Autor: Pr. Alexandre Carneiro
Creio que o primeiro compromisso desta reflexão seja esclarecer o tema. A afirmação de uma espiritualidade bíblica numa sociedade Pós-Moderna, reconhece a presença de um fenômeno com características globais, embora mais ocidental do que oriental, conhecido a partir da década de 70 como pós-modernismo. Em seguida, o tema afirma ou pretende afirmar a natureza, o lugar, a função, relações e desafios de uma espiritualidade fundada nas escrituras neste chamado mundo pós-moderno.
O cenário histórico da espiritualidade mundial passou por três grandes fases (esta classificação corre o risco inerente a toda classificação e periodização): a primeira, a fase das explicações sagradas, mediante as quais a natureza, o homem e a sociedade eram interpretados sob a ótica (premissa) religiosa. Nada mais além da compreensão mística explicava o mundo, e fora desta explicação nenhuma outra sobrevivia. Essa fase nasce com o tribalismo primitivo das mais rudimentares formas de associações humanas, é continuada com o surgimento das civilizações e homogeneizada pelo cristianismo do século IV ao século XV.
A segunda fase substitui as explicações religiosas pelas explicações racionais – dilaceramento do sagrado. É decretada a morte de Deus. Nela, apenas o argumento racional tem validade. A razão última da filosofia clássica que buscava, no Espírito Absoluto as explicações para o cosmo, é descartada. Não existe outra razão senão a humana, e nada existe fora da razão (este argumento colocava a manifestação religiosa em pé de igualdade com a ignorância, a alienação, a estupidez); é bem verdade que há um tipo de religiosidade que pode ser comparada a isto ou a coisa pior. Com advento do racionalismo e o consequente advento da modernidade passou-se a rejeitar a realidade como uma condição imposta pela natureza (algo dado) e passou-se a afirmar o homem como um ser capaz de transformar a realidade.
A modernidade constituiu um período marcado por reflexões sobre a igualdade, a liberdade, fé na inteligência humana, a crença de que as artes e as ciências promoveriam não apenas o contrôle das forças naturais, mas também propiciaria a felicidade dos homens, pela “emancipação do homem pela razão”.
A modernidade tem, portanto início aproximadamente no século XVI, tendo como pilares a ascensão da burguesia (abertura do comércio mundial, a indústria manufatureira) aliada ao desenvolvimento da crença na capacidade do conhecimento como único elemento transformador da realidade, a partir de Francis Bacon (1561-1626). Dois outros fatores de grande significado para consolidação da modernidade foram a Reforma protestante (que contrapôs-se a cosmovisão unitária da Igreja, rachando o pensamento religioso da Europa) e a revolução industrial.
O modernismo padeceu internamente quatro grandes crises:
Era positivista = cria no progresso linear através da arte e da ciência (determinismo histórico);
Era tecnocêntrico = porque alimentava ingenuamente a perspectiva da máquina como mito eficiente capaz de realizar todas as aspirações da humanidade;
Era racionalista = porque não conhecia outra forma de representar o mundo senão pela linguagem da razão;
Era imposta = como pensamento de uma elite de planejadores, artistas, arquitetos críticos. Com isto fomentou a ditadura da tecno-burocracia e do autoritarismo estatal. Isto produziu o chamado desencanto com a modernidade?
A terceira fase é a chamada ressacralização da sociedade na pós-modernidade.
O pós modernismo emerge na história humana em algum ponto entre 1968 e 1972 sob a paternidade dos movimentos estudantis na Europa e atlântico norte, da contra cultura de resistência dos movimentos pacifistas e da rejeição do status quo (a exemplo do movimento mundial de Hippies), das artes inspiradas na teoria do absurdo de Nietzsche (enfatiza o caos da vida moderna e a impossibilidade de lidar com ela com o pensamento racional); e do novo pensamento científico tendo como expoentes Habermas, e Karl Popper que negam o saber absoluto e afirmam o saber relativo. Popper afirma que “não sabemos, conjecturamos.”
