Autor: João Batista Libanio
Os pobres ocupavam o centro de seus interesses na condição de oprimidos socialmente, de sujeito coletivo da história e da Igreja. Por isso, ela lançava mão de instrumentais de análise da realidade de caráter dialético. E cumpriu naqueles idos papel extremamente relevante, desafiando qualquer marxista no compromisso social. Pouca gente deu-se conta de que a teologia da libertação foi a mais cabal refutação do marxismo e não nenhuma capitulação diante dele. o marxismo considerava a religião como ópio do povo, e a teologia da libertação demonstrou o contrário, que ela era força dinâmica de transformação.
Hoje a situação é bem diferente. Não no sentido de que os pobres melhoraram a situação e já não necessitam de nossa atenção e solicitude. Antes pelo contrário, encontram-se em condições ainda piores, de tal modo, que continuam sendo a opção básica e necessária de toda verdadeira teologia de nosso continente. Os desafios cresceram, porque a situação do pobre se diversificou. Pobre hoje é um conceito mais amplo. E precisamente de mais instrumentos teóricos para captá-lo, entendê-lo e atendê-lo bem. A teologia tem como desafio elaborar esse instrumental teórico mais amplo, com elementos antropológicos, étnicos, cosmológicos.
L. Boff tem articulado com a temática da pobreza a candente questão da ecologia. Grito do pobre, grito da Terra. São dois pobres. O pobre habitante. O pobre hábitat. Destruindo a Terra, acaba-se com toda vida, inclusive a dos pobres. E na crise ecológica, os pobres são a maior vítima. Os ricos sabem defender-se das carências da natureza, e o pobre fica entregue às suas intempéries. Nas catástrofes naturais, as regiões em que os pobres moram sofrem os piores efeitos.
Vivemos num mundo estremamente pluralista. As opiniões, as posições teóricas, as religiões multiplicam-se. Antes já existia certa pluralidade. Ma não tínhamos consciência de sua realidade. Hoje a mídia possibilita-nos conhecer e ficar bem cientes desse desnorteante pluralismo cultural e religiosos. Uma teologia demasiado dogmática não consegue dar conta dele. impõe-se o diálogo em vez do anátema, a decisão em vez da tradição, a comunhão em vez da insistência na própria identidade. Sem grande abertura, nenhuma teologia consegue dialogar com a cultura moderna e com as outras religiões.
Destarte abre-se para a teologia o amplo campo do diálogo inter-religioso. Está aí um de seus maiores desafios. Se a teologia cristã não pode abrir mão de sua identidade, no entanto não pode também carregar sobre ela toda sua força. Faz parte dela a centralidade absoluta de Jesus Cristo. Tal fato que constitui, de um lado, a originalidade a riqueza do cristianismo, doutro lado, é o maior obstáculo para o diálogo inter-religioso, que coloca no centro a Deus ou mesmo uma compreensão vaga do mistério, sem menção de nenhuma trindade. Equilibrar-se entre identidade e abertura diante do diferente: eis o desafio.
Para a teologia cristã, a questão do gênero constitui-se também em outra séria demanda. O Verbo divino assumiu a humanidade na forma de um homem. e a mulher nesse projeto salvífico fica de escanteio? Como integrá-la no espírito de igualdade de direitos numa teologia, numa eclesiologia fortemente marcada pelos traços masculinos? A teologia feminina tem procurado responder a tal questionamento, ora de maneira sensata, ora levando ao extremo as suas reivindicações. Esses e outros desafios nos esperam neste início de milênio.
Professor do CES da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte, e autor de várias obras
Fonte: http://www.catedralgo.com.br/Libanio.htm
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