Autor: Valdir Xavier de França
Todos nós indistintamente, estamos familiarizados com o apagão e suas implicações e conseqüências. Toda a sociedade espera demissões, aumento da criminalidade, multas, cortes para quem não conseguir atingir a cota estabelecida, e crise nos serviços essenciais como hospitais, telefonia, aeroportos e etc.
Porém, o apagão não é nenhuma novidade. A Bíblia já chamava a nossa atenção para um outro apagão registrado por Mateus, que também tem suas implicações e conseqüências para todos nós. Ele procura relacionar as palavras do profeta Isaias com a mudança de Jesus para dentro do território Galileu, e as suas implicações para a missão em direção aos gentios, dizendo que “…o povo que jazia nas trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz”. A terra de Zebulom e Naftali, a Galiléia dos gentios é a terra que Deus havia prometido ao seu povo e que agora se encontrava ocupada pelo governo imperial romano, e previamente pela Assíria. Sua “teologia” imperial pagã acreditava que o domínio da possessão de Deus era a vontade de “Júpiter” sendo realizada.
As trevas simbolizam várias realidades ao mesmo tempo, mas especialmente aquilo que é contrário aos propósitos de Deus, o doador da vida. No uso original, o texto está se referindo a um povo oprimido que tinha sofrido o ataque da Assíria e também sido deportado (cf. 2 Rs. 15:29;1 Cr. 5:26). Para este povo a libertação é prometida: um filho da casa de Davi vai trazer salvação (Is.9:6-7). Mateus toma essa profecia e usa para o ministério de Jesus, a quem ele se refere como sendo o filho dessa promessa. Porém, existe uma mudança de destruição literal e política para trevas morais e espirituais. As trevas falam do ímpio, que pratica a injustiça contra o pobre e necessitado (Sl. 81:5; Jó 24:2-17). Contrastando com os justos que temem ao Senhor, que andam em retidão, que dão ao pobre e necessitado, estes são luz no meio das trevas (Sl. 111:4). As trevas não são somente uma condição espiritual, mas política, social, econômica, e também atos religiosos e estruturas tais como o imperialismo, (que impedem por exemplo que os povos indígenas brasileiros tenham acesso ao evangelho) e que são contrários aos propósitos de Deus.
No entanto, na história de Deus as trevas nunca têm a última palavra, elas estão sempre sujeitas ao poder soberano do criador. A presença de Jesus na Galiléia, como o comissionado por Deus para manifestar sua presença salvadora, garante o abastecimento dessa luz geradora de vida, que dissipa as trevas. A luz que ilumina os homens chega e resgata as pessoas do apagão da opressão política ou da miséria pessoal. A luz significa o reinado de justiça de Deus, de retidão, e paz, que quebra a “vara do opressor” (Is.11:4-7).
O que estamos fazendo nós, enquanto povo de Deus, com relação ao apagão (trevas) do pecado, da corrupção, da idolatria capitalista, da indiferença social, e das estruturas geradoras de morte e miséria que afrontam a soberania de Deus? A missão para a qual Jesus chama sua igreja, é a de estabelecer comunidades com uma prática socioeconômica distinta que reconheça e antecipe o completo estabelecimento do Império de Deus sobre todos os outros. Como disse Caio Fábio, somos convocados a “fazer maquetes do Reino de Deus, mesmo que imperfeitas”.
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