Autor: Sebastião M. Arruda
O grande valor da família como instituição fundamental para a estabilidade e desenvolvimento da humanidade é inquestionável. Contudo, certamente por causa da importância do seu papel, nenhuma outra instituição tem sofrido tanto ataque e influências negativas quanto ela. Como resultado dessa influência degeneradora, podemos ver o crescimento espantoso do número de divórcio, o crescimento do número de “meninos de rua” e a superlotação dos asilos e orfanatos. A degeneração da família pode ser comprovada também pela grande onda de violência no mundo todo. Filhos que crescem sem uma educação correta tornam-se cidadãos problemáticos. Enfim, qualquer programa de bem-estar social só terá chances de sucesso se o seu ponto de partida for a família. Todos os problemas da sociedade são oriundos da desestruturação da família. Assim, embora esse campo seja tão vasto, vamos fazer algumas aplicações sobre um aspecto que consideramos fundamental, o conceito de amor.
Os princípios que devem reger o relacionamento familiar são vistos tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Quando Paulo escreveu sua carta a Tito, ele deu grande importância ao relacionamento familiar e, em meio a todas as suas recomendações ao seu filho na fé, ele faz uma observação verdadeiramente curiosa:
Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada (Tito 2.3-5)
No conceito popular atual, as mulheres idosas saberiam algo sobre amor? E as mais novas, precisariam aprender alguma coisa a mais? As velhas não estariam ultrapassadas? O apóstolo sabia mesmo o que estava falando? A resposta dos formadores de opinião – televisão, cinema, música popular, psicologia-moderna, etc – seria, sem dúvida, que Paulo estava equivocado. Para eles, o amor é um sentimento de bem estar totalmente desprovido de compromisso. Quando uma das partes perde o interesse ela se separa. A bem da verdade, o interesse sexual parece ser o mais importante, senão o único ingrediente do que a sociedade tem convencionado chamar de “amor”. Isso pode ser visto em expressões populares como “amor livre”, “faça amor, não faça guerra” e tantas outras.
O conceito de amor que temos no pacto da criação, definindo a relação do Criador com a humanidade, deve ser visto sempre como modelo que define o relacionamento do homem com a sua família. Na doutrina da aliança, Deus expressa o seu amor para com a humanidade propiciando todas as condições necessárias para um relacionamento feliz. Deus promete ser o nosso Deus e requer que sejamos o seu povo de propriedade exclusiva. Esse relacionamento é feliz, permanente e indissolúvel. Como se vê, esse amor envolve compromisso de ambas as partes, e compromisso indissolúvel. Outro aspecto, é que esse relacionamento amoroso é regido por mandamentos a que o povo de Deus deve responder com obediência e fidelidade a fim de receber as bênçãos prometidas. A quebra desses mandamentos sempre traz conseqüências desastrosas. Esse amor, à semelhança do amor de Deus pela Igreja, deve estar pronto ao sacrifício para manter o relacionamento. E assim como o amor de Deus assegura a união mística entre ele e o seu povo, o verdadeiro amor entre um homem e uma mulher deve assegurar uma união perfeita, fazendo os dois uma só carne. Enfim, a esse conjunto de aspectos é que podemos chamar de um verdadeiro vínculo de amor; e só esse conjunto de fatores, que a Bíblia define como “amor”, possui as inexplicáveis qualidades cantadas pelo apóstolo Paulo:
O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba. (1 Cor 13:4-8)
Portanto, temos no conceito de amor um problema de semântica. A palavra foi tão desgastada pelo bombardeio desses formadores de opinião que perdeu o seu significado original. Mas o povo de Deus não deve se conformar com isso. Nosso padrão é o da Palavra de Deus e o nosso conceito de amor é o apresentado por ela.
Respondendo às perguntas, em virtude da experiência que possuem, as mulheres idosas sabem muito sobre o verdadeiro amor; e as mulheres mais novas precisam de fato aprender sobre ele. As idosas não estão ultrapassadas, pois os princípios do verdadeiro amor são eternos. E, por fim, Paulo sabia sim o que estava falando; quem fala o que não sabe são os mencionados formadores de opinião que propagam um conceito pobre, equivocado e inconseqüente sobre o amor.
