O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo à sua igreja, no Novo Testamento (Mt 28.18-20; 26.26-30). O batismo é aplicado uma única vez e sinaliza a admissão do batizado na igreja visível. O batismo não salva e nem garante a salvação. A ceia do Senhor é o sacramento praticado pela igreja, de maneira repetitiva até o fim do mundo, trazendo-lhe a memória os benefícios que o sacrifício Jesus Cristo trouxe para ela.
Diferentemente dos nossos irmãos batistas e pentecostais, nós presbiterianos (também reformados, luteranos e metodistas), batizamos por aspersão e batizamos os nossos filhos quando crianças. Reconhecemos a legitimidade do batismo por imersão e respeitamos o ato de consagração que os nossos irmãos realizam com os seus filhos. O propósito deste artigo não é polemizar, mas instruir. Desejamos apresentar as razões bíblicas e teológicas que nos levam a batizar crianças.
Primeiro, só existe uma igreja de Deus.
A igreja é a mesma no Antigo e no Novo Testamento. Ela começa, historicamente, com o chamado de Abraão (Gn 12.1-3). Ela foi comprada por Deus pelo sangue de Cristo (At 20.28). Ela é como uma única árvore de oliveira, que possui ramos naturais e enxertados (Rm 11.16-21). A igreja cristã não é uma nova árvore, mas um galho enxertado no mesmo tronco. A igreja de Deus não começa no Pentecostes, como ensina os dispensacionalistas, mas com o chamado de Abraão (Gn 12) e a nação de Israel. Com a primeira vinda de Jesus, a igreja foi ampliada a todas as nações da terra (Gn 17.4; Rm 4.17-18; Gl 3.8). O Israel de Deus agora é uma única família que congrega judeus e gentios (Gl 6.16; Ef 2.19).
Segundo, só existe uma igreja sob uma aliança ou pacto da graça.
Todos os crentes do Antigo Testamento foram salvos pela graça, mediante a fé. Abraão foi salvo e justificado pela fé: “Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6; Rm 4.1-9). Ele foi salvo da mesma maneira que somos salvos hoje: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” (Gl 3.8). A salvação acontece sob o pacto ou aliança da graça: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência” (Gn 17.7). Essa aliança é a nova aliança baseada no sangue de Cristo (Lc 22.20). Por isso Paulo chama Abraão de “o pai de todos os crentes” (Rm 4.11; Gl 3.8). Ele é taxativo: “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.29).
Terceiro, a igreja sempre teve dois sacramentos.
A igreja no Antigo Testamento celebrava dois sacramentos: a circuncisão e a páscoa. No Novo Testamento, a circuncisão é substituída pelo batismo e a páscoa, pela ceia do Senhor (Mt 26.26-30). Quando alguém cria no Deus de Abraão e desejava fazer parte do povo de Deus, precisava ser circuncidado. A circuncisão era o sacramento de admissão na igreja visível. O batismo substituiu a circuncisão na igreja do Novo Testamento. O batismo tem a mesma função da circuncisão: sinalizar uma mudança interior e inserir o novo discípulo na igreja visível. Paulo chama o batismo cristão de “circuncisão de Cristo” (Cl 2.11-12).
Quarto, a circuncisão (batismo) é um sinal da aliança aplicado a todos.
Quando Deus estabeleceu um pacto com Abraão, Ele ordenou a circuncisão como sinal externo da aliança: “Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós” (Gn 17.10-11). A partir daquele momento, Abraão foi circuncidado (99 anos), Ismael (13 anos) e todos os homens e servos da sua casa (Gn 17.23-27). Após um ano, Isaque foi circuncidado quando tinha oito dias de nascido, conforme a ordem de Deus (Gn 21.4). A circuncisão ao oitavo dia era simplesmente um sinal e selo de uma relação pactual já existente. As crianças foram incluídas na circuncisão, porque a promessa de Deus é para Abraão e seus descendentes. E não há no Novo Testamento nenhuma passagem que exclui as crianças do pacto ou da aliança da graça. Pelo contrário, no primeiro sermão após a descida do Espírito, Pedro diz: “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.39). Por isso, famílias inteiras foram batizadas na Igreja Primitiva, após os pais serem convertidos pelo Senhor (At 16.15, 33; 1Co 1.16).
Quinto, o batismo infantil envolve promessas e compromissos.
Na aliança da graça, Deus quer salvar a família (Hb 11.7; At 16.31). Ele quer ser o nosso Deus e dos nossos filhos (Gn 17.7). Para que isso aconteça, os pais assumem, no ato do batismo de seu filho, o compromisso de viver e ensinar a Bíblia para ele: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18.19). A tarefa dos pais é criar os filhos na Palavra de Deus (Dt 6.4-9; Sl 78.1-8; Ef 6.4), orando para que Deus cumpra fielmente a aliança de converter os filhos (Sl 103.17-18; Pv 22.6).
Concluindo, a Bíblia ensina que os filhos dos crentes hoje devem ser batizados. Isso simboliza que eles são separados para Deus (1Co 7.14). Eles já nascem fazendo parte da igreja, pois são semente santa. No ato do batismo, os pais se comprometem a criar seus filhos na Palavra de Deus. E o Pai, graciosamente, se compromete a cumprir a sua parte.
Rev. Arival Dias Casimiro
Pastor da Igreja Presbiteriana de Pinheiros
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