Crianças Celebrando a Ceia do Senhor

Autor: Rodrigo Augusto Soares
A ceia tem direta relação com a páscoa, não a nossa páscoa mas a páscoa dos judeus, a páscoa conforme instituição do próprio Deus.

Deus instituiu a páscoa em Êxodo 12:14-21, a páscoa deveria ser uma celebração em memória dos acontecimentos que ainda viriam a acontecer e devia ser realmente uma festa, observe que no verso 21 Deus instrui a que as famílias celebrassem a páscoa.

Recomendo a leitura de todo Êxodo 12, vemos a instrução direta à que a família celebrasse a páscoa, uma família é composta de pais e de filhos.

Vamos lembrar então que a páscoa é a celebração e dedicação à Deus de todos os primogênitos da casa de Israel.

Todas esses preceitos a respeito da páscoa eram figuras para o futuro.

Com o passar dos anos os dirigentes de Israel foram instituindo mudanças nos rituais da páscoa, mudanças às vezes coordenadas simplesmente por eles, os homens e não Deus; sabe-se que na época de Jesus a páscoa era celebrada em Jerusalém, os rabis haviam determinado que todo o cidadão acima de 13 anos deveria celebrar a páscoa, quanto aos menores, aos idosos e deficientes lhes era facultativo celebrar a páscoa em Jerusalém.

Sabe-se no entanto que conforme Lucas 2:42 Jesus tinha 12 anos e estava em Jerusalém por ocasião da páscoa.

Com referência ao Novo Testamento, o principal texto relacionado à páscoa ou como passou a ser chamada de “Ceia do Senhor” é I Coríntios 11 dos versos 17 a 34.

Nos versos 17 e 18 Paulo admoesta a igreja de Corinto por causa de dissensões à respeito de o que era feito ou de o que acontecia quando se ajuntavam e diz que pioravam ao invés de melhorarem.

No verso 19 diz sobre a importância de acontecer heresias para que os sinceros fossem notados; é importante dizer que isso não é uma recomendação de Paulo mas uma bronca, praticamente os está chamando de irresponsáveis.

Vemos que a igreja de Corinto tinha problemas em relação à ceia e Paulo procura saná-los.

Sabemos da páscoa dos judeus ser uma figura para o cordeiro de Deus, o cordeiro imolado no Egito era Jesus sendo imolado por nossos pecados, o livramento dos primogênitos era figura da salvação eterna pelo sangue do cordeiro imolado.

A tarefa de Paulo era corrigir os desvios que haviam ocorrido, os Coríntios se reuniam mas tinham perdido a consciência sobre a celebração da ceia, logo Paulo começa dizendo no verso 20 “quando vos ajuntais não é para comer a Ceia do Senhor”, devemos entender que ele dizia isso num tom de ironia como para afirmar que só estavam se reunindo para comer e que haviam se esquecido do motivo principal dessa reunião. Podemos comprovar isso lendo os versos 21 e 22.

Somente a partir do verso 23 é que ele traz novamente a correta forma para a celebração da ceia.

Paulo deveria lembrá-los da importância da celebração em relação a :

· Passado – um memorial e lembrança do cordeiro de Deus que havia sido crucificado em nosso lugar e para nosso favor.

· Presente – a ceia é um ato de comunhão com Cristo e de participação nos benefícios advindos por sua morte e também com os demais membros do corpo.

· Futuro – a ceia é um prazer antecipado do banquete que teremos com o Senhor Jesus por ocasião da sua volta.

Paulo vai jogar sobre os Coríntios a responsabilidade da falta de sã consciência na celebração da ceia e é isso, somente isso, que ele faz nos versos seguintes (de 23 a 34).

É muito importante visualizarmos corretamente esse contexto presenciado por Paulo, ele não está prescrevendo uma liturgia religiosa para a correta celebração da ceia do Senhor, mas chamando a atenção dos Coríntios para a seriedade do que faziam; que celebrassem a ceia com consciência do que faziam, servindo uns aos outros, relembrando o sacrifício do Senhor e apontando as sua esperança à volta do Senhor Jesus.

Sendo assim não podemos afirmar ou categoricamente proibir as crianças de participar da ceia do Senhor.

O argumento mais utilizado para a não permissão da participação de crianças na ceia é o fato de não terem consciência da celebração. Neste sentido gostaria de refutar essa afirmação, se possível, com os seguintes argumentos :

· Na instituição da primeira páscoa, as famílias deveriam celebrar a ceia. Famílias são constituídas de pais adultos, mas também de crianças. Entre os judeus, até hoje, julga-se de extrema importância a presença das crianças na celebração pois não só comemoram-na mas também contam toda a história sobre a páscoa e o livramento recebido na saída do Egito para preservarem suas tradições. Não estaríamos cumprindo assim Provérbios 22:6 e Êxodo 12:25-27 ?

· Podemos ainda pensar : “tomando sem a consciência necessária, como ficaria a condenação ?” (vide versos 27 e 29). Gostaria de dizer que a páscoa, ou a ceia é uma comemoração coletiva, assim faço menção de I Coríntios 7:10-16 onde falando a respeito do casamento Paulo diz que a esposa santifica o marido, o marido a esposa e os pais aos filhos, assim na celebração da ceia, os pais santificam os filhos até ao momento da maturidade para decisão pelo batismo onde a criança assume seu próprio compromisso com o Senhor ou sua opção contrária. É importante considerar que o que colocamos de peso quanto ao que a criança pode ou não fazer na igreja até sua decisão pelo Senhor pode influenciar em achar que durante toda sua vida terá que ficar se reprimindo por uma religiosidade dura, pesada e opressora.

Quero concluir dizendo que não é muito fácil administrar um parecer favorável à participação das crianças na ceia no dia a dia da igreja. Isso poderia criar uma tendência de se querer permitir que toda pessoa não batizada pudesse também participar, é claro que isso contra a palavra onde diz no verso 43 e 45 de Êxodo 12 que o estrangeiro não comeria da páscoa.

Não devemos ser românticos em pensar que nunca devemos e nunca podemos Ter problemas nas igrejas e tampouco sermos covardes ao ponto de taparmos os problemas com soluções como esta onde, para não se Ter problemas as crianças são banidas da ceia.

Há que se pedir sã consciência a Deus e os líderes de hoje pedirem sabedoria para tratar de problemas ainda que sejam delicados e difíceis, o que não podemos é aceitar resoluções farisaicas para direção das igrejas.

Aleluia !!!

14/04/99

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*