O Relacionamento no Lar – O relacionamento social do homem tem sua origem no pacto da criação, quando o Criador, vendo que não era bom que o homem estivesse só, fez-lhe uma companheira, tirada de sua própria carne, e instituiu a família.Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne (Gn 2.24).
Em Gênesis 6, Deus mandou que Noé construísse uma arca e entrasse nela com toda a sua família porque todos os demais seres vivos seriam destruídos. Assim, o justo Noé, o homem que andava com Deus, foi salvo juntamente com sua família. Em Gênesis 12, Deus chama outra família, Abraão e Sara, e fez-lhe promessas de neles abençoar todas as famílias da terra (Gn 12.3).
Em tudo isso, podemos notar que Deus dá grande importância ao relacionamento familiar e, através dos séculos, tem manifestado a sua graça comum preservando essa instituição em todo o mundo. É muito importante, portanto, poder dizer como Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js 24.15); pois, se a parte que forma o todo for boa, o todo também será bom. Ou seja: se cada família for boa, a sociedade será boa e o país será bom. Uma família segundo o padrão estabelecido por Deus produz o bem-estar e a realização das pessoas. Nas epístolas do Novo Testamento encontramos a exposição da própria vida cristã nos termos da vida em família (cf 1 Pd 3.1-7; Ef 5.21-6.9).
Esse último texto pode ser chamado de “código de subordinação”. Como Cristo foi submisso até à morte, e morte de cruz; assim também os cristãos devem submeter-se uns aos outros conforme os princípios estabelecidos nas Escrituras: Esposas, aos maridos; filhos, aos pais; servos, aos senhores; e todos a Cristo.
Nessa passagem está uma das declarações paulinas mais questionada pela sociedade moderna.
As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido (Ef 5.22-24).
Paulo está dizendo que as mulheres devem ser submissas aos maridos. Isso é bíblico e não pode ser negado. Contudo, para uma compreensão correta das palavras do apóstolo temos que levar em conta tanto a natureza feminina quanto o conceito de liderança do esposo. Essa liderança tem por padrão a liderança de Cristo sobre a Igreja. Isso indica que, como Cristo trabalhou para conduzir a igreja, como ele supriu todas as necessidades dela, como ele advoga a sua causa, como ele intercede por ela, como ele atende as suas petições e orações, assim o marido deve trabalhar para o bem estar de sua esposa, suprir todas as suas necessidades, defender as suas causas e ouvi-la em suas colocações.
Por outro lado, falando de natureza feminina, que moça gostaria de casar-se com alguém em quem ela não pudesse confiar, não pudesse descansar, um homem pelo qual tivesse que tomar as decisões, alguém que não a protegesse e que nada fizesse para suprir as suas necessidades?
Portanto, estou convencido de que o problema não está na submissão das mulheres. O problema está na deturpação do conceito de liderança. Assim, antes do casamento a moça deve saber se o conceito de liderança do seu noivo crente está de fato correto. Contudo é importante entender que a submissão da esposa não depende da compreensão correta do esposo quanto ao conceito de liderança. Se uma moça casar-se com um homem ruim, ainda assim ela deve-lhe submissão. O pecado dele, de exercer mal a autoridade que lhe fora delegada por Deus, é um outro problema que no devido tempo será julgado por quem lhe delegou tal autoridade. Isso deve levar a moça cristã a refletir muito sobre a pessoa com quem pretende se casar.
Dirigindo-se especificamente aos maridos, Paulo atribui-lhes um dever muito mais difícil que o das mulheres. Eles devem amar as esposas assim como Cristo, o noivo, amou a Igreja. A dificuldade a que me refiro não está no dever de amar a esposa, e sim no padrão desse amor: “como Cristo amou a Igreja”. Cristo tudo fez para o bem da Igreja. Ele deu a própria vida por ela. Ele jamais fez qualquer coisa que a prejudicasse ou a entristecesse. É assim que o esposo deve amar a esposa. Esse é o verdadeiro significado do amor e é o padrão a ser seguido por todos quantos crêem em Deus.
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