Autor: Silas de Lima
I- Nossos irmãos indígenas podem ser considerados verdadeiros heróis brasileiros.
A situação atual do índio brasileiro está razoavelmente bem. Estão passando por uma época de certa tranqüilidade e até mesmo privilégios em nosso país. Mas, tem sido a duras penas e durante mais de cinco séculos, que o índio brasileiro vem conquistando respeito pelos seus direitos.Proclamando o Evangelho no rádio (15/11)
Não tive o que merecia, mas… (14/11)
Alicerces Firmes para crianças (14/11)
Alicerces Firmes (28/08)
Tarde demais… (02/04)
A história da colonização da América está pontilhada de marcas da hegemonia do não-índio – os ‘conquistadores’ sobre o novo mundo. Os índios eram os verdadeiros ‘cidadãos’ da terra, mas a sujeição deles pela dominação colonialista (algumas vezes escravagista) é um pecado histórico que envolveu nossos antepassados e que nos envergonha.
Esses povos mostraram sua garra pois enfrentaram a ambição dos colonizadores, a discriminação, a injusta competição com a sociedade industrializada e conseguiram, não somente sobreviver, mas se auto afirmar como povos diferenciados e dignos.
É certo que não temos como regressar no tempo para corrigir os erros passados, mas o que podemos e devemos fazer hoje é procurar tratar com dignidade o remanescente atual dos nossos povos nativos, descendentes daqueles que não foram respeitados.
Hoje os índios já têm algo que comemorar:
Uma população que vinha sendo extinta retomou o seu crescimento.
Os dados de 1957 estimavam uma população máxima de 99.700 pessoas; mas de lá para cá houve acentuado crescimento e, conforme as revistas Isto é e Eclésia, sua população atual é de 390.000 dos quais 30.000 vivem no asfalto segundo levantamento do CIMI (Conselho Indigenista Missionário).1
Enquanto que a taxa de crescimento demográfico nacional está estacionada em 1,3% ao ano, a das populações indígenas alcança a taxa de 3,5 %.
A constituição de 1988 avançou no reconhecimento dos seus direitos. O direito à terra que é condição básica para o bem estar e a sobrevivência das sociedades indígenas está sendo respeitado. Isto se pode observar pelo fato que os últimos governos têm se empenhado pela demarcação das suas terras e esse esforço está sendo bem sucedido. Novas áreas são demarcadas e outras estão em processo para isso.
A assistência prestada ao índio, em muitos casos, é bem melhor do que a que está disponível aos colonos, ribeirinhos e população rural. Eles têm uma melhor assistência de saúde onde vivem e, quando precisam ir á cidade há todo um esquema em prol da sua saúde. Com a FUNASA isso tende a melhorar ainda mais.
De fato, hoje se valoriza melhor o índio e já pode-se dizer com admiração e maior respeito: O índio, esse meu irmão! E isso não é apenas retórica de expressão em data comemorativa, mas é o reconhecimento sincero de que todos juntos – índios e não índios – formamos a cara do Brasil. E mais, essa irmandade se firma não apenas pelo fato de vivermos em um mesmo país, mas também pela sua grande participação na origem de nossa gente. Somos euro-afro-indígenas: o povo miscigenado do Brasil. Não dá pra negar nossas origens.
No primeiro século da história do Brasil não vieram muitas mulheres européias para cá. Desse modo nossas avós foram todas índias. Prova disso o ‘Jornal Nacional’ do dia 18.04.00 informou que estudos científicos da UFMG atestaram que os genes formadores do povo brasileiro têm muito mais sangue do ameríndio do que se pensava. Esse estudo revelou os seguintes percentuais genéticos: 39% de europeus, 33% de indígens e 28% de africanos.
II- Como compreender o índio?
Ao longo da história o índio não tem sido bem compreendido e algumas vezes mal-visto. Isso porque procuramos vê-lo sob o prisma de nossa sociedade capitalista, ambiciosa e desenvolvimentista. São óticas capitalistas que distorcem os valores de sua cultura humana e despretenciosa.
Há dois extremos a evitar: por um lado, a discriminação contra o índio como um ser bizarro, rude e exótico é muito infeliz, e por outro, tentar concebê-lo com uma aura de inocência e pureza angelical é puro romantismo poético. As duas são absolutamente diferentes da realidade.
