Autor: José Kleber F. Calixto
Salmo 84
A vida humana se dá em meio a muitas lutas e tristezas. E a Palavra de Deus, longe de minimizar esse fato, nos mostra que por vezes (e muitas vezes), no nosso caminhar nem tudo são rosas, nem tudo é planícies – há vales profundos, vales secos, áridos; há ermos, há desertos – há um vale de lágrimas…
É assim que o salmista do salmo 84 se refere e chama a sua própria vida: vale de lágrimas – v. 6 (Bakha’ no Hebraico; isto é: choro, lágrima). Porque no mundo em que vivemos, por vezes, acabamos dando num vale de lágrimas. De modo particular cada um de nós já passou, ou está passando, por esse vale. Para alguns, o vale da perda, da traição, da violência; para outros, o vale da tentação, da indiferença ou da depressão. Há sempre um desses vales sombrios que nos fazem chorar no caminho, no existir, no percorrer existencial cotidiano de cada um de nós.
Mas o que fazer? O salmista que passou essa terrível experiência nos dá a fórmula para quem quer atravessar esse vale e sair dele.
1. É preciso ter Deus como Fonte de nossa força – “bem-aventurado o homem cuja força está em Ti” – V.5. só vence o vale de lágrimas aquele que faz de Deus a sua Fonte, o seu Gerador-mor, a Usina de sua vitalidade. Isso porque não há força humana que resista ao Vale de Baca. Na hora do desprezo, da depressão, da tragédia, qualquer força humana é menor que as adversidades que nos atingem. Portanto, só vence o vale de Baca quem já entra nele afirmando de onde vem a sua força. A nossa força não vem do pensamento positivo, não vem do dinheiro, não vem, não vem da família – a nossa força vem do Senhor.
2. É preciso ter a Geografia do coração mudada – “Bem-aventurado o homem (…) em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial (…)”. Esse que é capaz de transformar o vale árido das lágrimas num manancial de bênção é aquele cuja geografia do coração já foi alterada – o seu coração já foi aplanado, nivelado – Ele tem um coração plano, sem tortuosidade. Isto significa o seguinte: só muda a geografia do lado de fora da vida, quem já mudou a geografia do lado de dentro. É a topografia do coração que determina a topografia da vida. Portanto, é impossível mudar a história que nos circunda, sem que primeiro mudemos a história do nosso coração. Quem traz dentro de si essa geografia do coração transformado é capaz de transformar qualquer deserto em manancial de bênçãos.
3. É preciso viver a teologia da Graça. Essa teologia subjaz em todo esse salmo 84, e o verso 11 sumaria esse afirmação da graça dizendo: “Porque o SENHOR Deus é Sol e Escudo; o SENHOR dá Graça e Glória”. É impressionante a redundância intencional do salmista ao falar da Graça: “SENHOR dá Graça”. Graça já significa dar; “dar graça” então é graça ao quadrado – é graça em dobro. O que significa? Significa que o vale de lágrimas não é em razão de um estancamento, um esgotamento, uma exaustão da Graça de Deus. O vale não estanca a Graça de Deus, ele apenas a inflaciona, a torna-a do tamanho da nossa dor. Ela ganha a anatomia do nosso sofrimento. De modo que quanto maior a dor maior o derrame e dispêndio da Graça em nossa vida. É por isso que é na travessia das lágrimas que o tem maior percepção da grandeza da Graça de Deus: no verso 1 ele chama Deus de Amável, no verso 2, de Desejável, e ainda no 2, de Promotor da alegria. No verso 3, ele percebe Deus como ninho – Deus se torna o seu Lugar de descanso e repouso. E no verso 9, Deus é ainda o seu Protetor – é Deus Escudo.
Quem sabe, nós não estejamos hoje, no meio de nosso Vale de Baca – consumidos pelas lágrimas do sofrimento. Esse salmo é uma carta de alforria de Deus para nossas vidas, cujo cotidiano é marcado por essas vicissitudes e lutas que acabam por tornar nossas vidas num vale de lágrimas. De modo que com essas atitudes certas nós podemos transformar o vale de lágrimas em vale de bênçãos.
Creiamos nisto!
Igreja Presbiteriana de Coromadel – MG
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