Jesus Cristo e o diálogo entre homens e religiões

Autor: Samuel R. Pinheiro




À PROCURA DA PAZ

Lisboa foi palco, pela primeira vez, do XIII Encontro Internacional Homens e Religiões, com a presença de 300 personalidades de 50 países, incluindo representantes de diversos quadrantes religiosos e de agnósticos.

O tema genérico debatido “Oceanos de Paz – Religiões e Culturas em Diálogo”, encerra diversos tópicos interessantes, de entre os quais se salienta o esforço denodado de encontrar uma via que possibilite uma paz que teima em escoar-se por entre os dedos dos diplomatas e esfumar-se, cada vez mais, nos horizontes internacionais. Acabada a guerra fria, derrubado o muro de Berlim, em todos os cantos do mundo a paz está cada vez mais longe de ser uma realidade. Às vezes temos a impressão de vivermos sobre um barril de pólvora, que de um momento para o outro pode explodir.

Não estivemos presentes neste encontro e o que soubemos foi apenas o que foi veiculado por alguns órgãos de informação. A fazer fé no que eles disseram atrevemo-nos a tecer algumas considerações.

EQUÍVOCOS

Julgamos que este e outros encontros promotores do diálogo religioso incorrem em alguns equívocos nocivos.

O primeiro deles consiste em atribuir às religiões a causa dos conflitos que grassam em várias partes do globo. Uma análise mais atenta constatará que as razões que estão por detrás deles, são muito mais de ordem económica, política, étnica do que religiosa. Não negamos que a religião não tenha também a sua cota parte de responsabilidade, mas os outros aspectos serão certamente muito mais determinantes.

O segundo equívoco consiste em pensar que através do diálogo entre as religiões se podem atenuar esses conflitos. As religiões sofrem dentro de si mesmo de inúmeros conflitos, cisões e atropelos. As religiões podem de alguma forma incentivar um clima de diálogo e de respeito mútuo, mas não conseguirão arrancar dentro do homem a raiz que provoca as guerras e desavenças.

O terceiro equívoco reside em dar a ideia de que uma posição exclusivista seja por si só provocadora de conflitos e que, portanto, é necessário, a bem da paz, considerar que todas as religiões e todas as vivências espirituais são igualmente válidas. Vejamos o caso do Cristianismo como ele nos é veiculado através dos Evangelhos e das epístolas.

Ninguém duvidará pelos textos disponíveis na Bíblia Sagrada, que Jesus Cristo se apresentou a Ele mesmo como o único meio através do qual o homem pode chegar a Deus. Essa Sua reivindicação está perfeitamente conjugada com uma atitude de respeito pelos outros e de pacifismo. Nunca Ele insinuou que a fé cristã possa ser imposta utilizando a força das armas, ou até a força dos argumentos.

A sua crucificação é disto mesmo uma demonstração cabal, embora tenha aceite morrer não como um simples mártir, mas como Salvador e substituto do homem face à Sua própria justiça. A justiça de Deus foi satisfeita e o Seu amor incondicional foi expresso, para que possamos viver totalmente livres do pecado e da culpa que ele gera, e que não vale a pena negar ou escamotear.

A perseguição da Igreja, ao longo dos primeiros séculos, às mãos dos imperadores romanos, também demonstra cabalmente como a singularidade e exclusividade de Jesus Cristo não tem que obrigatoriamente mover os homens para a guerra. É verdade que as convicções, declarações e vivência desses cristãos irritaram e provocaram a ira e o ódio dos seus conterrâneos, mas os cristãos não podem ser acusados de responsáveis dessa perseguição a não ser por má fé. O que dizer das prisões, torturas e deportações de políticos na defesa dos princípios da democracia. Será que também eles foram os causadores? Confundir as vítimas com os instigadores, os perseguidos com os perseguidores é inaceitável. Tentar acabar com as diferenças, dizer que tudo é a mesma coisa, para conseguir a paz, é ter no fim uma paz podre e incorrer numa ilusão fatal.

O quarto equívoco advém de se considerar que o diálogo por si só chega para construir a paz. O diálogo é importante, ouvir e compreender melhor as opiniões dos outros é importante, mas a paz só será possível do ponto de vista cristão por uma mudança operada no interior de cada homem e mulher, por Aquele que nos é apresentado como o Príncipe da Paz.

O tema da paz é caro à Bíblia Sagrada e daí inferirmos ao próprio coração de Deus. A paz segundo a Sua revelação desapareceu quando o homem se rebelou contra o Criador e começou a tentar construir o seu próprio império sob o comando do rebelde mor – o Diabo! Desde esse momento nunca mais o homem conseguiu a paz.

Quando Jesus Cristo nasceu, e estamos precisamente agora a recordar o Seu nascimento há cerca de dois mil anos atrás, os anjos cantaram "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens a quem ele quer bem!" (Lucas 2:14) A partir daí Deus introduziu no mundo o Autor da paz. Pouco antes de se sujeitar à crucificação em conversa com os Seus discípulos disse-lhes: “É a minha paz que vos deixo. É a minha paz que vos dou. Mas não a dou como a dá o mundo. Não se preocupem nem tenham medo.” (João 14:27)

Este equívoco reside no facto de se teimar em ver apenas os conflitos de um ponto de vista político, em termos geoestratégicos, no plano internacional. A paz ou a falta dela tem que ver, antes de tudo o mais, com o coração do homem individualmente falando. A paz que falta entre as nações, entre os grupos étnicos e económicos, começa por não existir dentro do homem, entre o homem e Deus, para depois continuar a propagar-se entre os homens seja na família, seja na escola, no local de trabalho, no tráfego, nos campos de futebol, nos meios de comunicação, etc.

