Autor: Jonathan Menezes
Desde o início do processo de redemocratização do Brasil, com o fim da ditadura militar e demais desdobramentos, os temas da cidadania, da ética e dos direitos humanos têm despontado como pauta do dia em diversos setores da sociedade civil organizada. Esses temas são de suma importância à conscientização do povo para o exercício responsável e ético de sua cidadania, com vistas a um amadurecimento político, em um ”estado social de direito, democrático e pluripartidário”.
Todavia, na década que nos precedeu até os dias atuais, vimos poucas mudanças estruturais e quase nenhum avanço considerável neste sentido. A população, via de regra, foi mantida na ignorância; alguns partidos políticos cresceram em representatividade e em número de adesões por todo o país; novas siglas partidárias surgiram também como fruto deste processo, mas a contribuição para a edificação de uma de! mocracia social, libertária e igualitária continua sendo ínfima diante das expectativas políticas que tínhamos há quinze anos atrás.
Como diz o cientista político Robinson Cavalcanti: ”Os velhos paradigmas se tornaram obsoletos e os novos, apenas nefastos. Vivemos a crise da história, a crise do sistema e, também, a crise do ser”, em que uma ”ética dos resultados” vem substituindo uma ”ética de princípios”.
Mas o que significa ter uma ”ética de princípios”? E o que significa ser ético na política? Uma ética de princípios é uma ética não-corruptível, não-vendável, não-negociável – exatamente o oposto da ”ética dos resultados”, sem ideologia, contrato ou aliança permanentes, em que apenas os interesses são permanentes -, é manter-se coerente com sua ideologia, história e identidade.
Ser ético na política não significa apenas ter uma ética individual, privar-se da corrupção. Isto não basta. Eu posso não ser corrupto, e ao mesmo tempo estar con! formado com o status quo, com a realidade social desigual e excludente que impera em nosso país, com a injustiça e a indiferença que assolam grande parte de nosso povo, o qual vive em estado de miséria e abandono. O melhor remédio para resolver tudo isso continua sendo a luta constante contra essa maré de insensibilidade e de alienação; é escolher ser antítese da opção pelo fisiologismo, rejeitando os interesses corporativistas de um lado, e individualistas de outro.
Diante deste quadro político, confuso e indesejável, que vislumbramos, a frase de Robinson Cavalcanti, além de profética, me parece alentadora e desafiadora: ”que o Senhor da história nos dê visão, discernimento, lucidez, determinação e coragem. Coragem para ser, para falar, para sofrer, para criar, para propor (…) Queremos o bem-estar da pátria. Não somos chamados a bem gerir o capitalismo, mas a lutar por sua substituição por uma economia de justiça e solidariedade”.
* JONATHAN MENEZES é estudante de Teologia na Faculdade Teológica Sul Americana (www.ftsa.com.br) e membro do Movimento Evangélico Progressista (MEP)
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