
Miroslav Volf, “A paz de Deus é inseparável da justiça de Deus” (Exclusion and Embrace, 1996), nos convida a ir além de uma compreensão superficial de paz. Assim sendo, convido a todos que juntos estudemos: A Paz e a Justiça de Deus em nosso Mundo.
Introdução: Mais que Ausência de Conflito
Muitas vezes, pensamos em paz como simplesmente a ausência de brigas ou conflitos. No entanto, a perspectiva bíblica, ecoada por Volf, nos mostra que a paz de Deus (shalom) é muito mais profunda e está intrinsecamente ligada à justiça de Deus. Uma paz que ignora a injustiça não é a verdadeira paz.
I. A Justiça como Fundamento da Verdadeira Paz
A Bíblia consistentemente apresenta a justiça como a base sobre a qual a verdadeira paz pode florescer. Não se trata de uma justiça meramente legalista, mas de um restabelecimento da ordem divina, da retidão nas relações e da defesa dos oprimidos.
- Antigo Testamento: Os profetas de Israel frequentemente denunciavam a falta de justiça como a raiz da desordem e do sofrimento, e clamavam por um retorno à retidão para que a paz pudesse ser estabelecida.
- Isaías 32:17: “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” (Aqui vemos uma conexão direta entre justiça e paz duradoura).
- Amós 5:24: “Antes, corra o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.” (Amós clama por uma justiça abundante e irrefreável, essencial para a verdadeira ordem).
- Salmo 85:10: “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram.” (Este verso poeticamente ilustra a harmonia divina entre justiça e paz).
II. Jesus Cristo: A Encarnação da Paz e da Justiça de Deus
No Novo Testamento, Jesus Cristo é a manifestação suprema dessa união entre paz e justiça. Sua vida, morte e ressurreição revelam como a justiça de Deus é cumprida e como a paz é oferecida à humanidade.
- Romanos 3:25-26: “A quem Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (A cruz demonstra a justiça de Deus ao lidar com o pecado, enquanto oferece a justificação e, consequentemente, a paz com Deus).
- Efésios 2:14-16: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede da separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contida em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando por ela as inimizade.” (Cristo é a nossa paz, que pela sua morte remove as barreiras da inimizade e da injustiça, criando unidade).
III. O Chamado à Ação: Viver a Paz da Justiça
Para os seguidores de Cristo, a inseparabilidade da paz e da justiça significa que não podemos ser passivos diante da injustiça. Somos chamados a ser agentes do Reino de Deus, promovendo a justiça para que a verdadeira paz possa ser experimentada.
- Mateus 5:9: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Os “pacificadores” no contexto bíblico não são apenas aqueles que evitam brigas, mas os que trabalham ativamente pela shalom, que inclui justiça e retidão).
- Tiago 2:14-17: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? Se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.” (A verdadeira fé se manifesta em ações de justiça e compaixão, que são essenciais para uma “paz” que não seja vazia).
- Miquéias 6:8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Uma síntese clara do que Deus espera de nós: prática da justiça, amor à bondade e humildade).
Em Conclusão:
Em conclusão: Um Compromisso Contínuo
A afirmação de Volf nos desafia a uma fé que se traduz em ação. A paz de Deus não é um estado de inatividade, mas um dinamismo que busca ativamente a justiça em todas as esferas da vida. Viver essa verdade significa:
- Examinar nossas próprias vidas: Onde podemos ser mais justos em nossas relações, escolhas e atitudes?
- Engajarmo-nos com o mundo: Como podemos ser a voz dos que não têm voz, a mão que levanta o caído, a influência que busca transformar estruturas injustas?
- Confiar na soberania de Deus: Mesmo em meio a um mundo de injustiças, sabemos que a justiça de Deus prevalecerá, e somos chamados a ser seus cooperadores nesse processo.
Que este estudo nos inspire a não apenas desejar a paz, mas a ser construtores ativos da justiça que a torna possível, refletindo assim a própria natureza do nosso Deus.
Como você pode, em seu contexto diário, começar a viver essa conexão entre paz e justiça de forma mais concreta e intencional?
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