EDUCANDO AS GENTES ATRAVÉS DA GENTE

Autor: Pr. CLEISON MLANARCZYKI

Talvez o dia mais triste da história. Em comum havia o desânimo, a frustração e a angústia. E não apenas nos dois caminhantes ou nos escondidos em Jerusalém, mas em todos os discípulos, em todos os lugares.

Emaús era a própria representação da vida cotidiana: a falta de fé diante do medo em prol da desesperança. Aqueles dois, na estrada, não desejavam ir para Emaús, mas fugir de Jerusalém, lugar de Pastor ferido e ovelhas dispersas. Lá tudo terminou mal. “É melhor ir embora daqui”.

O que o texto bíblico de Lucas 24.13-25 tem a ver com a Educação Teológica? Tudo. Jesus, o libertador de Israel, fazedor de curas e milagres, cheio de autoridade e sabedoria, e propulsor do Reino de Deus estava, agora, morto. As expectativas foram frustradas, os sonhos desfeitos, as esperanças transformaram-se em utopias. O sonho acabou. Que paradoxo! Que absurdo! O dia mais bendito de todos os tempos, o dia em que a criação tornou-se verdadeiramente livre, o dia da Ressurreição, tornara-se peso e enfado nos passos rumo ao vilarejo de Emaús.

Mas no caminho aparece um andante, alguém que os acompanha na viagem ao vilarejo mais próximo. Os discípulos não percebem a presença de Jesus, mas o Mestre percebe a ausência do ensino: “Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?’ E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lc 24.26-27).

Em primeiro lugar, a Educação Teológica deve andar como Jesus andou, ou seja, ao lado dos seus. O estudo da teologia deve “esperançar” a presença de Deus, redirecionar a vida da “terra ao céu”, do temporal ao eterno (2Co 4.18), da morte à ressurreição. Deve caminhar entre homens e mulheres sedentos de ajuda, participar das lutas. A pedagogia de Jesus contempla uma caminhada no mesmo ritmo para poder perguntar “o que vos preocupa? Sobre o que conversam enquanto caminham?”. A Educação Teológica deve andar como Jesus andou para estar nos caminhos da vida, próxima das dores, pronta a mostrar a luz de Deus, madura para criar espaços para a esperança.

Adiante, a Educação Teológica deve ensinar como Jesus ensinou, ou seja, dar sentido à vida. O estudo da teologia deve trazer a compreensão exata das Escrituras, sem desvios interesseiros ou interpretações convenientes. Deve remover dos olhos a perigosa poeira das impressões erradas sobre Jesus, construídas a partir de hermenêuticas sem propósitos, com ondas e frenesis totalmente incoerentes à Palavra de Deus. A Educação Teológica coopera para que não mais sejamos sem entendimento e tardios de mente, para que Jesus não precise nos advertir: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram!” (Lc 24.25). Deve mostrar que nas Escrituras encontramos o sentido mais profundo da vida, onde o relacionamento com Deus torna-se o motor da esperança em Cristo: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lc 24.32)

Finalmente, a Educação Teológica deve acolher como Jesus acolheu, ou seja, repartir o pão.  As mãos que repartem são as mesmas que ensinam. E as mãos do ensino não podem estar nos bolsos, mas devem ser erguidas ora sobre ombros cambaleantes, ora sobre olhos dispersos. Devem acolher e receber. Devem tocar e restaurar. Devem abençoar e construir. Devem ser mãos erguidas em busca da vontade do Pai, pois as mãos que ensinam também adoram e reconciliam. Acolhendo e repartindo o pão, a Educação Teológica será capaz de saltar das mãos aos olhos, abrindo-os para que contemplem que o antes estranho é o agora Jesus, e não mais se demore a dizer: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando” (Lc 24.29). O partir do pão valoriza a comunhão, mostra que a lembrança do Cristo Vivo é o maior de todos os ensinos.

Quando assim se ensina, assim se aprende. Ao saírem da mesa, os dois homens antes moribundos, voltaram alegres à Jerusalém. Por que a mudança de expectativa? Porque foram ensinados. Teologicamente ensinados: “Que fuga absurda! Por que fugimos? De quem fugimos? Vamos à Jerusalém! Voltemos à luta, ao lugar onde ontem havia morte, mas que hoje contempla a vida!”

Assim vejo a Educação Teológica, capaz de gerar ministros que testemunhem na própria vida a mais perfeita definição sobre Jesus: “profeta poderoso em palavras e em obras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19).

Pense nisto! Um grande abraço. Deus te abençoe.

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