Medo ou fobia?

Autor: Elisangela Viana

“Ora, o medo produz tormento” (I JO 4:18 b).  O medo é uma emoção que tem como principal função sinalizar ao homem a existência de um perigo, de uma ameaça (real ou imaginária) ao seu bem estar.  A necessidade do homem em sentir-se protegido e seguro de sofrimentos é muito natural. Porém, o medo ou a fobia tem muitas vezes o poder de paralisar e impedir o viver saudável, pois através deste, o indivíduo pode esconder-se de si mesmo, das relações com o próximo e até mesmo de Deus. É importante observar que o medo se apresenta em muitas situações. Algumas pessoas têm medo de sair na rua, de estar no meio de multidão, em andar de avião, de ficar sozinho, de traição, de violência, da morte, do futuro, etc. E existem alguns medos que são fobias, como por exemplo: mesofobia (medo de contagiar-se), nictofobia (medo da escuridão), claustrofobia (medo de lugares fechados), animais (zoofobia), acrofobia (medo das alturas), doença, sangue (hematofobia), agorafobia (medo de lugares públicos, situações sociais).  Para facilitar, poderemos classificar o medo em formas e níveis diferentes: natural, traumático ou fóbico.
1. Medo natural: O medo natural tem como objeto principal um perigo real (fato ou situação) que realmente atinge seu bem estar e provoca males. Em Mateus 14:22-33 analisamos o comportamento dos discípulos diante de uma situação de pavor. Estavam “tomados de medo” (v.26), e por causa deste medo gritaram e se desesperaram. Por alguns momentos, Pedro confiou em Jesus e não prestou atenção ao que estava ao seu redor. Porém, logo voltou a olhar o perigo em função de seu impulso de sobrevivência. Apesar de Jesus se referir a Pedro como homem de pequena fé, estendeu a ele a sua mão, demonstrando que é possível vencer o medo natural através da fé e da coragem ou confiando no gesto de apoio do outro. O medo natural pode ter a função de sinalizar ao homem sobre um perigo ou ameaça eminentes e assim contribuir para proteção deste. Com isso, procura abrigo e proteção.
2. Medo traumático: Este é o forte medo desencadeado por situações traumáticas, que marcaram a vida, ou imaginado pela pessoa dessa forma. Esse medo também pode se apresentar como uma ausência de coragem e forte dificuldade em lidar com as perdas que já sofreu, pensa-se que irá reviver as mesmas situações. É possível que se manifeste através de um forte desânimo ou depressão, trazendo barreiras ou impedimentos ao crescimento pessoal. Em Mt 25: 14-27, observamos um homem que por medo escondeu seu talento: “receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu” (vs 25).  Sentiu medo de acreditar em si mesmo e assim não foi corajoso para investir no talento que recebeu.  Na verdade, nem mesmo acreditou que o tivesse recebido, pois ele diz: “escondi o teu talento”. Tinha muito medo de desapontar o seu senhor e perder o pouco que tinha, por isso não ousou multiplicá-lo.
3. Fobia: A fobia pode ser considerada como uma grave angústia que apresenta sensação de ansiedade; imobiliza e restringe o indivíduo. O fóbico vivencia verdadeiro tormento e pânico diante do seu objeto temido ou situação, que nem sempre apresenta perigo real. A fobia é um tipo de medo excessivo e irracional de algo específico, provocando ação de evitar a qualquer custo este encontro. Pode apresentar os seguintes sintomas fisiológicos: aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração, sudorese, secura na boca, tensão muscular e tremores. Quando o indivíduo está diante do objeto ou situação que teme, ocorre um desequilíbrio de substâncias (serotonina e dopamina) no cérebro. Esta pode ser uma reação normal que possibilita ao indivíduo enfrentar, defender-se ou fugir, preservando assim seu equilíbrio e/ou integridade física. No entanto, no caso da fobia, no objeto ou situação, não há perigo real (ou pelo menos na proporção imaginada).
As Escrituras afirmam: “Antes, o perfeito amor lança fora o medo. (I JO 4:18). Seja qual for o nível de comprometimento apresentado, há possibilidades de elaboração e tratamento àqueles que vivenciam questões relacionadas ao medo. É importante observar os modelos bíblicos e escolher alguns como referência ao nosso bem estar. Com Adão aprendemos a recuar, a nos esconder, a temer os castigos, a desconfiar de Deus, a não acreditar no próximo, a agredir e a trair. Mas com Jesus aprendemos a respeito do AMOR, e sabemos que “o amor lança fora todo o medo”.  Se temos a figura de Adão como perdido, confuso, culpado e atemorizado, também temos a figura de Cristo que enfrentou situações terríveis: afrontas, traição, julgamentos, rejeição, desprezo, solidão, dores e a morte (Mt 27:29-31).  Observamos nele a coragem com amor, e é por este amor que se faz possível  lançar fora o medo. O Sl 23 apresenta a expressão de um homem que confiava no seu Deus, sentia-se seguro com sua presença.  Disse: “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não temerei mal algum porque tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam” (v. 4). Mesmo diante da morte e do mal (perigo real) o salmista não temia, pois estava seguro de que não estava sozinho. É preciso ter atitudes de coragem para enfrentar o novo e ter atitudes de entrega a Deus, à vida, e ao próximo. É preciso saber se arriscar, mesmo sabendo que as dificuldades, perdas e frustrações possam surgir.
É importante aprender a lidar com todos os tipos de medo. O medo natural é utilizado como um mecanismo para nos defendermos, e muitas vezes é necessário para nossa proteção. O medo traumático ou fóbico pode ser um sinal de que algo não está bem, ou seja, a expressão de um conflito interno que precisa ser analisado e tratado. É fundamental compreender o medo no contexto de vida da pessoa e tratar respeitando sua singularidade e história pessoal. O processo terapêutico pode ser um caminho de transformação, pois é importante um espaço para tratar de questões internas, possibilitando assim, a reconstrução da história de vida do sujeito.

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