Autor: Ronaldo Lidório
“IGREJA DE DEUS” – UMA PERSPECTIVA DE POSSE
O próprio termo grego EKKLESIA (“Igreja”) é composto pela preposição EK (“para fora de”) e KLESIA que provém de KALEO (“chamar”) de onde podemos entender EKKLESIA como “Chamada para fora de”, o que a princípio expõe não somente a etimologia, mas também a nacionalidade da “Igreja”.
Obviamente o termo está ligado a “agrupamento de indivíduos” e de certa forma à “Instituição”. No N.T. adquire o conceito de “comunidade dos santos” e fora Mt 16:18 e 18:17, esta ausente dos evangelhos aparecendo, porém 23 vezes em Atos e mais de 100 vezes em todo o N.T. Gostaria que passássemos rapidamente por alguns dos principais conceitos neotestamentários para esta “comunidade dos santos”.
Comumente encontramos no N.T. a expressão “Igreja de Deus” , o que evidencia que esta Igreja veio de Deus e pertence a Deus. É uma comunidade que possui Deus como fonte; é eterna, espiritual e universal. Não provém de elucidações humanas ou de uma obsessão nutrida por um gripo de loucos há vinte séculos, antes, porém foi articulada por Deus, formada por Deus, é pertencente a Deus e está ligada a Deus. Independente das deturpações da fé, das ramificações que se liberalizaram, dos que se perderam pelo caminho, a Igreja permanece, pois, é posse de Deus.
O misterioso princípio bíblico sobre a “Igreja de Deus” transcende a esfera da lógica otimista, contrapõe a filosofia do acaso e chega ao único lugar onde a teologia bíblica poderia nos levar: à Redenção aos pés do Cordeiro. Jesus não somente é a Rocha sobre a qual a sua Igreja está edificada, como também é a Inspiração para que esta Igreja viva. O viver contracultural e inquietante de Jesus inspiram a Igreja em seu caminho de glorificar a Deus. A mensagem do Mestre fala sobre uma forma diferente de viver, uma forma “evangélica”, onde o marido não domina sua esposa, ama-a; onde o perseguido não odeia aquele que o persegue, antes ora por ele; onde o líder cristão não exerce domínio sobre o seu rebanho, mas serve-o; onde a comunidade dos santos não organiza revoluções contra as más autoridades, porém intercede por elas; onde o menor é o maior; onde morrer é um ganho; onde só se torna forte os que reconhecem a fraqueza; onde se anda duas milhas com quem te obriga a andar uma e vira-se a outra lace a quem te fere; onde não há apego a este mundo, pois, todos são peregrinos; onde a terra natal é desconhecida, a garantia é uma promessa e só se alcança a vida eterna quem primeiro morre. Era o nascer de uma comunidade onde homens ricos paravam de roubar para devolverem o dinheiro até quatro vezes mais aos que foram ludibriados; mulheres adúlteras largavam suas vidas de promiscuidade e transformavam-se instantaneamente em testemunhas; pescadores largavam suas redes para seguirem um carpinteiro de Nazaré; muitos vendiam tudo o que tinham para distribuírem entre os que nada possuíam, milhares morriam crucificados ou queimados por se recusarem a negar o seu Senhor o qual nunca haviam visto face a face. Esta sem dúvida é a “Igreja de Deus”, uma Igreja Visionária!
“HUMANIDADE DA IGREJA” – UMA PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO
Dentro deste termo – “Igreja” – também nos deparamos no N.T. com um conceito humano/social. Em 1 Tessalonicenses 1:1, por exemplo, encontramos “Igreja de Tessalônica” que originalmente dá-nos a idéia sobre alguns que ao mesmo tempo são “Igreja” sendo também e “tessalonicenses”, cidadãos de Tessalônica.
Mostra-nos o fato de que por serem “Igreja” não significa que deixam de ser cidadãos, patriotas, carpinteiros, lavradores, comerciantes, desportistas, pais de família, esposas ou filhos. A “Igreja” no N.T. não é apresentada como uma comunidade alienante, mas como uma comunidade que abrange o homem em seu contexto humano. Necessitamos entender que a Igreja não foi retirada do mundo, mas purificada dentro dele.
Quando olhamos esta “Igreja” dentro de um prisma mais humano e menos alienante, entendemos que a Santidade pessoal, e não a estrutural social, é o cerne da vida da Igreja.
