Autor: Marcos Monteiro
“O homem é a medida de todas as coisas; das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”.
Na história das frases ocidentais, essa pode ser considerada geradora da própria história. Frase de Protágoras, classificado como sofista, mas respeitado por Platão, aponta para a diversidade de percepção e construção racional, que coloca a verdade em facetas tão múltiplas quão múltiplos são os seres humanos, para desespero das convicções fundamentalistas.
Aliada à mesma, a frase de Heráclito, “tudo flui”, lembra que os rios mudam e mudam as pessoas, de modo que não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio. A mudança, conflitiva ou harmônica, está no seio da totalidade, como condição de processos globais, como percebe a dialética hegeliana ou marxista, dentro de seus próprios limites de percepção.
A mudança, portanto, seria histórica e geográfica, pertencente ao espaço-tempo, dentro de suas complexas relações. Isso confirmaria a noção de impermanência tão cara ao sistema budista.
Entretanto, a própria dialética clama pelo seu oposto e só podemos falar em mudanças se algo permanece, mesmo que seja a estrutura mutante, ou as relações. Portanto, ser e não-ser, repouso e movimento, permanência e impermanência, caracterizam a estrutura global da vida e do universo, necessitando cada um do seu oposto, cada afirmação da sua negação. Dizendo de outro modo, as narrativas mudam, mas as frases permanecem.
Dessa maneira, podemos sempre dizer com Shakespeare que “há algo podre no Reino da Dinamarca”, ou com o nosso Barão do Itararé, “há alguma coisa no ar, além dos aviões supersônicos” ou dos caças militares que adquirimos dos franceses. Nos interstícios do poder, há sempre algum motivo escuso, algum segredo oculto, algum objetivo não muito ético. De modo que podemos afirmar um pouco desesperançadamente com o Lord Acton que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.
A corrida presidencial me lembra tudo isso e a famosa frase do huguenote protestante mutante Henrique IV, na busca do reinado da Paris do século XVI: “Paris, vale bem uma missa”. E volta convenientemente a ser católico para reinar na católica França. O Palácio do Planalto seria essa desejável Paris brasileira pós-moderna. Para obtê-la, protestantes serão capazes de jogar os búzios e ateus de freqüentarem missas, fazerem orações e redigirem confissões de fé.
Faça um comentário