A partir do início da década de 70 o mundo pode constatar uma avalanche de mudanças de ordem cultural, política e econômica:
a) constatou-se que, diferentemente do esperado, a razão não produziu a desejada emancipação da sociedade humana.
b) com isto veio a crise dos paradigmas da ciência moderna atenuada pelo fracasso do socialismo, a queda do muro de Berlim e a consolidação do capitalismo como o modo de produção hegemônico do planeta.
c) finalmente o vazio de esperança e a ausência de perspectivas otimistas acerca do lugar para onde o curso da história empurraria a humanidade.
O que o termo pós moderno quer dizer ? Este conceito pode variar de acordo com o sentido específico que se lhe possa dar. Questionamos se é possível atribuir o termo pós-modernidade às grandes mudanças que ocorreram na qualidade de vida das sociedades a partir, mais ou menos, de 1970. Estou convencido, no entanto de que o termo pós-moderno tem tido um uso fluído e de termo Pós-moderno que incontinentemente usado a todo tipo de manifestação inovadora do tempo presente. Inclusive nesta utilização difusa e difuso que, incontinentemente usado açambarca todo tipo de manifestações inovadoras. Nessa utilização difusa acham-se inclusive algumas publicações evangélicas, nas quais nada escapa ao termo pós-modernidade. Tem gente por aí pensando a creche como fenômeno pós-moderno.
No entanto, a interpretação do momento pós-moderno como reação antagônica, oposta ao .tipo de sociedade estabelecida pela modernidade, parece ser consenso entre os que se debruçam sobre o tema.
Ora, se afirmamos o pós-moderno como uma reação ao modernismo, vale a pena sintetizar as colunas sobre as quais se sustentou a sociedade moderna, as quais são: uma cultura cientificamente produzida, uma sociedade ordenada tipologicamente e hierarquicamente centrada na lei,. processos e sistemas com pretensão de atingir a totalidade das aspirações e projetos que anunciavam alternativas definitivas.
Sobre quais bases se sustenta o pensamento pós-moderno?
Creio que sete categorias podem resumir a questão:
* o pluralismo (culto das diferenças);
* a efemeridade (culto das emoções);
* a fragmentaridade (culto das divisões);
* a alteridade (culto das mudanças);
* o desconstrucionismo (culto à relatividade);
* a divergência (culto à suspeita);
* a instantaneidade (culto da superficialidade do momento)
Observe que o pensamento pós-moderno transita em meio ao diferente, ao divergente e ao múltiplo, justapondo-os, reconhecendo nas partes a constituição autêntica da realidade social. Essa nova perspectiva redescobre o místico, os valores transcendentais e a racionalidade religiosa, atribuindo ao sagrado um lugar específico na configuração da vida social, mas ao mesmo tempo negando a prioridade dos valores espirituais sobre os demais.
Eu estou pessoalmente convencido de que a relação de uma espiritualidade bíblica na sociedade pós-moderna deveria levar-nos a percorrer pelo menos quatro caminhos.
* o primeiro caminho: A afirmação da intransitoriedade da revelação de Deus e a validade supra-temporal das escrituras.
* o segundo caminho: A rejeição do dogmatismo sectarizado evangélico expresso na indagação: a igreja tem algo a aprender e acertos estratégicos a fazer em relação ao pensamento pós-moderno?
* o terceiro caminho: As influências negativas da pós-modernidade no conteúdo da fé protestante – adoção de medidas profilácticas.
* o quatro caminho: Reafirma o caráter inegociável da doutrina neo-testamentaria fundamentada na ética de Jesus e na doutrina apostólica.
