Autor: Iara da Silva Machado
Obediência é palavra chave para dizer que alguém, principalmente crianças e jovens são EDUCADOS. E o oposto também é verdade, a idéia que a desobediência é sinônimo de MAL EDUCADOS.
A questão não é tão simples assim. Das fases do desenvolvimento a adolescência tem como meta a chegada a uma autodefinição de valorização e segurança pessoal. Nesse sentido o jovem busca alcançar sua identidade através de um comportamento próprio, individual, a fim de que suas ações sejam fruto da autonomia e não da necessidade ou do apoio afetivo dos pais.
A integridade do jovem é algo adquirido pela identificação que ele possa ter com os pais, mas também com seus ídolos, amigos, companheiros e até inimigos.
O jovem, que não é mais uma criança, mas também não é adulto, pretende ser o que ainda não é e não admite ser o que ainda é. Isso gera conflitos internos, porque na relação com o outro prevalece à busca de si mesmo, esse pode seu um dos fatores da desobediência, sobretudo com as figuras de autoridade: pais, professores, coordenadores. Ou seja, quando o jovem desacata a lei, ele está em busca de uma lei diferente daquela que lhe está sendo imposta, é a forma que ele encontra de dizer NÃO.
Esse comportamento é mais comum em adolescentes que não viram nos pais uma coerência entre o que eles falavam e o que faziam, de modo que a confiança não pôde ter um fio de referência, naquele chavão do tipo: "Faça o que eu mando , mas não faça o que eu faço." Não se estabelece uma segurança na relação e o resultado posterior pode ser a rebeldia, a desobediência. É como se o jovem estivesse devolvendo uma pergunta aos pais: "Por que vocês não me escutam para me enxergarem não como uma extensão de vocês, mas como uma individualidade?!"
A não obediência pode ser um sinal de que algo vai mal na qualidade do diálogo entre pais e filhos, não está havendo escuta, daí não haver respeito mútuo. Os pais se sentem desrespeitados pelos filhos e os filhos se sentem incompreendidos pelos pais. Alguns chamam esse fenômeno de Choque de Gerações, acreditamos que também é Medo do Encontro Entre Gerações: Medo de acolher valores e crenças diferentes daquelas que nos acomodamos a ver como verdade.
Abrir a guardar para ouvir ainda é uma chance interessante para que essa fase do desacato, da rebeldia, da desobediência passe sem deixar grandes danos na convivência familiar. É preciso que os pais e os jovens aprendam a ceder em algo, porque é na rigidez dos princípios que perdemos a presença afetiva dos que amamos.
Por fim, digo aos jovens, o que dizia o poeta: "…Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo! São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer?" E diria aos pais: "…Apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais."
Psicóloga Clínica [Analista em Bioenergética] – CRP13-2262
Especialista em Psicologia da Infância e Adolescência.
Faça um comentário