Outra reunião no inferno

Autor: Samuel Costa
Certa feita, todos os demônios se reuniram, como de costume, no final do ano, para realizarem a Assembléia Geral Ordinária, na qual todos os anjos do mal têm a obrigação de apresentar seus relatórios.
A reunião é num grande auditório, ao lado do inferno, por ocasião do jantar anual, promovido pelo colégio de treinamento de tentadores, destinado aos diabos ainda novatos. Algumas palavras são ditas inicialmente, a mesa executiva acaba de tomar assento e, então, procede-se à leitura dos relatórios. Um a um os demônios vêm à frente para apresentar suas maldades realizadas no ano que passou.
O primeiro anjo do mal, um jovem ainda, começou dizendo:
__ Estava eu no centro do oceano quando vi um navio repleto de pessoas. A maioria delas era composta de cristãos. Não titubiei. Com um sopro, irrompi sobre eles a maior tempestade já vista e o navio afundou matando a todos, inclusive os cristãos.
O diabo maior, que a tudo ouvia atentamente, balançou, lentamente, a cabeça asquerosa, e bradou:
__ Que estupidez! Os cristãos morrendo salvaram-se todos e já estão na presença do nosso inimigo.
O próximo a se colocar na tribuna foi um demônio de meia idade, com um sorriso cínico no canto dos lábios. Arrumou seus papéis, silenciosamente, fitou a assembléia para impressionar e, depois de alguns segundos, iniciou:
__ É do conhecimento de todos a minha paixão por líderes de igrejas. No último ano promovi uma revolução civil naquele país já costumeiro.
Neste momento as gargalhadas encheram o auditório. __ E dezenas de missionários foram mortos impiedosamente – continuou o relator.
Mais uma vez, o diabo maior impacientou-se, franziu a testa, tomou um lenço e enxugando o rosto suado, olhou rapidamente para todos os cantos do recinto, gritando nervosamente:
__ Até quando terei de ensinar que a morte dos justos em nada ajuda a nossa causa?
Por fim, tomou a palavra um demônio já velho, de cabelos grisalhos, experiente e com voz profunda:
__ Durante o último ano – falou ele à meia voz – só me preocupei com um cristão. Não o matei, nem fiz com que seus negócios falissem; ao contrário, não o atrapalhei em nada, mas impregnei sua mente com um comodismo tal, a ponto de torná-lo o maior crítico sobre tudo e todos. Também o transformei no mais apático de todos. Ele hoje não vê mais graça na sua igreja, nem no seu cônjuge e até já considera a possibilidade de abandoná-lo. Ele perdeu a noção de família. Hoje, é um eterno visitante na igreja. Apesar de salvo, sua vida inexpressiva não produz nada pelo seu salvador.
Nesse momento todo o auditório, inclusive o presidente da assembléia, levantou-se e aplaudiu o velho anjo mau. O salão se encheu com um som quase ensurdecedor das palmas e assobios por todos.
É preciso tomar cuidado com as estratégias do maligno. As ciladas estão por toda a parte; às vezes, dentro da própria igreja. Hoje há mais cristãos amortecidos em sua fé do que se imagina. Quem sabe boa parte desses já não sucumbiu a essa estratégia? Ninguém exerce sobre outros a influência terapêutica de Cristo, se for envolvido por esse processo de ruína evangélica. Qual tem sido o seu envolvimento com o Reino de Deus? Qual a sua real participação na obra do Senhor? A resposta a essas perguntas dirá o quanto se é vitorioso, ou não, na luta contra as “hostes do mal”.

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