Autor: Samuel Pinheiro, 2006-07-19
Quando Deus criou o homem decidiu sofrer por ele até à morte e morte de cruz.
Quando Deus criou o homem sabia tudo o que haveria de acontecer entre a criação e a nova criação possível através da encarnação do Filho, da Sua morte redentora e da Sua ressurreição.
Quando Deus criou tinha bem presente na Sua omnisciência todas as misérias, catástrofes, tragédias, injustiças; todo o pecado, sofrimento e morte que haveriam de marcar a história da desobediência. Mas Deus tinha também diante de Si todas as histórias de fé, abnegação, sacrifício, sujeição, submissão, amor, generosidade, perdão, arrependimento e conversão. E Deus viu que valia a pena criar o homem apesar de todo o mal, porque Ele haveria de o destruir e banir por completo do Seu reino.
Quando Deus criou o homem, antecipadamente viu o Dilúvio e toda a sua devastação, a Torre de Babel e a confusão das línguas, Sodoma e Gomorra, a prepotência dos faraós egípcios, a violência na ponta da espada dos exércitos dos impérios assírio e babilónico, persa, grego ou romano até aos arsenais nucleares dos séculos XX e XXI. Deus viu as bombas atómicas que explodiram em Hiroshima e Nagasaqui, os campos de concentração nazi, todos os campos de batalha fratricida juncados de corpos inertes. Deus viu todos os quadros degradantes da escravatura, pedofilia, violação e estupro.
Quando Deus criou o homem viu toda a humanidade e sabia da corrupção que haveria de inundar os corações dos homens, o egoísmo que haveria de tomar conta dos seus pensamentos e motivações, da inveja, da ganância, da maldade, da violência, da retaliação e da vingança.
Mas quando Deus criou o homem viu também o céu e uma multidão incontável de homens e de mulheres celebrando a Sua glória e desfrutando dela por toda a eternidade e verificou que valia a pena. A morte seria vencida. O pecado seria derrotado. O sofrimento haveria de ser banido. As lágrimas haveriam de desaparecer. O diabo seria denunciado em todos os seus planos malignos, ferido e feito prisioneiro para sempre.
Ele mesmo, o Criador, haveria de fazer tudo isso não pelos méritos ou virtudes do homem, mas pela Sua absoluta santidade, justiça, amor, misericórdia e graça.
Toda a criação, os seres angelicais, as potestades do mal e a humanidade haveriam de saber pela experiência real e concreta e não apenas em sonho ou visão, quem de facto Deus é, a Sua natureza em toda a Sua santidade, justiça, amor, misericórdia, longanimidade e graça.
Quando Deus criou o homem, não foi apanhado de surpresa quando este decidiu comer da árvore da ciência do bem e do mal e rejeitar os padrões de amor e justiça do Criador, na ânsia de fazer as coisas do seu jeito, deixando-se ir na tentação maligna mentirosa de que assim seria igual a Deus.
Quando Deus criou o homem e a mulher não criou uma coisa qualquer. Deus criou um ser livre que O podia aceitar e rejeitar, obedecer e desobedecer, amar e odiar, servir ou afrontar.
Quando Deus criou o homem não o criou para pecar mas sabendo que ele pecaria. O homem não pecou por defeito de fabrico, mas porque a excelência da sua criação implicava essa possibilidade na determinação soberana do Criador.
Confesso que eu que sou pecador quando tenho conhecimento do pecado alheio me exalto, enraiveço e clamo por retribuição. Deus, absolutamente santo e justo, antes de esgotar todas as oportunidades que este tempo contém, dispôs-se a morrer por todos nós, incluindo os que cometeram o que hoje se chama de crimes contra a humanidade, para através de Jesus dar perdão a todos os que O aceitem graciosamente, com arrependimento e conversão.
É isto que vemos de forma absoluta e suprema no exemplo de Cristo. É isto que também verificamos em homens e mulheres cujo coração foi profundamente tocado pela Sua santidade, justiça, amor, graça e misericórdia e por isso mesmo estavam dispostos a morrer no lugar dos seus contemporâneos e conterrâneos para que eles fossem salvos mesmo que porventura eles viessem a ser condenados em seu lugar.
Quanto eu preciso como cristão aprender do coração de Deus – Pai, Filho e Espírito Santo.
Deus escolheu o sofrimento. Deus decidiu a cruz para Si mesmo. Deus determinou tomar sobre a Sua própria pessoa os pecados de todas as Suas criaturas.
Ele sofreu porque quis que nós O conhecêssemos como de outra forma nunca O conheceríamos.
