Autor: Ronaldo Cavalcante
O relato que oferecemos a é uma descrição sóbria do processo (julgamento e condenação) do mais importante apologista grego desse período (século II), o célebre filósofo que, com outros companheiros, experimentou o martírio em 65 sob o reinado do imperador Marco Aurélio Antonino. Escolhemos essa Acta, em meio a tantas, por bem representar o período estudado:
I. Naqueles anos de fanatismo pelo culto idolátrico foram publicados nas cidades e povoados editos obrigando os cristãos a sacrificar em honra dos ídolos. Apressaram os santos e os conduziram perante o prefeito de Roma, chamado Rústico.
II. Já no tribunal, o prefeito Rústico disse a Justino: A primeira coisa que deves fazer é crer nos deuses e obedecer aos imperadores.
2. Justino respondeu: O melhor e mais louvável é fazer o que mandou nosso salvador Jesus Cristo.
. Continuou Rústico: Que doutrina tu segues?
Eu, respondeu Justino, me informei de toda classe de filosofia e escolhi a doutrina cristã, porque é a verdadeira.
. Replicou o prefeito: Miserável! Então gostas dessa doutrina!
Justino: Exatamente. Eu a sigo por ser verdade.
5. O prefeito: Em que consiste essa verdade?
Justino: Ela nos manda adorar ao Deus dos cristãos, o único Deus, que fez tudo o que é visível e invisível, e ela nos ensina que Jesus Cristo é seu Filho, a quem os profetas anunciaram que viria ao mundo para ensinar-nos e ser a salvação.
6. Eu, pobre homem, que posso dizer do Deus que é infinito? Para falar dele eu teria de ser profeta como aqueles que anteriormente o proclamaram Filho de Deus.
7. Tens que saber que eles, inspirados por Deus, anunciaram sua vinda entre os homens.
III. O prefeito Rústico: Onde vos reunis?
Justino: Onde pode e prefere cada um; não penses que nos reunimos em um só lugar. Porque o Deus dos cristãos está em todas as partes, não em um local determinado, mas, como é invisível, preenche os céus e a terra. Seus fiéis o adoram e dão glória em todas as partes.
2. O prefeito: Diga-me em que lugar tu te reúnes com teus discípulos.
. Justino: Vivo na casa de Martim, próximo ao Banho Timeotino, onde tenho vivido todo o tempo que estou em Roma esta segunda vez. É o único lugar de reuniões que conheço. Todos os que foram me ver, eu os ensinei a doutrina verdadeira.
. O prefeito Rústico: Então, definitivamente te declaras cristão?
Justino: Sim, sou cristão.
IV. O prefeito Rústico, voltando-se a Caritão, lhe perguntou: Tu também és cristão? Caritão respondeu: Sou, graças a Deus.
2. O prefeito, dirigindo-se a Caridade: E tu, que me dizes?
Caridade respondeu: Sou cristã, pela graça de Deus.
. Em seguida, o prefeito a Evelpisto: E tu, que és?
Evelpisto respondeu: Um escravo de César. Também sou cristão.
Cristo me deu a liberdade e, pela sua glória, compartilho com esses minha esperança.
. Rústico a Hierax: Tu também és cristão?
Hierax: Sim. Também eu sou cristão. Como eles, pratico e adoro ao mesmo Deus.
5. O prefeito continuou: Quem os fez cristãos? Foi Justino?
Hierax respondeu: Eu sou cristão antes e continuarei sendo.
6. Então Piônio se levantou e disse: Também eu sou cristão.
Quem te ensinou a sê-lo?
Meus pais. Deles recebi essa formosa confissão.
7. Interveio Evelpisto: Eu gostava de ouvir os discursos de Justino, porém sou cristão por meio dos meus pais.
Prosseguiu o prefeito: E teus pais, onde estão?
Na Capadócia, respondeu Evelpisto.
8. Héraclas replicou a Rústico: Nosso verdadeiro pai é Cristo, e a fé que temos nele é nossa mãe. Meus pais por quem perguntas já morreram. Estou aqui porque me trouxeram à força de Icônio da
Frígia.
9. O prefeito Rústico se dirigiu a Liberiano: E tu, também és um cristão? Tu tampouco tens religião?
Respondeu Liberiano: Correto. Sou cristão. E nessa religião adora-se ao único Deus verdadeiro.
V. Voltando-se o prefeito a Justino: Ouve. Tu que te dizes homem culto e que crês conhecer as doutrinas verdadeiras. Se mando que sejas flagelado e logo te cortem a cabeça, tens certeza de que subirás ao céu?
2. Justino respondeu: Espero conseguir, se sofro, o que dizes. E estou igualmente convencido de que todos os que vivem retamente em todo o mundo conseguirão.
. Prosseguiu o prefeito Rústico: Concluindo. Tu imaginas que vais subir aos céus onde receberás qualquer tipo de recompensa?
Justino respondeu: Não é que eu imagino. Estou plenamente convencido, não tenho a menor dúvida.
. O prefeito Rústico concluiu: Sem mais conversa, vamos ao ponto central da questão: Todos juntos agora e com uma só vontade sacrifiquem aos deuses.
Justino contestou: Ninguém, enquanto estiver em são juízo, passará da piedade à impiedade.
5. Replicou o prefeito: Se não obedecerdes, sereis castigados sem compaixão.
6. Justino respondeu: Precisamente o que mais desejamos é sofrer por amor a nosso Senhor Jesus Cristo para salvar-nos. Sofrimento que nos infunde confiança de salvação para comparecer perante o tribunal tremendo e universal de nosso Senhor e Salvador.
7. O mesmo responderam os outros mártires: Somos cristãos. Faz o que quiseres, porém não sacrificaremos aos ídolos.
8. O prefeito Rústico pronunciou a sentença: Por haverdes recusado sacrificar aos deuses, desobedecendo ao imperador, depois de chicoteados, deveis ser conduzidos ao suplício e, conforme as leis, decapitados.
VI. Os santos mártires foram louvando a Deus até chegar ao lugar de costume. Ali lhes cortaram a cabeça e eles conseguiram o martírio, confessando sua fé
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