Criança também sofre transtornos

Autor: Joel Rennó Júnior

O termo “doença mental” ou transtorno mental engloba um amplo espectro de condições que afetam a mente. Doença mental provoca sintomas tais como: desequilíbrio emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória. Algumas vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente. Desconfortos escondidos no fundo da mente também podem desencadear outras doenças do corpo ou produzir sintomas somáticos.
Um grande número de fatores — mapa genético, química cerebral, aspectos do estilo de vida, além dos acontecimentos que nos acometeram no passado e nossas relações com as outras pessoas — participam como causadores do transtorno mental, levando ao sofrimento, desesperança e incapacidade de levar a vida na sua plenitude.
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cujo presidente atual é o Dr Josimar França, tem se preocupado e lutado muito contra os preconceitos e estigmas ainda existentes que impedem o tratamento precoce.
Os transtornos mentais são democráticos. Mesmo nas cidades mais distantes e isoladas do mundo, com natureza, paz e tranqüilidade, eles podem começar cedo, na infância. Por isso, uma ampla campanha de orientação, educação, informação e reconhecimento deve ser instituída à sociedade, orientando, principalmente, pais e professores. Na fase reprodutiva, as mulheres são duas vezes mais acometidas de depressão que os homens. Em relação aos transtornos de ansiedade, a proporção é de 2 a 3 mulheres acometidas por homem afetado.
A partir dos 15 anos, em média, começam alguns desequilíbrios emocionais, embora hoje muitas crianças pequenas já apresentam os sinais iniciais. Os sintomas podem ser variados, incluindo uma ansiedade persistente sem motivos aparentes, dificuldade de aprendizado, desatenção, irritabilidade, choro, tristeza, desinteresse, agitação, medos intensos de escuro, altura e espaços amplos e abertos e quadros de depressão ou psicose. Caso não haja o diagnóstico precoce, pode haver evolução para uso de álcool e drogas ou para um tipo grave de depressão. As mães devem ficar atentas.
A etapa inicial do maior estudo da área, o World Mental Health Survey (Levantamento Mundial sobre Saúde Mental) conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ilumina um caminho de possibilidade de contenção de qualquer distúrbio emocional durante a infância, evitando o surgimento de quadros psíquicos graves, durante o período escolar. Há um braço de tal estudo no Brasil, mas os dados ainda são incipientes e, portanto, insatisfatórios.
A magnitude da importância de tal conhecimento é incalculável. Em 14 países avaliados, entre 4,3% e 26% da população apresenta algum transtorno psiquiátrico, o que é um dado alarmante pelos inúmeros prejuízos psicossociais gerados.
Todos falam dos prejuízos sociais, familiares e individuais, porém, se esquecem do impacto econômico, devido à incapacitação gerada pelas doenças mentais. Transtornos mentais graves geram 200 dias de faltas ao trabalho. Os nossos políticos precisam, portanto, tratar com mais atenção, sensibilidade, respeito e eficácia a saúde mental do Brasil, priorizando a intervenção primária logo na infância. Muitos projetos ainda não saíram, infelizmente, do papel.
O mundo todo precisa se mobilizar para uma efetiva melhora do panorama de saúde mental. Em mais de 60 mil entrevistas realizadas, por esta parte inicial do estudo, ficam comprovadas o quanto tais transtornos mentais são subdiagnosticados, tratados de forma inadequada e negligenciados pelas políticas públicas de saúde. É triste, pois sabemos que o controle é perfeitamente possível nos estágios iniciais.
 
e-mail: rennojr@diariosp.com.br

Fonte: Diário de São Paulo.

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