A cada dia estou mais convencido de que a Santidade ao Senhor é a condição Bíblica para a proclamação do evangelho a todos os povos numa perspectiva eclesiológica. Muitos poderão enviar missionários ao mundo, mas apenas um povo santo fará isto movido pela compaixão que brota do coração, muitos poderão falar ao mundo da glória de Deus, mas apenas um povo santo, ao fim, dará glória a Deus, muitos poderão andar dezenas de milhares de quilômetros para falar das boas novas de salvação, mas apenas um povo santo andará com Deus; muitos poderão preparar-se em altos cursos teológicos, culturais, missiológicos e lingüísticos. Sentindo-se preparados e sendo enviados ao campo, mas apenas um povo santo, após toda e qualquer preparação, se sentirá ainda despreparado, necessitando desesperadamente da graça e misericórdia de Deus sobre suas vidas, muitos poderão chegar às extremidades do mundo, falar do evangelho aos não alcançados, criar postos missionários, agências missionárias e Igrejas em campos missionários, mas apenas um povo santo chocará o mundo com o testemunho derramando lágrimas apaixonadas pelos que ainda nada ouviram.
Vem-me palavras escritas no início deste livro: o que importa primariamente não são quantos celeiros abarrotados de missionários possuímos; não são nossas estratégias certeiras ou métodos infalíveis; não é nossa aceitação política e adaptabilidade cultural, mas sim quanta santidade há em nosso meio. Não creio em despertamento missionário sem quebrantamento espiritual. A pergunta que fará diferença no final será: até onde você está disposto a ir por Jesus?
E somente um povo santo poderá respondê-la. Somente uma Igreja santa, visionária, irá até aos confins para dar glória a Deus!
“IGREJA LOCAL” – UMA PERSPECTIVA DE EXTENSÃO
Também encontramos no N.T. o conceito de Igreja local. Em 1 Co 1:12 vemos, por exemplo, a expressão “Igreja que está em Corinto” , quando “que está” indica a localidade da Igreja. Entretanto este termo não expressa que a Igreja esta condicionada ao local. “Que está” não indica que a Igreja pertence à Corinto, mas sim que os santos de Corinto pertencem a Igreja.
Precisamos entender que a “Igreja”, numa perspectiva de extensão. Localiza-se onde estão os santos e não onde estão os templos.
Lembro-me que estava na região de Nabukorá, noroeste do Togo, a caminho da aldeia de Molani, quando algo interessante aconteceu. Após andar sozinho por vários dias, cerca de 120 km de área não habitada, cheguei junto a um rio e montei um pequeno acampamento. Estava acendendo uma fogueira quando comecei a sentir uma forte opressão demoníaca. Um terrível peso no coração e uma nítida sensação da presença maligna naquele lugar, e somente após um longo período de oração consegui sentir novamente a paz do Senhor. Isto já havia acontecido 2 vezes antes quando estávamos próximos de comunicar o evangelho pela primeira vez em aldeias até então não alcançadas pelo evangelho. Mas algo peculiar acontecera desta vez, bem simples, mas que para mim evidenciou um grande princípio da batalha espiritual. Eu estava cerca de 80 km de distância de qualquer aldeia ou grupo de pessoas. Era uma área inabitada. Eu estava sozinho. Até onde sei, aquela área nunca fora habitada antes; não havia fetiches ao meu redor ou lugares onde eram praticadas cerimônias animistas. Ao contrário de Deus, Satanás e seus demônios não são onipresentes, limita-se ao espaço; em termos práticos, não havia qualquer “interesse maligno local” naquela arca. Poderia concluir-se que: eu havia sido seguido, possivelmente passo a passo, durante 120 km, por algum ser maligno portador de alguma missão destrutiva.
Apesar de não haver nada de novo nisto, este fato ganhou um tremendo peso para mim pelo contexto em que me encontrava e levou-me a relembrar o conceito Bíblico de que a Igreja localiza-se onde estão os santos e não onde estão os templos. E é ali, entre os santos, que é travada a luta, onde se experimenta o cansaço das batalhas, a glória das vitórias, o dissabor do pecado e seja em uma mata distante ou no centro de uma cidade, que a oração, o louvor, a adoração e o testemunho da Palavra transformam templos de concreto ou choupanas de palha em lugar santificado; não pelo material com que foram construídos, mas por ser ali que se ajunta o povo de Deus para adoração.
