Crianças choronas

Autor: Carlos Siqueira
Um pai caminhava rumo ao setor de trabalho, pensa em voz alta, quando um conhecido o interpela interrogando o motivo da gesticulação e do riso contido. O pai relata que na noite anterior presenciara uma cena onde sua filha de seis anos fazendo birra para a mãe, entra correndo no seu quarto e após dar um mergulho na cama diz que não agüentava mais a correção da sua mãe.
O pai escuta a menina se queixar dizendo que não agüentava mais sofrer com tantos castigos da mamãe. O pai ria consigo mesmo sem deixar que a menina percebesse, pois sabia que não havia motivo para tanto, pois na realidade a menina estava potencializando a sua dor, pois o que ela não gostava mesmo era de ser chamada a atenção e sempre que isto acontecia, forçava a maior barra, mostrando ser a maior vítima do mundo.
O pai pergunta a menina o motivo de sua mãe estar chamando a sua atenção e ela diz que foi porque a mãe chamou por ela e não foi atendida de imediato. O pai pergunta o motivo da menina deixar a mãe esperando, bem como o pai algumas vezes, principalmente quando está brincando com as coleguinhas e chega a hora de entrar?
A menina diz que não responde porque está fazendo “um negócio” e por isto fica em silêncio enquanto não termina o tal negócio., só que neste intervalo a paciência da mãe se esgota e deixa de chamar a menina, para usar do bom e saudável chinelo, que vez ou outra resolve instantaneamente alguns casos de surdez momentânea, corriqueiros em crianças que não gostam muito de obedecer.
Os dois amigos de trabalho riram bastante da situação , tendo relato parecido acontecido com seu colega. Chegaram a conclusão que realmente criança é assim mesmo, chora e faz manha por qualquer coisa e nunca entende que não está com a razão, mesmo se achando a dona da verdade.
Gostaria de meditar nesta situação , trazendo para a vida espiritual, quando por algum motivo nos sentimos vitimas e nos jogamos em um leito, onde iremos reclamar com o pai o infortúnio provocado por ação alheia a nossa vontade, onde estamos além do nosso limite de resistência, pois já não conseguimos nos reorganizar, sendo a dor provocada pela mágoa o agente que motiva a nossa existência, onde dormimos e acordamos sofrendo por não encontrarmos respostas que justifiquem tão terrível situação.
As vezes estamos sendo orientados por Deus através da sua palavra, onde nos defronta com o seu chamado , só que os negócios aqui da terra estão tomando toda a nossa atenção, ao ponto de nem dizermos para Deus que iremos depois, apenas endurecemos a nossa audição e fincamos estacas nas circunstâncias, ficando aficionados por elas. Deus nos chama e nós simplesmente não podemos atender, pois estamos por demais ocupados em nossos afazeres.
Conversando com um outro amigo, ele me disse que pensava que a felicidade seria encontrada no dia que ele estivesse estabilizado financeiramente. Comprando uma casa de praia e tendo os filhos educados seguindo o próprio caminho, ficando então só ele e a esposa. Quando conquistou tudo isto verificou que os problemas eram de ordem diferente, pois agora teria de aprender a conviver com a mulher, pois durante anos ambos viveram apenas em função dos filhos.
Aprendemos então que a vida não consiste da quantidade de bens que nós possuímos, pois o ter tem um limite que já não nos proporciona mais prazer. A novidade passa rápido levando consigo a motivação de alegria que nos impulsionou em sua conquista. Se a nossa projeção de felicidade estiver condicionada a algo que angariaremos, certamente no futuro seremos frustrados, pois haverá um limite para esta adrenalina oriunda das posses, elas certamente um dia serão roubadas de nós e sem elas perderemos o rumo existencial.
A criança deixou claro que os seus negócios eram mais importantes que o chamado da mãe, ela até tentava modificar-se, mas a sua vontade não lhe estava sujeita, ficando exposta à correção, sem com isto perceber que estava errando deliberadamente. A problemática de errar sem perceber que se está errando é que vez ou outra seremos corrigidos sem saber que a repreensão é fruto do amor, pois quem ama disciplina.
Alguém disse em algum lugar que se nos preocupássemos mais em cuidar das crianças teríamos menos trabalhos com adultos. As penitenciárias estariam menos cheias e quem sabe a violência fosse menor. Ensina o caminho que o menino deve andar, pois até quando for grande não se desviará dele. O problema é que para ensinar o caminho se faz necessário conhecer e estar no caminho, pois nada fala mais alto que o exemplo.
Crianças choronas não podem ser exemplos a seguir, pois perderam a capacidade de enxergar a situação sem se excluir do fato, sempre procurando um culpado sem avaliar a sua participação no acontecimento em questão, fogem da responsabilidade dizendo ter medo de encarar a verdade, pois não suportam o sofrimento, posicionando-se de forma imatura, experimentando apenas o leito de dor, onde apesar da misericórdia do pai , estarão sempre privadas da participação em um plano estabelecido por Deus.
Que possamos não temer o chamado do Senhor, pois ele tem em sua agenda o nome de cada um de nós e estabelece os nossos eventos diários de acordo com os objetivos do seu reino. Precisamos andar como andavam os apóstolos, após o mestre, pois assim é o seu desejo: vinde após mim e vos farei pescadores de homens.
Que as nossas lágrimas sejam decorrentes de alegria e não de tristeza, pois aquele que faz a vontade do pai goza da sua plenitude e cresce para a estatura de varão perfeito, onde deixando os rudimentos de menino, seremos tratados com alimento sólido para fortalecermos a outros que estão se escondendo nos negócios, que nos impossibilitam de ouvir a voz de Deus.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*