A quem enviarei? Quem há de ir por nós?

Autor: Paulo Lockmann

1. Introdução – Líderes ou vocacionados?

Estamos iniciando um novo biênio, e é meu dever precisar: O que é o ministério pastoral? Qual é a sua tarefa? Por favor não estou falando das atribuições canônicas, ainda que importantes; quero falar da expectativa de Deus, conforme expressa na Palavra.

Temos falado insistentemente em líderes, em formar líderes espirituais; nossos paradigmas caminham até a comparar pastores e pastoras como gerentes. Denuncio isto como um risco muito grande, pois trata-se de uma possível rendição da Igreja ao mercado, ao neoliberalismo econômico, onde as instituições estão a serviço do mercado. Deixem-me dizer com clareza: Este não é um modelo para a vocação pastoral!

Nós queremos homens e mulheres chamados por Deus, dispostos a dar a sua vida pela missão. Não rejeitamos a competência, o senso organizacional, a capacidade de liderança. Mas queremos privilegiar o carisma pastoral, do servo(a) de Deus, que está disposto(a) a dar a sua vida pelo rebanho. Nosso modelo é JESUS e seu ministério junto ao povo, e não Bill Gates ou outros empreendedores bem sucedidos.

2. Somos pastores(as) junto ao rebanho

O grande motivo pelo qual atendemos o chamado de Deus não é o de ter um emprego, mas o de ter uma missão espiritual, de ser pastores e pastoras junto ao rebanho de Deus, a Igreja do Senhor.

Se acolhemos essa imensa responsabilidade, recomendo que leiamos com calma os seguintes trechos bíblicos: Salmo 25, João 10, Atos 20.17-38, 1Tm 4.6–5.25; 1Pe 5.1-10.

Não vou comentar estes e tantos outros textos, mas, sim, anotar algumas recomendações pastorais tomadas desses textos.

O primeiro aspecto que sublinho é quando Paulo diz aos presbíteros de Éfeso: “Olhemos por todo o rebanho”. Ser pastor(a), então, não é se colocar num pedestal, frente ao púlpito, debaixo de focos de luz, como um astro que se apresenta perante uma platéia, a qual o aplaude, e algumas vezes o idolatra, e, ao mesmo tempo, nos bastidores, viver para atender seus interesses, e até seus desejos carnais. Este modelo de pastor(a) show man/woman, não é o nosso, porque não é bíblico.

Nossa posição no púlpito, junto ao altar, nos dá uma posição de influência poderosa sobre a vida das pessoas de nosso rebanho, o que é de uma grande responsabilidade!

João Wesley se refere a este olhar pelo rebanho, dizendo o seguinte: “Os ministros devem ir na frente (como é o costume dos pastores orientais até hoje) e guiá-lo em todos os caminhos da verdade e da santidade; precisam alimentá-lo com as palavras de vida eterna”; nutri-lo com o “puro leite da palavra”; aplicando-o continuamente à doutrina; ensinando-lhe todas as doutrinas essenciais contidas na palavra; “para chamá-lo à ordem”, admoestando-o se se desvia do caminho para a direita ou para a esquerda; “para corrigi-lo”, mostrando-lhe como endireitar o que está errado e trazê-lo de volta ao caminho da paz; para “instruí-lo na justiça”, treinando-o na santidade, “até que venha a ser perfeito, até que alcance a medida da estatura da plenitude de Cristo”.

Eles têm de “velar pelas vossas almas como aqueles que hão de dar conta das mesmas”. “Como aqueles que hão de dar conta!” Quão indizivelmente solenes e terríveis são essas palavras! Possa Deus escrevê-las no coração de todos os guias de almas!” (Sermões: Sobre a obediência aos pastores”, I, 4-5 (J, VII, 110).

A segunda questão é que esta obra de cuidado do rebanho foi dada a nós, pastores e pastoras. Isto nos obriga a descer do púlpito, e a nos misturar com o rebanho. Vivemos um tempo de ênfase no discipulado; e discipulado é estilo de vida, é convivência com o rebanho, precisamos nos expor ao rebanho, o povo de Deus precisa saber e ver como é nossa vida como cidadãos, como esposo, como pai. Não temos como fugir; o(a) pastor(a) é uma figura pública. As verdades eternas que pregamos, precisamos demonstrar como vivê-las no dia-a-dia.

Quem não aceita essa exposição pública não pode ser pastor(a). Precisamos ser modelos para o rebanho, e isso não acontece no privado, mas no público, na exposição do cotidiano.

A terceira questão é a de saber que esta vocação é acompanhada de uma honra. Sim, que imensa honra é ser (a) de Cristo. Sermos instrumentos para a conversão e a salvação de vidas! Portanto, não confundamos esta honra com orgulho e auto-promoção, querendo aparecer no lugar do Senhor. Nosso anseio deve ser por estar onde necessitam de um ministro de Cristo, onde há uma alma atribulada, uma família enlutada, uma vida sem Deus. Há tantas vidas perdidas, oprimidas, escravizadas, enfermas, carentes de toda ordem, esperando por uma palavra vinda de um embaixador(a) de Cristo, que é você, que somos nós. Mãos à obra, meus irmãos e irmãs, é nobre a tarefa que Deus colocou nas nossas mãos.

Um quarto aspecto que eu quero sublinhar nesta breve reflexão é que, do mesmo modo como ser pastor(a) é se envolver no meio do rebanho, ser pastor(a) é estar permanentemente e definitivamente envolvido com Deus, orando em todo o tempo. Nossa alma apegada a Deus, transpirando no poder do Espírito Santo. Ele, e somente Ele, nos faz pastores e pastoras; portanto nos rendamos a Ele.

Deixem-me compartilhar com vocês uma experiência recente. Domingo, 11 de janeiro, eu estava pregando pela manhã na Igreja Metodista do bairro da Universidade da cidade de Havana, onde participávamos do Seminário das Américas com metodistas da América do Norte, Central e do Sul, e mais o Caribe A Igreja Metodista em Cuba vive um momento de avivamento espiritual; nos últimos 3 anos, 500 igrejas nas casas foram organizadas. O culto daquela manhã durou três horas e meia, e eu falei durante cerca de 50 minutos; quando terminei, antes de convidar, as pessoas já estavam no altar, havia uma visitação do Espírito de Deus, maravilhosa, indescritível; o culto havia começado às 9 da manhã. Depois de orar e despedir o povo, saímos para almoçar, eu, o Rev. Eddie Fox, Rev. George Morris, Dr. Wilson Bonfim e alguns outros irmãos. Após o almoço, fomos a uma loja junto ao hotel onde havíamos almoçado; enquanto eles escolhiam algum artigo para levar, eu comecei a conversar com a vendedora, cujo nome é Lourdes. Foram meia dúzia de palavras e quando me dei conta ela estava chorando, e dizia: “Eu não sei por que estou chorando, mas o senhor precisa me ajudar.” Ela aceitou Jesus ali na loja. Sabe o que aconteceu? O Espírito Santo estava transbordando em minha vida, na vida do grupo, e tocou poderosamente naquela mulher, encheu aquela loja, como havia horas antes enchido o templo. Deus me quer cheio da sua presença, Deus quer você, pastor e pastora, no meio do povo, transmitindo a Palavra e a presença do Senhor.

Pastor, Pastora, vivamos na comunhão do povo e do Espírito Santo. Amém, Amém e Amém.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*