Autor: Paulo Rogério Petrizi
Na Palestina existem dois mares.
Um é doce, e em suas águas abundam os peixes; prados, bosques e jardins enfeitam suas margens. As árvores estendem sobre ele seus ramos, e avançam suas raízes sedentas para beber as águas saudáveis. Em suas praias brincam aos grupos as crianças como o faziam quando Jesus ali estava. Ele amava este mar. Contemplando sua prateada superfície, muitas vezes ensinou suas parábolas. Num vale vizinho deu de comer a cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes. As cristalinas águas espumantes de um braço do Jordão, que descem saltitando dos cerros, formam este mar que ri e canta sob a carícia do sol. Os homens edificam suas casas perto dele e os pássaros seus ninhos. E tudo que ali vive é feliz só por estar às suas margens.
O Jordão desemboca ao sul em outro mar. Ali não há movimento de peixes, nem sussurro de folha, nem canto de pássaros, nem risos infantis. Os viajantes evitam essa rota, a menos que a urgência de seus negócios os obrigue a segui-la. Uma atmosfera densa paira sob as águas desse mar que nem o homem, nem a beta, nem a ave bebem jamais.
A que se deve esta enorme diferença entre dois mares vizinhos? Não se deve ao rio Jordão; tão boa é a água que lança num como o outro. Também não se deve ao solo que lhes serve de leito e nem às terras que os circundam.
A diferença se deve a isto: o mar da Galiléia recebe as águas do rio Jordão, mas não as retém ou as conserva em seu poder. Para cada gota que entra, sei uma gota. O dar e receber se cumprem ali em idêntica medida.
O outro mar é avaro e retém com ciúmes o que recebe. Jamais é tentado por qualquer impulso generoso. Cada gota que ali cai, ali permanece.
O Mar da Galiléia dá e vive. O outro não dá nada. Chama-se Mar Morto.
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