A Igreja evangélica hoje possui uma forte tendência de “localizar” a Igreja, condicionando-a tão fortemente à sua cidade ou seu bairro que alguns chegam a impedir a realização de trabalhos “fora da sua jurisdição local”. E há até mesmo aqueles que chegam a demarcar até onde pode ir o trabalho da Igreja. Necessitamos compreender que num conceito neotestamentário “Igreja” é uma comunidade sem fronteiras. Creio, portanto, que há assim uma necessidade de sacrametalizarmos mais os “santos” e menos os “templos”.
CAPÍTULO 6
ATOS: UMA IGREJA FUNCIONAL
Após termos esta rápida visão dos conceitos de “Igreja” no N.T., vejamos o desenvolver da história desta Igreja em Atos. Há aqui uma tremenda ênfase do Espírito na expansão desta Igreja. Mesmo perante perseguições, dificuldades financeiras falta de obreiros preparados e crises políticas vemos uma Igreja expandindo o evangelho a custo de suor, sacrifícios e vidas. A humanidade passo a passo era chocada com a fé daqueles que “transtornavam o mundo”, onde o viver era Cristo. O objetivo era ganhar almas, a alegria era a adoração, o que os uni era a verdadeira comunhão, o amor era traduzido em ações, os fortes guiavam os fracos, as dificuldades eram enfrentadas com oração, a paz enchia os corações e todos, sem quaisquer estruturas, possuíam como finalidade de vida apenas testemunhar do seu Mestre. Era uma Igreja Visionária!
Porém, às vezes somos levados a crer nesta época como uma “época mágica” onde as ações da Igreja por si só impactavam o mundo. Olhando para Atos, vemos, porém que todo este ministério explosivo era antes autenticado pela forma como viviam. Creio que necessitamos compreender que as estratégias, apesar de úteis, não definem o sucesso ministerial da Igreja. Só a santidade faz isso.
Há muitos séculos atrás houve uma Igreja que muito contribuiu para a expansão do evangelho na região oriental do mundo: foi chamada de Igreja Nestoriana.
Segundo a história desta Igreja, certo dia um de seus missionários chegou em uma pequena vila que ficava ao lado de uma grande plantação de arroz. Ele então começou a lhes falar do Senhor Jesus até que em pouco tempo havia alguns convertidos entre eles. Semanas depois, durante um culto, um dos recém-convertidos perguntou para aquele missionário: “Até onde devemos ir para falar de Jesus a outros?”
O missionário olhou para a plantação de arroz e perguntou: “Na colheita, até onde você pegará o arroz?”
“Até o ultimo pé”, – respondeu o camponês. “Pois é até ai o campo que Jesus nos deu: até o último” – afirmou o missionário.
Creio que é este o conceito que vemos na missiologia neotestamentária: até a última fronteira.
Vejamos, portanto um pouco do que é narrado sobre a Igreja neotestamentária, a qual explodia no mundo conturbado do primeiro século.
ATOS 1 – Tempos e Épocas
Um dos assuntos mais enfáticos de Jesus Custo era o Reino de Deus. Falava aos discípulos sobre o Reino presente e futuro e sobre sua escolha de homens para a ação neste Reino. Após morrer Ele ressurgiu e passou 40 dias falando-lhes ajuda sobre este Reino. No momento de subir aos céus houve um dialogo decisivo entre Cristo e seus discípulos: “… Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (v.6)
Com que estavam os discípulos preocupados? Sem dúvida alguma com Israel (etnocentrismo), mas acima de tudo estavam preocupados com o TEMPO – o tempo em que Israel seria restaurado.
No original grego normalmente usamos “tempo” para traduzir o termo “Kronos”. “Kronos” (tempo na cosmovisão humana) é o tempo como medimos: dia, mês, ano, etc. Esta foi justamente a pergunta dos discípulos: “Senhor, dá-nos o Kronos: ano, mês, dia, se possível hora, da restauração do Reino a Israel”.