1. Primeiro caminho:
A intransitoriedade da revelação de Deus e a validade supra-temporal das escrituras:
1.1.A relativização está no centro do pensamento pós-moderno, no qual se tem como válidos todo tipo de conhecimento desde o científico ao zodíaco. A despeito de todos serem considerados válidos, nenhum é tido como portador de verdades absolutas; cada um constituiu um fragmento de verdade. Este referencial pós-moderno dos “fragmentos da verdade” pode transferir para dentro da Igreja um tipo de suspeita sobre a veracidade e a inspiração das escrituras, o que já existia fora, no meio social. Ou seja a Igreja pode correr o riso de por o conteúdo bíblico debaixo de um novo foco, transformando a postura de obediência à palavra por uma postura questionadora.
1.2. Nos tempos pós-modernos, vividos pela Igreja, exige-se que o povo de Jesus Cristo sustente tanto em nível de consciência quanto em nível de proclamação, o testemunho convicto herdado da tradição profética e apostólica.
Isaías 40:8 afirma que o eco-sistema é renovável e que a natureza envelhece. Mas tal coisa não ocorre com a revelação do Senhor. Ele diz “seca-se a erva; cai a sua flor, mas a palavra do nosso Deus permanece para sempre”.
O apóstolo João, na 1 Epistola cap. 2:17 afirma que todo o produto da mente humana é de natureza transitória: instituição, valores, poder, cultura, idéias, etc. O apóstolo diz que o mundo passa, e explora uma dimensão não focalizada pelo profeta Isaías, ao afirmar que não apenas a palavra do Senhor permanece para sempre, mas aquele que faz a vontade de Deus acontecer também permanece para sempre.
1.3. A Igreja deve compreender e não somente isto, mas projetar a sua ação no meio social tendo em vista a transitoriedade do mundo humano. As transições do mundo secular não devem por a Igreja em pânico; devem ser encaradas com a sobriedade de Gamaliel que afirmou em At. 5:38 “se o Conselho ou a obra vem de homens parecerá”. Qual o alvo do evangelho ? É a transitoriedade humana (como ela foi imposta pela queda). A agenda da Igreja deve levar em consideração os contornos da época e as tendências conjunturais. A Igreja, porém, deve estar atenta e não permitir que a transitoriedade social influencie uma espécie de transitoriedade da revelação.
1.4. A revelação de Deus não muda. A palavra do Senhor é eterna. As palavras pronunciadas pela boca do Senhor são válidas para todos os tempos e espaços históricos. A Igreja, portanto, deve estar plantada na revelação e sustentar a palavra revelada como paradigma de sua crença e ação.
A realização de Deus não ao tempo histórico, às culturas regionais. Ela é transcendente a tudo !. porque revelação é fala divina – a verdade disto sob a ótica da eternidade.
2. Segundo caminho:
A Rejeição do Dogmatismo Sectarizado Evangélico expresso na indagação: A Igreja tem algo a aprender ou acertos estratégicos a fazer em relação ao pensamento pós-moderno?
2.1. Quando o Senhor Jesus afirmou a identidade da Igreja de forma aparentemente contraditória, situando-a como realidade que está no mundo mais que ao mesmo tempo não é do mundo, estava afirmando que a Igreja tem uma vocação espiritual, mas não pode romper com a sua historicidade. Sendo a Igreja um ator histórico, ela pertence a um contexto e com ele estabelece diálogo. Nesse sentido, se contarmos com a compreensão dos ministros aqui presentes, poderíamos afirmar que enquanto está no mundo ou, para ser pertinente com o mundo, a Igreja terá, inevitavelmente, que estabelecer relações de transação no mundo .(transição no termo restrito, não de maneira plasmática). Da mesma maneira que o verbo, (Cristo) para encarnar à história, teve cidadania, nome, família, profissão, falou e linguagem vigente. inserindo-se culturalmente de acordo com os valores da época. O mesmo a igreja terá que fazer.
É nessa perspectiva a Igreja deve não apenas apologizar sobre sociedade pós-moderna, mas também estabelecer diálogo.