Não se diz o óbvio, mas é bom relembrar que ele é um ser humano dotado de todas as capacidades como qualquer outro. Não é mais nem menos do que o não-índio. Tem virtudes e defeitos, carências e necessidades como qualquer pessoa.
O maior desenvolvimento tecnológico não torna uma sociedade melhor que outra. Na sua simplicidade de vida, as sociedades indígenas têm muito a nos ensinar sobre a vida em fraternidade .
Como humano o índio também sonha. Tem desejos e aspirações. O que se vê é que ele também procura encontrar meios para o seu bem-estar de forma holística. Tem desejo de envolver sua vida na sociedade. Procura o desenvolvimento físico, intelectual, social e espiritual. Exigir que se integre à nossa sociedade é inaceitável, mesmo porque a sua sociedade tem muitas vantagens em relação á sociedade envolvente. Por outro lado, tentar isolá-lo no seu mundo é coibir seus sonhos, subestimar sua capacidade de análise e julgamento e restringir sua liberdade. Ele pode escolher seu destino, é capaz disso!
Os movimentos indígenas são uma prova de sua tenacidade e capacidade de se auto- afirmar no processo de convivência com a sociedade majoritária, sem perder seus valores. Centenas de associações civis indígenas se formaram e outras estão se formando pelo Brasil afora. É mister apoiar essa sua iniciativa pois eles estão querendo nos dar um recado: ‘Querem decidir por nós sem conhecer a nossa vontade’. Estão querendo nos dizer: Não somos crianças nem inferiores. Queremos ser respeitados como povos diferenciados de igual para igual, não aceitamos a ascendência de outrem sobre nós!
III- O que os missionários fazem em prol do índio?
Como agências missionárias nosso papel é cooperar com os órgãos públicos responsáveis pelo atendimento aos índios: FUNAI / FUNASA / MEC. Jamais tivemos a pretenção de substituí-los mas sim de sermos um apoio a esses órgãos.
A própria política indigenista oficial reconhece que o trato com o índio é uma questão de toda sociedade civil, não apenas do governo. Da homepage da FUNAI destacamos: “O processo de democratização da sociedade e a falta de condições do Estado brasileiro de prestar a necessária assistência aos índios, contribuíram para o surgimento de entidades civis ligadas à causa, que fizeram a questão indígena ultrapassar os limites das discussões acadêmicas e da própria FUNAI.”
As agências missionárias têm procurado manter-se atualizadas com a política indigenista e cooperar para o bem do índio no que for possível. Procuramos evitar o paternalismo assistencialista e nos envolver com o bem-estar do índio repassando-lhe instrumentos úteis para a consecução dos seus sonhos e de seus ideais.
Geralmente nos envolvemos em quatro necessidades essenciais ao índio:
– escola bilíngüe, sempre existe um esforço dos missionários para valorizar a lingua e cultura indígenas fazendo um registro e dando-lhe a oportunidade de assegurar a língua como veículo da sua cultura. Procuramos formar professores indígenas também.
– apoio à saúde: em muitas aldeias os missionários prestam assistência de saúde e ajudam na formação de AIS como enfermeiros, laboratoristas, motoristas fluviais e agentes sanitaristas para minimizar os seus problemas de saúde.
– projetos de desenvolvimento sustentado: para evitar o assistencialismo tem-se procurado promover alternativas produtivas e econômicas em muitas comunidades. Isso se faz como projetos tecnicamente elaborados ou como apoio a pequenas iniciativas do índio.
– disponibilizando ao índio o acesso aos conhecimentos de nossa sociedade: legislação, política, governo e também da Bíblia Sagrada, possibilitando-lhe uma opção sua pelos valores do cristianismo.
É isso que as agências missionárias atuando em colaboração mútua entre si e também em cooperação com os órgãos públicos têm procurado fazer pelo índio brasileiro.
(Artigo publicado pela revista Alcance da APMT)
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1 Nascimento, Gilberto Informações das revistas Isto é de 19.04.00:54 e Fernandes, Carlos Eclésia – maio de 2000:19
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