Na resposta de Jesus vemos um principio missiológico:
“Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade” (v. 7)
O texto original possui duas opções plausíveis para “tempos ou épocas”:
a) Kronos: Jesus poderia responder também usando Kronos, já que a pergunta foi feita em Kronos. Desta forma a ênfase seria: “Não vos compete conhecer o dia, mês e ano que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade”. b) Kairós: enquanto Kronos era usado para o tempo de forma metódica – dia, mês e ano, por exemplo, Kairós era o termo que regia o Olimpo na mitologia grega. No N.T. dá a idéia de “tempo oportuno de Deus”. Daí a ênfase seria: “Não vos compete conhecer o tempo oportuno da ação de Deus que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade”.
Entretanto, vê-se com grande surpresa textual que foram usados os dois: “Não vos compete conhecer tempos (Kronos) ou épocas (Kairós) que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade”, ou seja, Jesus não havia formado uma Igreja para se preocupar com os TEMPOS.
Escatologia não expressa a ênfase do ensino de Jesus. E Ele continua:
“Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas… (v.8)
Jesus formou uma Igreja para testemunhar. E a dimensão deste testemunho é explicita: “… tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”.
Até a última fronteira. Era a ênfase de Jesus. Alguns crêem que os discípulos não entenderam isto, entretanto se olharmos para a tradição apostólica, Mateus foi para a Etiópia (África), André alcançou os Citas (na região da antiga URSS), Bartolomeu atingiu a Arábia e Tomé a Índia. Paulo por sua vez foi testemunha na Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia. Até onde vejo, eles entenderam o desejo do Senhor: até a última fronteira!
Permitam-me abrir aqui um parêntese para expor algo que julgo importante nesta altura: a necessidade de desenvolvermos uma eclesiologia mais pessoal e menos de massa; mais humanitária e menos estrutural.
Há poucas semanas chegamos a aldeia de Cráchi, atravessando o rio Volta, na região de Kintampo. Impressionou-me ver mulheres que chegavam de longa distância carregando um filho amarrado às costas, os poucos pertences na cabeça e por vezes ainda em estado avançado de gravidez. Vinham de até 200 km de distância, caminhando, fingindo da guerra tribal que teve inicio dois meses atrás. Fiquei olhando para aqueles rostos desfigurados pelo cansaço, vidas com historia – passado e presente – com emoções, expectativas. Que sentem a dor, desespero e angústia de forma intensa e olhos chocados por terem presenciado tantas atrocidades nesta guerra tribal.
Eu estava em grande ativismo durante estes dias, organizando a recém nascida Igreja em Cráchi, tentando estruturar a aldeia para receber tantos refugiados e usando os poucos remédios que dispúnhamos para suprir a grande demanda de pessoas que chegavam a cada instante. Certa noite parei e me espantou ver que não havia vertido nenhuma lágrima perante tamanha dor. Sentia pena daquelas mulheres e estava trabalhando dia e noite para ajudá-las, entretanto não conseguia chorar por suas dores. Fui para a palhoça a fim de orar e naquela oração fui confrontado por Deus. Orei por minha família, pela pequena Igreja que estávamos plantando em Cráchi, por um ministério de poder e autoridade, mas não conseguia orar, orar de verdade, com o coração, mente e alma, por aquelas mulheres. Algo me incomodava. Algo faltava. Ali estava eu, missionário entre a tribo Konkomba, no meio de uma aldeia Konkomba, sem poder orar por um grupo de mulheres Konkombas. Foi então que o Senhor ministrou fortemente uma palavra ao meu coração: Ninguém é capaz de orar por milhões de vidas que perecem sem Cristo se não consegue chorar sequer por uma delas. Fiquei desmontado por dentro e não acabei aquela oração. Fui até a periferia da aldeia onde estavam dezenas daquelas mulheres. Muitas eram Konkombas, outras Bassaris e ainda outras Nawris. Encontrei uma que falava o dialeto compatível com o meu e sentei-me ao seu lado. Era uma mulher baixa, muito magra, com uma criança recém-nascida nos braços e olhar fixo em frente. Fia estava tremendo e suando e sem que nada lhe perguntasse ela começou a falar. Narrou como perdera seus outros filhos quando a palhoça em que morava fora queimada em sua aldeia mais ao norte, falou como se esforçou para correr com a filhinha recém-nascida e outra de três anos que fora flechada já fora da aldeia, contou sobre o paradeiro do seu