2.2. O espírito da pós-modernidade inspira a Igreja a repensar de algumas categorias.
2.2.1.* Pluralismo nas relações
A sociedade das últimas décadas aprendeu a conviver pluralisticamente, uma proposta que, no meio evangélico, parece não passar de um ensaio. Muitas vezes a impressão que fica, avaliando a incapacidade de celebração da diversidade, por parte de muitos líderes, é que quem fundou a Igreja não foi Jesus Cristo, mas Mao-Tse-Tung.
Creio que foi exatamente por causa do estranhismo que a maioria de nós adota em relação ao outro, obviamente diferente, que o Senhor Jesus afirmou que, mesmo diante das nossas intransigências, ele, na instalação plena do seu reino fará assentar numa mesma mesa irmãos do oriente e do ocidente, do norte e do sul. Interessante que o contexto do texto assegura implicitamente que nessa reunião não haverá disputas nem censura, só celebração. É necessário, ainda, atentar para o fato de que com a proliferação de novas igrejas, nós devemos não apenas nos fechar para manifestações não evangélicas, mesmo confessando-se como tal, mas também devemos estar abertos para novas manifestações autenticamente cristãs na sua profissão de fé, embora diferentes institucionalmente.
O outro lado da questão, é a intolerância da Igreja Evangélica para com a livre expressão sócio-cultural dos indivíduos do seu tempo. Com isto:
* a nossa evangelização se confunde com agressão cultural.
* o nosso apelo à conversão não aceita a recusa do interlocutor como uma reação possível e natural (as pessoas tem o direito de optarem entre Deus ou o mundo, entre o céu ou o inferno).
* também nesta mesma linha, muitos adotam posturas irracionais, à exemplo de chutes em público contra imagens reverenciadas por outras religiões.
* e ainda, a tentativa de impor uma cultura evangélica fora do livre contexto da conversão (todo o mundo tem que agir como crentes).
2.2.2. A fragmentaridade Institucional:
A despeito de que seja verdade que o plural e o fragmento, como categorias do pós-modernismo, constituem uma clara oposição a qualquer pretensão de absolutizar qualquer idéia ou crença (inclua-se Deus nesta perspectiva), creio que seria interessante olharmos a Igreja institucionalizada sob a lente do fragmento. Eu estou afirmando isto por duas razões: Ainda hoje a Igreja evangélica nega-se a crer no caráter profano da igreja institucionalizada, acreditando que o Deus que santifica a fé, também santifica a instituição. Outra coisa, a Igreja institucional, por causa de suas limitações históricas, nunca foi e nunca será capaz de agüentar a sobrecarga de expectativas sobre ela lançada. Hoje se fala de crise na Igreja – eu pergunto qual Igreja está em crise? é claro que quem anda se contorcendo de dores é a Igreja institucional, porque, à semelhança do mundo, ela passa, mas a Igreja una invisível, indivisível e universal de Jesus nunca esteve tão bem, porque ela é a plenitude daquele que a tudo enche, o mesmo que ao morrer e ressuscitar pôs todas as coisas debaixo dos seu pés, e por meio de quem somos abençoados com toda sorte de bençãos espirituais nas regiões celestiais.
2.2.3. A análise dos discursos internos.
Eu falo “analise dos discursos internos” porque a Igreja de maneira geral sempre viu com muita suspeita toda fala do lado de fora do arraial (de Galileu até os dias de hoje). Sou forçado a dizer que não somos muito rigorosos com as falas do lado de dentro.
Ora, uma das características da pós-modernidade é o desconstrucionismo (Heidegger) como uma nova maneira de compreender aquilo que está nas intenções, mas não é repassado no discurso. Com isto ninguém à priori é forçado a dar crédito total a nada que escuta.
Na Igreja evangélica o discurso oficial tende a ser hegemonicamente dominador. Isto em razão da Igreja ser o espaço do sagrado e entender, de maneira geral, que os ministros não falam em seu próprio nome, mas no nome de Deus. Com isto elimina-se ou desestimula-se os questinamentos. Sempre me dá um tremor interior quando sou anunciado para pregar com os seguintes dizeres: “abramos o coração para a palavra ministrada. Certamente Deus falará nesta oportunidade pela instrumentalização do Pastor” Nunca se diz:” ouçamos o pregador e julguemos se o conteúdo de sua palavra está biblicamente apoiada ou não”; ou então “a mensagem será agora anunciada e caberá aos presentes julga-la como procedente de Deus ou não”.