Deus se revela na criação, na queda do homem, ao longo de toda a História do pecado humano, na cruz, na ressurreição, na segunda vinda de Jesus, no Juízo final e nos novos céus e na nova terra em que habitará para sempre a justiça. É por isso que toda a desgraça que se abateu sobre a humanidade por causa da sua desobediência, redundará em glória mediante a suprema e absoluta graça divina para connosco. A desgraça acabará por apenas confirmar a graça de Deus para com a humanidade.
A vida mais miserável, o pecado mais nauseabundo, a história mais trágica, a pessoa mais ferida pela injustiça em Jesus Cristo é perdoada e reconciliada com o desígnio divino.
O ateísmo, o agnosticismo e toda e qualquer religião quedam-se pelo debate estéril sem alternativas ou cujas alternativas apenas acentuam o quadro do sofrimento e do absurdo. Vejam-se as propostas do aborto, da eutanásia, do suicídio assistido, das reencarnações, do carma, do comamos e bebamos que amanhã morreremos, do nada e da morte como o fim de tudo o que existe num universal túmulo e tudo o mais que gravita em torno delas. Através de Jesus toda a desgraça é convertida em graça, e todo o mal é transformado em bem. É isso que somos chamados a fazer como Seus discípulos na história do dia a dia, é isso que esperamos com expectativa no iminente retorno de Jesus Cristo.
Se Deus escolheu para si também o sofrimento antes da alegria retumbante que avassalará todo o Universo e o que para lá dele existirá, também nos criou sabendo que o sofrimento marcaria a nossa existência.
Como homens e mulheres sofremos mas não estamos sós nesse sofrimento, e ele não é a última e derradeira palavra. Ele apenas antecede a glória absoluta de Deus cobrindo a essência e existência para todo o sempre, de todos os que recebem a Jesus Cristo e n’Ele são feitos filhos de Deus.
O sofrimento é enorme. Não temos forma de medi-lo e vivemos hoje num tempo em que os meios de comunicação, muitas vezes, só lhe dão visibilidade, quando isso serve os seus intuitos sensacionalistas como produto que vende.
Apesar das suas proporções gigantescas, ainda assim, creio que Deus o limitou de tal forma que ele só tem a dimensão suficiente para chamar a nossa atenção para o que vai mal connosco e com este mundo e presente era, buscando de Deus o perdão e a certeza de uma vida eterna de bem-aventurança, mantendo um compromisso presente para contribuirmos para que ele seja cada vez mais minimizado. Temos como discípulos de Jesus a responsabilidade de diminuir o sofrimento, embora para tanto tenhamos que cultivar a abnegação e o espírito de sacrifício. É com sofrimento muitas vezes que se minora o sofrimento.
Há aqui dois tipos bem distintos de sofrimento na sua fonte e na sua motivação. O sofrimento da obediência seguindo os passos de Cristo originado pelo amor na luta contra o mal e a injustiça. O sofrimento da desobediência criado pelo pecado e pela maldade.
As profecias bíblicas apontam para um agudizar do sofrimento na medida em que a impiedade resultante do materialismo, do naturalismo, de uma filosofia decalcada num evolucionismo cego em que prevalece o mais forte e o mais capaz, tende a crescer levando os homens a uma vida cada vez mais egoísta, esbanjadora, carregada de vícios, libertina e imoral.
DEUS ESCOLHE ALGUNS PARA SOFRER DE MODO ESPECIAL
O caso de Job é um caso paradigmático. Mas a esta galeria pertencem homens como Abraão, Moisés, Daniel, Sadraque, Meseque e Abdenego, Paulo, Pedro, João, Tiago e todos os que estão incluídos no texto de Hebreus capítulo 11. Todos os mártires que ao longo da História pontuaram com o seu sangue a fé cristã.
Os grandes feitos que através deles Deus realizou foram acompanhados de momentos, muitas vezes muito prolongados, de intenso sofrimento físico, psíquico e espiritual. Muitos, muitos mais do que aqueles dos quais conhecemos os nomes, entraram na glória celestial em meio a um sofrimento profundo.
Essa escolha de Deus é acompanhada pela aceitação voluntária daqueles a quem é dirigida. Veja-se o caso exemplar de Moisés apresentado na epístola aos Hebreus:
“Pela fé Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus, a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opóbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egipto, porque contemplava o galardão. Pela fé ele abandonou o Egipto nem ficou amedrontado pela cólera do rei; antes permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível.” (Hebreus 11:24-27).
TODOS OS DISCÍPULOS DE JESUS SABEM QUE O SOFRIMENTO FAZ PARTE DA SUA PEREGRINAÇÃO TERRENA
Não há como ser discípulo de Jesus e escapar ao sofrimento.
Não há como fazer parte da Sua Igreja e deixar de sofrer com os que sofrem.
