Autor: Autor Desconhecido
"Surdos, escutem; cegos, olhem e vejam! Quem é cego senão meu servo? Quem é surdo, senão o mensageiro que eu mandei? Você viu muitas coisas, e nada percebeu; abriu os ouvidos e nada ouviu. Por causa de sua própria justiça, Javé queria engrandecer e glorificar a sua lei; mas o seu povo é um povo espoliado, esgotado e roubado, todos presos em cavernas, trancados em prisões. Era saqueado, e ninguém o libertava; despojado, e ninguém dizia: "Devolvam isso. Quem de vocês vai escutar isso tudo e prestar atenção para ouvir daqui por diante?"
(Is. 42, 18-23)
Representantes das Igrejas Associadas da Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, em conjunto com a Cáritas Brasileira, a Secretaria Regional para o Brasil do Conselho Latino Americano de Igrejas – CLAI-Brasil e Organismos Ecumênicos, por ocasião da Assembléia Geral da CESE, em Salvador – Bahia, nos dias 08 e 09 de junho de 2005, tendo como inspiração o tema Cidade de Paz, registram com profunda preocupação a crise pela qual passam os poderes da democracia brasileira e perguntam pelas causas que estão a gerar a situação na qual nos encontramos.
Dois anos se passaram desde que Luis Inácio Lula da Silva se elegeu presidente pela vontade de 53 milhões de eleitores, traduzindo as esperanças do povo brasileiro num governo comprometido com a justiça social e a dignidade humana. Hoje, contudo, vive-se um nítido mal-estar na vida democrática do país provocado pela imposição progressiva da agenda neoliberal nas entranhas do Governo que se expressa em muitos aspectos das reformas realizadas ou em curso. Manifesta-se na prevalência do agro-negócio sobre a agricultura familiar e na lentidão da Reforma Agrária; na aceitação – como principio – do "livre comércio" em vez do comércio justo; no modelo produtivista de crescimento acelerado em conflito com um desenvolvimento sócio-ambiental sustentável e no pouco caso com nossos recursos hídricos; na aceitação passiva dos mecanismos do endividamento público, sem qualquer restrição à especulação financeira; e, ainda, na opção por políticas compensatórias desacompanhadas do atendimento estruturante e universal segundo uma perspectiva de direitos.
Já no plano institucional, fatos de que temos conhecimento pela grande imprensa vão formando uma realidade sufocante de nomes e siglas de pessoas e órgãos denunciados. Isso causa um grande desencanto e alimenta a descrença nas instituições democráticas quanto à sua capacidade de preservar o Estado de Direito. A confluência de um grande número de denúncias de corrupção envolvendo instâncias públicas e interesses privados, por parte da Policia Federal e Ministério Público, revela um grave quadro de injustiça e impunidade que, ademais, agrava a falta de recursos e inviabiliza políticas públicas que atendam as necessidades básicas da população, impondo-lhe um sofrimento cotidiano. É bem verdade que parte da imprensa, dos parlamentares, dos juízes, do Ministério Público e de instâncias administrativas, estão tentando cumprir honestamente seu papel, dando provas de que um novo cenário, um outro país é possível. Muitas investigações estão em andamento e devemos encorajar este processo. Mas uma verdadeira nação quer muito mais; quer um choque de ética que passe a limpo imediatamente o nosso país.
Enquanto o povo reinventa a democracia ocupando novos espaços públicos de participação, criando alternativas de vida e de respeito às relações de gênero e raça, as elites brasileiras radicalizam uma cultura predatória de sucateamento do patrimônio público e de desmoralização das instituições. Certamente, muitos dos constrangimentos recentes vividos pela nação brasileira apontam para a urgência de uma reforma política e a valorização dos partidos dentro de uma nova cultura política.
A apuração rigorosa dos crimes de "colarinho branco" em algumas empresas estatais, órgãos públicos e dentro do Congresso Nacional é uma exigência de governabilidade e não pode, nem deve ser alvo da exploração político-eleitoreira. Esperamos do governo Lula, do Parlamento, do Judiciário e do Ministério Público todo o empenho para identificação e punição dos culpados, de sorte que as instituições saiam fortalecidas e acreditadas pelo povo brasileiro.
Confiando que os governantes escutem nosso Clamor como Igrejas e Organismos Ecumênicos que é o próprio clamor do povo sofredor, subscrevemo-nos, com esperança de uma sociedade onde reinará a Justiça e a Paz!
Salvador, 09 de junho de 2005
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço – Dom Gilio Felício – Presidente
CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
Pastor Ervino Schmidt – Secretário Executivo
(ICAR)/CNBB – Igreja Católica Apostólica Romana – Dom André de Witte
DIACONIA
Waldyr Hoffmann – Presidente do Conselho Diretor
IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Bispo Primaz Dom Orlando Santos de Oliveira
IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana – Pastor Nestor Paulo Friedrich
IM – Igreja Metodista – Bispa Marisa de Freitas Ferreira Coutinho
IPIB – Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
Reverendo Nenrod Douglas Oliveira Santos
IPU – Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – Reverendo Gerson Antônio Urban
Igreja Batista Nazareth – Pastor Djalma Rosa Torres
Cáritas Brasileira – José Magalhães de Souza – Diretor Executivo
CLAI-BRASIL – Secretaria Regional para o Brasil do Conselho Latino Americano de Igrejas
Luiz Caetano Grecco Teixeira – Secretário Executivo
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