Sabemos que cabe ao ministro falar com fidelidade a palavra da revelação, mas também sabemos que isto nem sempre acontece.
Estou particularmente convencido que a mitificação do púlpito não apenas contribui para a emergência de semi-deuses evangélicos, mas também obstacularizou processos de revelações em outras instâncias afora o sermão.
A palavra de Deus está acima de questionamentos, a hermenêutica dos ministros, não. Veja-se o exemplo dos bereianos na postura critica/analítica ante a pregação de Paulo. E olha que Paulo não era qualquer um. Mas para os bereianos, palavra pregada não é coisa para descer goela a baixo acriticamente. Antes é para ser pensada, averiguada e finalmente recebida ou rejeitada., acrescida ou decrescida.
3. Terceiro Caminho:
As influências negativas da pós-modernidade no conteúdo da fé protestante – Adoção de medidas profilácticas.
Com o chamado fenômeno da ressacralização da sociedade na pós-modernidade em função
do colapso dos mitos da modernidade, a racionalidade cientifica, a tecnologia, as esperanças políticas e democráticas, o protestantismo tornou-se um dos maiores atores neste novo cenário.
Atualmente o mundo se dá conta da emergência de uma nova religiosidade popular com pretensões de conquistar a maioria da população mundial.
3.1 A massificaçào da fé evangélica na atualidade está colateralmente passando por uma metamorfose degradante na interpretação e prática dos conteúdos bíblicos herdados da ética de Cristo e da doutrina apostólica. Na medida em que a Igreja cresce quantitativamente expõe-se a um verme roedor distorcido e descaracterizado neo-testamentariamente falando.
A massificação, quer queiramos ou não, vulnerabiliza a Igreja em alguns aspectos pelo menos:
– Abre a Igreja para a manipulação do mercado de massa. Essa manipulação pode ser duplamente entendida.
Em primeiro lugar pela febre do poder que afeta as lideranças. Poder no domínio religioso significa influenciar pessoas agregando-as em torno de um ideal. Essa capacidade agregadora gera status eclesiástico materializado em privilégios sociais.
Em segundo lugar, porque em grande parte não é possível agregar massas sem fazer certas concessões, a maioria delas recairão no produto a ser oferecido, que no caso evangélico corresponde ao culto. Todo serviço religioso destinado a massa precisa ser rigorosamente pesado, pois corre o risco de colocar anseios das massas e o desejo de conquistar massas no lugar da autoridade da revelação.
3.2. A busca do momento em detrimento de experiência
O mundo pós-moderno está preso ao espectro da instantaneidade em decorrência da multiplicidade de ofertas, da crise de identidade das pessoas, do medo de desenvolver projetos acerca do futuro, uma visão da vida como um jogo, da dispersividade e a superficialidade das relações pessoais. É nítido aos olhos de todos que existe uma aversão a envolvimentos com experiências duradouras.
A experiência religiosa evangélica já mostra que o instantaneismo está agindo no meio da Igreja. Como esse processo se mostra hoje ?
* a indústria evangélica da imagem, da aparência, e do espetáculo constitui os elementos básicos do produto religioso que está sendo oferecido. Isto é perfeitamente constatável quando inquirimos acerca do tempo programado para reflexão e estudo na igreja; as pessoas querem alegria, vibração que provoquem impactos emocionais. O serviço religioso busca sensacionalizar e deste modo será sempre algo imediato, uma vez que a sensação nada é senão um momento. A preocupante em vigor é fazer com que as pessoas sintam e não com que elas aprendam. Vejam bem, eu não tenha nada contra as viagens turísticas a Israel, mas fico preocupado com algumas propagandas que despertam o interesse do cliente em viver a emoção de estar e orar no Jardim das Oliveiras e assim por diante. A propaganda enfatiza o lugar, a construção, em detrimento das relação com a presença de Cristo, até porque ninguém precisa pagar 12 prestações de R$ 350,00 para desfrutar a presença do Senhor.