Não há como andar na luz de Cristo e não experimentar no corpo como na alma e até no espírito, a oposição das trevas que se lhe opõem ferozmente.
Jesus Cristo não deixou margem para dúvidas os que com Ele e com o Seu reino se comprometessem acerca dos sofrimentos que lhe estão associados, antes que venha o grande dia da Sua segunda vinda.
“No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33).
EM MEIO A UMA GERAÇÃO CORROMPIDA PELO PRAZER A QUALQUER PREÇO TEMOS QUE VALORIZAR O SOFRIMENTO QUE FAZ PARTE DA VIDA CRISTÃ
Humildemente levanto aqui um tributo a todos os que hoje, de forma incógnita para os homens, mas de modo nenhum em relação a Deus, sofrem com os que sofrem, vão em busca dos sem abrigo e dos desamparados,
Não tenho dúvida nenhuma de que no céu serão honrados todos os que sem fama e sem reconhecimento humano, sem o brilho dos espectáculos fúteis e transitórios se deram, se gastaram nas mãos de Deus em favor dos oprimidos,
Tenho aqui muitas vezes criticado os meios de comunicação estatais em face de programas espiritual, moral e eticamente paupérrimos onde apenas pontua a sensualidade e a mercantilização da beleza do corpo, mas quero aqui fazer justiça ao programa “Príncipes do Nada” da RTP1 que deu um pouco de visibilidade e creio que por essa via, um pouco de motivação e incitamento, a alguns exemplos de abnegação, espírito de sacrifício e amor ao próximo. Só não concordo com o título, porque no meu entender os que assim vivem são príncipes do que existe de mais valioso na criação divina – a pessoa humana, independentemente da sua língua, raça, estatuto social ou religião.
O que é um golo num campeonato mundial de futebol pago a peso de ouro, a taça erguida pelo vencedor, as ovações num festival europeu da canção; comparados com a abnegação, o espírito de sacrifício, a solidariedade, o afecto expressos entre os mais pobres entre os pobres ou junto da cama de uma pessoa com deficiência, ou em estado terminal?
Como a nossa cultura está a anos-luz do Evangelho de Jesus Cristo! Como temos de ter cuidado para que o puro e genuíno Evangelho de Jesus não seja, na nossa vida, contaminado pela cultura que nos rodeia! Como é que avaliamos as nossas prioridades? Quem são para nós as pessoas e os gestos verdadeiramente importantes? Quem são os nossos heróis e mentores?
Lembremos porém sempre que somos salvos pela graça, por meio da fé, para as boas obras que Deus preparou de antemão para que as praticássemos e com elas também o glorificássemos.
O SOFRIMENTO TEM OS DIAS CONTADOS E NÃO É PARA COMPARAR COM A GLÓRIA PORVIR
O Evangelho é esperança. O sofrimento de Jesus Cristo deu-nos a garantia de que esta presente condição não prevalecerá. A cruz deu lugar à ressurreição e ao trono. Também a cruz de cada um de nós que voluntariamente tomamos na identificação com Aquele que por nós deu a Sua vida, dando-nos nós também a Ele, para vivermos em novidade de vida, tem os seus dias contados.
Jesus voltará em breve. Não virá mais para sofrer, mas para colocar definitivamente um ponto final no sofrimento de todos os que receberam humildemente o Seu perdão e se identificaram com Ele num novo estilo de vida marcado pela generosidade, pelo amor, pelo perdão e pelo serviço.
Paulo diz-nos da parte de Deus isto mesmo de forma magistral:
“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adopção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque na esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.” (Romanos 8:18-25)
SOFRIMENTOS ESCUSADOS
Podemos evitar algum sofrimento na nossa vida e na vida daqueles que nos rodeiam.
Se é verdade que podemos suavizar o sofrimento daqueles que nos são próximos, também é verdade que há muito sofrimento que poderia ser radicalmente reduzido se os homens vivessem segundo a santidade, a justiça, o amor do coração divino e traduzido nas Suas leis.
Quanta violência, quanto luto, quanta fome, quanta doença, quanta miséria poderiam ser banidas se cada homem prestasse atenção ao que Deus diz e se dispusesse a receber o poder que Deus dá para vencer tudo o que causa ruína, doença e morte.
Mesmo como discípulos de Jesus quanto do nosso sofrimento é escusado quando em vez de vivermos pela fé, na confiança incondicional na soberania divina, vivemos atulhados em temores, ansiedades, preocupações e medos.
Em tudo dependamos de Deus e estejamos atentos à Sua orientação de tal maneira que vivamos o sofrimento na justa medida e proporção do Seu querer, encontrando n’Ele a nossa fonte permanente de paz, esperança e alegria.
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” (Mateus 5:11,12).
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