terminou a vida em um trágico suicídio. Salomão, o mais sábio de todos os homens, não obstante, maculou sua vida em libertinagem com inúmeras concubinas. O mais trágico de todos talvez tenha sido Davi, o mais importante rei de Israel. Seu angustiado sentimento de culpa pelo adultério com Bate-Seba foi expresso na oração mais triste de toda a literatura: “Compadece-te de mim, ó Deus. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.1-3).

Tristram Coffin diz em seu livro The Sex Kick: “Os amantes modernos aprenderam a fornicar, mas não a amar. Os anticoncepcionais, preservativos e antibióticos colocaram o sexo na área ‘segura’, reduzindo os temores da gravidez e das doenças venéreas”. Mas ninguém inventou um diagrama para a alma e para a consciência. E assim, milhares têm aprendido, como Davi, que nada pode produzir marcas de culpa tão indeléveis como o pecado sexual. O Novo Testamento apóia em todos os sentidos os ideais encontrados no Velho Testamento. Jesus endossou as censuras dos profetas ao sexo ilícito – e foi além. Ele fez a seguinte advertência: “Ouviste o que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.27,28). Aos cristãos de Corinto, cidade dominada pelo vício, capital do sexo do mundo antigo, onde prostitutas do templo recebiam homens e mulheres, o apóstolo Paulo disse: “Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo?” (1 Co 6.18,19.)

A Bíblia trata de vários aspectos da sexualidade humana. Mesmo os atos “inaturais” do sexo são tratados e condenados com franqueza e severidade em ambos os testamentos. Falando através de Moisés, Deus ordenou: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação” (Lv 18.22). E Paulo asseverou: “Não vos enganeis: nem impuros… nem adúlteros… nem efeminados… nem sodomitas… herdarão o reino de Deus” (1 Co 6.9,10).

A Bíblia não diz que a batalha entre a carne e o espírito seja pecado, ou que ter apetite sexual seja anormal. Ela ensina, por preceitos e exemplos, que há recursos espirituais para vencer os nossos anseios ilícitos. Nela Deus manifesta sua disposição para perdoar o pecado, seja sexual ou outro qualquer, e sua vontade de levar paz ao espírito e ao coração dos arrependidos.

As conseqüências naturais de nossos pecados são superadas pela ação misericordiosa de Deus. Davi foi perdoado de seu adultério, mas não saiu ileso das conseqüências dos seus atos.

Em relação ao pecado sexual Jesus sempre foi tolerante. Não há ilustração mais significativa da piedade de Cristo do que sua defesa à mulher apanhada em adultério. Cercado pelos fariseus que iam apedrejá-la, ele lhes disse: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (Jo 8.7). Enquanto falava, seu dedo escrevia algumas palavras na terra. Que palavras foram essas, não nos foi revelado. Mas, ao ouvir a resposta de Jesus, a multidão de acusadores dispersou-se rapidamente. Depois, ele disse à mulher: “Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (Jo 8.11).

Para aqueles que estão presos a uma teia de confusão sexual, conceitos torpes da sexualidade e culpa, esta ainda é a palavra de Deus: “De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8.12).

O Rev. Francisco Carlos Côrtes Alves é formado em Teologia, Pedagogia, Psicologia e Direito. Atualmente pastoreia a P.I.B. em Iporá, Goiás.

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