A construção do caráter cristão, o investimento numa vida devocional cotidiana piedosa são temas em desuso para muitos. Ao contrário ouve-se muito: “O segredo para obter o milagre de Deus”. “Como ser um cristão de sucesso”; e por aí vai.
3.3. O papel da Igreja como empresa de salvação é confundido com o de uma empresa secular (bens não-religiosos).
O mundo vive uma economia de mercado cuja essência gravita em torno da produção e do consumo de bens. Quer tenhamos atentado ou não para o fato, a Igreja como empresa de salvação oferece, através do sou corpo de ministros, produtos de fé (como doutrina, teologia, treinamento, assistência clínica pastoral, etc…). Os fiéis consomem esses produtos de fé, e em troca asseguram aos ministros status eclesiástico e remuneração.
Essa realidade sempre existiu na economia da espiritualidade no campo religioso, e o protestantismo não é exceção.
O que percebemos é que com a pós-modernidade a Igreja não apenas atua como empresa de salvação mas ganha contorno de empresa de bens seculares, seguindo a filosofia pós-moderna da iversificação dos produtos. Com isto, os fieis são descolados da condição de fraternidade para a de clientela. O ideal da verdade revelada cede espaço para o discurso que gera lucro.
Referimo-se a Igreja Universal, a veja de 19/04/95, diz que ela é mais internacional que a Odebrescht, tem mais funcionários que a Brahma que emprega 5.600 pessoas; seu patrimônio era avaliado em 400 milhões de dólares, quase o dobro da Esso brasileira, possui uma empresa de Consultoria, e um Banco, o de Crédito Metropolitano.
A introdução do elemento do lucro como fim para onde os meios convergem muda toda a configuração eclesiástica. O ministro transforma-se em empresário competente ou incompetente, bem sucedido ou mal sucedido, os membros são clientela; escolas, livrarias, editoras, televisão e rádio, etc… perdem o objetivo evangelístico e incorporam o jogo do mercado. Mudam-se as perspectivas e alteram as relações entre os irmãos.
3.4. O místico alienado.
Creio não ser preciso enfatizar muito o que existe da barbaridade nesta direção. O pós-modernismo coincidiu com o fim do milênio proporcionando um terreno fortíssimo para ansiedades apocalípticas.
Soma-se a isto um outro dado de igual ou maior importância, ou seja, o homem pós-moderno abraça o sobrenatural sem nenhum processo seletivo. Acético quanto as respostas técnico/político/cientificas, e percebendo o caos do seu mundo interior e exterior as expectativas deslocam da vida concreta caótica para o além, para o transe, para o êxtase. As relações pessoais recebem menos importância que as relações com espíritos, caboclos, exús, o concreto é secundarizado em função de uma espiritualização com característica de fuga. O que ocorre: a formação de uma massa de consumo de produto místicos.
Eu não preciso dizer que uma onda de misticismo que beira a loucura está invadindo as Igrejas. Muitos pensavam que essa era uma questão pentecostal. Mas, a pós-modernidade diz que não. Tomei conhecimento de fatos nas chamada Igreja históricas, a exemplo do paletó que derruba; todo mundo cai no chão e o Pastor fica massajando a cabeça das pessoas para tirar o pecado.
Uma Igreja mandou cimentar a área dos jardins, não para aumentar a área dos jardins, ou por por motivos de estética, mas porque os gnomos moram na grama. Soube ainda que um ministro exorcizou a dor de cotovelo de uma senhora (dor de cotovelo literal), a dor desceu para mão; ele orou e discerniu que era uma legião de cinco demônios, um de cada dedo, e a mulher ficou boa.