Sabemos muito bem que, algumas vezes na história, indivíduos e grupos, instituições e sistemas denominados cristãos, lançaram mão da força e da violência para imporem os seus interesses. Mesmo aqui uma análise atenta concluirá que as motivações eram menos da fé e mais do poder, do dinheiro, da influência, do domínio. Uma coisa certamente não ignoraremos, é que não é na vida e ensino de Jesus Cristo que esses procedimentos foram colhidos, e não podemos ignorar que o próprio alertou os Seus seguidores para esses desvios ao Seu exemplo e palavra.

O papel da Igreja cristã é disseminar a paz, mas não de qualquer maneira. Não podemos embarcar no discurso fácil de pensarmos que a paz pode ser conseguida superficialmente. Há que ter a coragem para chamar o homem às suas responsabilidades diante do Seu Criador. Todas as boas intenções não chegam e não lograrão os seus objectivos, quando desconsideram o nervo da questão que é o relacionamento do ser humano com Deus, só possível através de Cristo.

Somos chamados a ser embaixadores de Deus convocando os homens a reconciliarem-se com Ele. É o que nos diz o Espírito Santo através do apóstolo Paulo, ele mesmo surpreendido por Deus quando respirava rancores e ódios contra os seguidores de Jesus: “Isto é obra de Deus que, em Cristo, nos reconciliou consigo e nos chamou a colaborar nessa obra de reconciliação. Assim, Deus, por meio de Cristo, reconciliou consigo a humanidade, não tendo em conta os seus pecados e encarregando-nos de anunciar a obra da reconciliação. O encargo que eu tenho é, portanto, exercido em nome de Cristo e é Deus que fala por meu intermédio. Em nome de Cristo vos peço, irmãos, que se reconciliem com Deus. Cristo não tinha cometido pecado, mas Deus, para nosso bem, tratou-o como pecador, para que nós, em união com ele pudéssemos ser bem aceites por Deus.” (II Coríntios 5:18-21) É assim que, de uma forma simples e singela, muitas vezes incompreendida e sem o apoio dos grandes meios de informação, continuamos a apelar a todo o homem e mulher para que se reconciliem com Deus.

Pode muito bem ser que tanto homens como mulheres, em todas as culturas e geografias, não se considerem em litígio com Deus, e muitos até pensem que Deus não existe e assim o problema também não. A questão não se contorna assim de uma forma tão simples e tão fácil. A presença física de Jesus Cristo entre nós como Homem e Deus, demonstrou esse conflito, essa contenda, essa oposição.

Dirão alguns que hoje em dia as coisas não sucederiam assim e que não se sujeitariam ao número dos que empurrariam Cristo para a cruz, que nunca da sua boca sairia o grito: “Crucifica-O! Crucifica-O!” Vivemos hoje em tempos de pacifismo e em que a pena de morte não é aceite por muitas nações.

Pela minha parte eu creio que, à semelhança de ontem, diante de Alguém que sabe a respeito de tudo e de todos, perante quem caiem todas máscaras e aparências, haveria um número significativo de pessoas reclamando a Sua morte e julgando que dessa forma se livrariam do incómodo, quando esse é precisamente o seu problema. Face a Jesus Cristo ou reconhecemos que precisamos de uma ajuda exterior a nós próprios, ou então permaneceremos inexoravelmente prisioneiros.

É importante dialogar sobre a paz, é importante respeitarmo-nos independentemente das nossas convicções religiosas, é importante tentar encontrar formas de reduzir o fosso entre ricos e pobres, é importante encontrar maneiras de atenuar o sofrimento causado por epidemias e catástrofes, mas a paz, essa só pode ser conseguida através do arrependimento e conversão a Jesus.

É até possível que aqui na terra pessoas de diferentes culturas, línguas, raças e religiões estejam juntas de mãos dadas ajudando o próximo, e os cristão como tem sucedido de sobejo ao longo de toda a história, estarão na primeira linha. Mas no céu só poderemos entrar de mãos dadas a Jesus Cristo. Não entendam isto como supremacia cultural, porque Aquele de quem falamos não é deste mundo, está acima de todos embora tenha se tenha posto ao lado dos mais insignificantes, rejeitados e marginalizados. É isso precisamente que nos diz o apóstolo João no evangelho que tem o seu nome: “Jesus continuava a dizer-lhes: "Vocês são cá de baixo, mas eu venho lá de cima. Vocês pertencem a este mundo, mas eu não sou deste mundo. Por isso é que vos disse que haviam de morrer no pecado. Se não reconhecerem quem eu sou, hão-de morrer no vosso pecado." (João 8:23,24)

Não acreditamos que alguma vez esta paz venha a ser instituída na terra pelas mãos humanas, sem a intervenção sobrenatural do Príncipe da Paz. Por isso Ele prometeu que voltaria e é nessa vinda que temos os olhos colocados em esperança. Não com os braços caídos. Pelo contrário, onde nos encontramos, a começar pelas nossas famílias, nos nossos relacionamentos pessoais, com quer que seja, queremos ser agentes da paz, seguindo as palavras do nosso Mestre: “Felizes os que procuram a paz entre os homens, porque Deus lhes chamará seus filhos!” (Mateus 5:9)

Deste paladino da paz queremos convidar cada um dos nossos leitores a experimentar paz com Deus através de Jesus Cristo. Não há nada de melhor na vida!

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