marido: era um guerreiro Konkomba e já por dois meses havia viajado para a região de maior conflito; falou sobre medo, pavor, angustia e por fim desesperança. Tudo isto entrava em meus ouvidos e algo forte era ministrado ao meu coração. No meio do burburinho de um campo vasto, com pouquíssimos missionários, somos levados a tratar pessoas como multidões. Falamos sobre os “refugiados de guerra”, sobre as “tribos não alcançadas”, sobre as “etnias da janela 10×40”, ou sobre os “povos ocultos”. Passeava por minha mente, entretanto, às vezes que Jesus parou para falar com um coletor de impostos e cear em sua casa, para conversar e tratar com uma mulher samaritana, para dialogar e curar um cego em Jericó, para expulsar os demônios de um homem gadareno, para se emocionar e chorar perante o túmulo de um amigo, tratando pessoas como pessoas, mesmo em meio a multidões. Comecei a chorar com aquela mulher Konkomba, chorar suas lágrimas, suas dores, angustias e tristezas. Não chorava apenas com os olhos, meu coração se constrangia perante tão grande dor e pude então compartilhar com ela sobre Aquele que levou sobre si todas as nossas dores. Houve consolo e conforto naquela noite e quanto voltei a minha palhoça continuei a orar. Havia um claro ministrar do Senhor ao meu coração repetindo que ninguém é capaz de orar por milhões de vidas sem Cristo, se não consegue chorar sequer por uma delas.
ATOS 2 – O testemunho de uma Igreja revestida
Creio que o Pentecostes em Atos 2, quando o Espírito Santo desceu permanentemente sobre a Igreja é um marco para entendermos o piano de Deus para o seu povo.
Em Atos 1:8 Jesus havia falado que:
“recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo (profetizando assim o Pentecostes)
“e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (referindo-se a extensão do ministério de sua Igreja)
No Pentecostes vemos este poder sendo recebido pela Igreja na descida do Espírito Santo; porém necessitamos também ver que Deus preparou as circunstâncias para que a Igreja entendesse que o recebimento do Espírito possuía uma finalidade básica: capacitar espiritualmente a sua Igreja para o testemunho, incluindo o testemunho transcultural.
Vemos que justamente nesta época do Pentecostes (Festa Judaica) estavam reunidos em Jerusalém os chamados Judeus da dispersão (2:5), os quais habitavam em mais de 14 regiões diferentes e certamente conheciam diversas línguas gentílicas. Lucas dá-se ao trabalho de registrar que eram “partos, medos e elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia; da Frigia e Panfilia, do Egito e das regiões da Líbia nas imediações de Cirene, e Romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios…” (v. 9-11) e que esta multidão, presenciando a descida do Espírito na Igreja de Cristo ficou perplexa porque ouviam o que era falado pelos discípulos “cada um em sua própria língua materna” (v. 8). Qual era a mensagem que ouviam? No v. 11 Lucas registra que eles ouviram as “grandezas de Deus”.
Com certeza Deus havia preparado as circunstâncias para o primeiro testemunho transcultural da Igreja revestida. Os dispersos que ali estavam para a festa chamada Pentecostes e que presenciariam a descida do Espírito Santo, em pouco tempo voltaria para as etnias das quais vieram, pois estavam ali de passagem e, quando lá chegassem, seriam pessoas conhecedoras das “grandezas de Deus” na língua nativa daqueles povos, propiciando o testemunho a cada etnia.
Devemos perceber que Deus queria mostrar algo com isto e creio que a Igreja de Atos entendeu:
a) Que a descida do Espírito não veio apenas como uma “experiência para edificação dos salvos” tuas como um “revestimento para que a Igreja testemunhe com poder”; b) Que a primeira ação do Espírito Santo na Igreja ainda durante o Pentecostes foi impulsiona-los a testemunhar, falando das “grandezas de Deus”; c) Que este primeiro testemunho da Igreja revestida foi transcultural, feito em línguas gentílicas para os judeus dispersos em países remotos, entre povos ainda não alcançados. d) Que “até aos confins da terra” era o alvo de Deus para a sua Igreja após o “recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”. Parece-me claro que desde o inicio da vida da “Igreja revestida” Deus conduzia o seu ministério a uma visão do Reino, a uma visão dos povos, a uma visão do testemunho como resultado de um avivamento, a visão dos confins. Deus preparava uma IGREJA VISIONÁRIA.
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