Diferentemente do que possa parecer, este tipo de misticismo contribui para anestesiar as pessoas, oprime numa potência infinitesimal.
4.1. O Quarto Caminho é desafiador por duas razões:
* a primeira: há uma demanda espiritual. O homem pós-moderno está ávido por conhecer o mundo espiritual; com isto, abre-se uma grande oportunidade para a pregação do evangelho. No entanto, como foi dito, a Igreja corre o risco da mercantilização do sagrado e da prática do misticismo alucinado
* a segunda, em razão da grande oportunidade em que vivemos e dos riscos que corremos, torna-se necessário garantir como Igreja aproveitará as oportunidades e resguardar-se-á dos os riscos inerentes. Quais posturas adotar:
4.1. A Igreja deve manter uma postura ortodoxa quanto a preservação de sua identidade evangélica.
Perguntar quem é a Igreja do nosso Senhor Jesus Cristo, é de suma importância. A pergunta não é quem a Igreja é hoje, mas o que é ser Igreja de Cristo.
Eu estou tentando dizer que a Igreja que não vai sucumbir aos modismos da pós-modernidade será aquela que tem consciência de si mesma, como Igreja de Jesus. Ter consciência de si mesma. Para que o povo de Deus seja útil numa época caótica como a nossa, não precisa em primeiro plano esforçar-se por vender uma imagem para a sociedade. Ela apenas precisa ter consciência do que é agir de acordo com esta consciência. Preservar a identidade significa imunidade contra o sincretismo.
4.2. A Igreja deve reafirmar o caráter inegociável de doutrina neo-testamentária que declara entre outras coisas:
* o pecado como agente da morte espiritual reduzindo os homens a cadáveres, incapazes de viver uma relação pessoal com Deus; e que sem Deus o homem não é dono de si mesmo, nem dos seus passos, nem de seu corpo e nem dos seu pensamentos, são controlados por forças espirituais contra as que não pode resistir.
* A graça de Deus possibilitou uma nova maneira na relação de Deus com os homens, inaugurada pela encarnação da segunda pessoa da trindade, o Senhor Jesus Cristo, 100% Deus e 100% homem, trazendo-nos as revelações do coração de Deus, até então encobertas pelos pecados da humanidade e instaurando uma nova ordem social de homens regenerados para viver o padrão de vida de Jesus.
* A única forma de emergir do caos espiritual é através de novo nascimento. E que o homem nascido de novo é o que abraça a salvação e o senhorio de Jesus Cristo, cuja nova vida é movida pelo mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos.
A Igreja vista não em termo institucional, mas em termo carismático, como o único espaço e o único agente humano para a redenção da humanidade.
* Que o planeta, a vida e sociedade, os sistemas serão amplamente restaurados com a instalação visível do reino político de Jesus Cristo.
4.3. A Igreja deve investir na qualidade interna de suas comunidades.
Creio que um dos quadros mais concretos do exercício da discipulado está colocado em Atos 13:1
“Havia na Igreja da Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Niger, Lúcio da Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca e Saulo”.
Este texto afirma duas verdades básicas do discipulado. Em primeiro lugar o texto diz que havia uma Igreja em Antioquia. Creio que só o discipulado consegue dar visibilidade a Igreja do Senhor Jesus. Sem discipulado a Igreja pode aparecer, ser notada por outros traços e não por ser agenciadora da graça terapêutica. Em segundo lugar, o texto não diz apenas que havia uma Igreja em Antioquia, mas também o que havia na Igreja. O texto diz que a Igrejas estava e que o seu estar não era vazio, omisso. Era uma presença, não rotular, superficial, instantânea, mas presença com essência. O texto diz que havia na Igreja crentes de boa qualidade. Creio que o discipulado dar visibilidade e conteúdo a Igreja.
O que é a Igreja evangélica no Brasil e o que há na Igreja e evangélica brasileira?
Fonte: http://www.geocities.com/Athens/Academy/3958/palestras/espbiblica.htm
Muito bom o estudo!