Deus e as calamidades humanas

Autor: Jonathan Menezes
Milhares de pessoas tiveram suas vidas ceifadas por ocasião do maremoto ocorrido em alguns países do continente asiático, fenômeno denominado de “Tsunami”, e que, apesar de ser um acontecimento dito “natural” – com causas provavelmente derivadas de agitações do clima local e das históricas ingerências humanas no ambiente – tem suscitado questiúnculas e discussões (tais como as expostas neste “espaço aberto” nos últimos dias) que ultrapassam explicações “naturais”, passando a ser um enigma relativo a Deus, à sua suposta ira ou vontade soberana, e até mesmo sobre sua real existência ou não.
Seria Deus o carnífice vingativo que fez o que fez a fim de dar ao mundo um “sinal” de sua cólera e de seu poder irrefreável? Se Deus é realmente bom, conforme tantos dizem, como pôde permitir uma catástrofe tão atroz e fatal? Não seria sua benevolência totalmente indiscriminativa? Então porque ele não livrou todas as pessoas do furor desta catástrofe, ao invés de apenas algumas? Como aqueles que se salvaram podem atribuir reconhecimento a Deus? Afinal de contas, depois de tudo, é justo que este mesmo Deus (isto se ele é de fato “Deus”) ainda saia com a “fama” de bonzinho? Como pôde fechar os olhos enquanto tantos precisavam de sua ajuda? Seu papel, enquanto Deus, não seria como de um escoteiro, devendo estar “sempre-alerta”? Estas são apenas algumas das questões que já presenciei.
Diante de uma temática como esta, se analisada apenas sob o prisma lógico e conseqüente, reconheço que talvez tenha outras perguntas mais a levantar, ao invés de respostas prontas. Quem sabe se a maneira mais simplificada de me livrar de um(a) aporrinhador(a) qualquer com quem topasse pelo caminho não seria virar pra ele(a) e dizer: “Ora, Deus quis assim e pronto! Aceite apenas”. Ou, se for o caso (ou a pessoa), afirmar: “Deus não existe”. Todavia, não me submeteria a tal posição que se excede com subterfúgios evasivos. Não posso, também, deixar de mencionar algo que afeta diretamente meu pensamento sobre tudo isso, algo que para mim tem sido a doidice mais lúcida desta existência: a fé. Sem fé ninguém pode “ver a Deus”, nem tampouco saber que ele atua até mesmo na morte e na consternação em benefício daqueles que o amam, ainda que inexplicavelmente.
Sem fé, Deus não é visto como DEUS, no máximo é concebido como uma construção do imaginário coletivo, uma “fantasmagoria”, ou como assunto de religião, e, conforme se diz em nossa cultura, “religião não se discute”, apenas se respeita. Sem fé há desesperança, desconfiança e descrença: ao invés da fé, o racionalismo; no lugar da esperança, o niilismo. Tudo isso passa pela escolha. Ser e não-crer, crer ou não ser, essa é a questão? Não é o que tanto preservamos, a “livre-escolha”? Defender Deus? Não é pra isso que escrevo, até porque Deus não precisa de advogados ou guarda-costas. Contudo, a confissão mais honesta e coerente do ser humano diante de catástrofes como esta – a que, diga-se de passagem, todos estamos sujeitos, de um modo ou de outro, em maior ou menor grau, nesta ou naquela instância – para mim deveria ser: “Eu sou mau”, em substituição àquela que falaciosamente insiste: “Deus é injusto”.

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