Autor: José Luiz Martins Carvalho
A cultura brasileira é conhecida pela sua falta de memória. Sempre nos queixamos do ostracismo a que são relegados os grandes nomes da História Nacional, desde os tempos coloniais até os mais contemporâneos. Como bons (ou seria melhor dizer maus?!) brasileiros, nós, evangélicos, herdamos esse hábito na nossa cultura religiosa. Negligenciamos a História e os seus ensinamentos, deixamos no ocaso as grandes lições (das vitórias e das derrotas) que nossos pais nos deixaram. Precisamos resgatar a nossa essência! A História é uma boa ferramenta para nos auxiliar nessa empreitada, principalmente, quando rememoramos o que a História Bíblica tem para nos dizer sobre o que somos e sobre o nosso papel no mundo.
A Igreja
A palavra “igreja” vem do vocábulo original grego “eklesia”, que significa, literalmente, “chamados para fora”, tem o mesmo radical de “eleito” (“eklegomai”), pois fomos eleitos por Deus para formar-mos o Seu Povo. O apóstolo Pedro, de forma magistral, nos diz algo sobre a igreja: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.” (1 Pe 2.9-10).
Outrossim, a despeito do que muitos pensam, Deus não elegeu para Si um grupo, Ele elegeu pessoas, pois é um Deus pessoal. Deus contraria o mundo e os seus valores. Jesus veio ao mundo momento em que o imperador romano, César Augusto, recenseava o povo de seus domínios (Lc 2.1-7), ou seja, no exato momento em que o mundo tratava os homens como gado, contando quantos haviam em suas propriedades, Deus se faz homem e habita no meio de nós mostrando o quanto importamos para Ele. Ele não nos tem por um grupo, mas nos conhece pelo nome (Jo 10.3). Somos raça eleita, porque cada um de nós foi eleito por Deus, em Cristo; somos sacerdócio real, porque o Senhor nos propiciou a bênção de, individualmente, podermos adentrar, confiadamente, na sala do Trono; somos nação santa, porque, pelo Espírito, fomos separados, um a um, do mundo e do pecado; somos povo de propriedade exclusiva de Deus, porque Ele tomou para si cada um de nós, através da cruz. Somos, cada um, parte de um corpo espiritual: o Corpo de Cristo.
As Marcas da Igreja
O Senhor deixou, na Sua Igreja, algumas marcas características de sua presença e atuação em seu seio. Essas marcas não podem, jamais, deixar de estar presente no Corpo de Cristo, pois ele ficaria descaracterizado e Cristo não poderia ser mais considerado o seu cabeça. Essas marcas são o selo de propriedade que o Senhor deixou e conserva, a cada novo dia, a cada novo passo, por intermédio do Seu Espírito. Vejamos que marcas são essas:
Una – Essa palavra latina atesta a singularidade da Igreja de Cristo: só existe uma! Ela é única, há um só corpo (1 Co 12.20; Ef 4.4). Porém, essa não é a única verdade que depreendemos dessa palavra. Ela também tem radical de união, unida, ou seja, a Igreja de Cristo é uma e também é unida. Só existe Igreja de Cristo quando essa está unida em si mesmo e no seu cabeça. As nossas individualidades não podem ser fator de segregação, mas de perfeita harmonia, visto que somos pedras vivas (1 Pe 2.5) de um mesmo edifício espiritual (1 Co 3.9), e o “cimento” que nos liga é o Espírito Santo (1 Co 12.4-6). “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.” (1 Co 12.27).
Santa – Etimologicamente, “santo” significa “separado”. Deus nos separou para Ele (Ef 1.5). Essa palavra possui, também, um outro conceito que é puro, sem mácula. Deus nos separou do quê?! Do mundo e do pecado, por isso, a Igreja é, e deve permanecer até a volta do Senhor, pura e sem mácula (Ef 5.27). Mas a Igreja não deve pensar que está sozinha nesta caminhada, pois o Senhor prometeu estar com ela (Mt 28.19) e enviou o Consolador, Paráclito, o Espírito Santo(aquele que dá auxílio) para cumprir a Sua promessa (Jo 14.16). “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!” (Jd 24.25).
Universal – A Igreja de Cristo não pode estar, e não está, restrita por questões humanas (Mc 9.38-40). A Igreja do Senhor é universal e abrangente (1 Co 1.2). Algumas igrejas querem deter o título de “única igreja”, sem perceber o ridículo de sua reivindicação. Querer conformar um corpo espiritual num corpo material é o mesmo que tentar colocar Deus numa caixa de sapatos! No corpo de Cristo de Cristo as diferenças não são motivos para discriminação, não há judeu nem grego, nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher (Gl 3.28). O grande número de igrejas evangélicas, nas mais variadas culturas, são expressão da multiforme graça de Deus (1 Pe 4.10). “Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos;” (Ap 7.9)
Apostólica – A doutrina da Igreja do Cristo é baseada nos ensinos apostólicos, daqueles que receberam do Senhor o ensinamento e a unção para tal (Ef 2.20). Há ainda outro sentido que não pode ser negligenciado na afirmação de que somos igreja apostólica: o termo “apóstolo” significa “enviado”, diante disso, somos também desafiados a cumprir o “Ide” de Jesus, indo por todo o mundo a pregar o Evangelho (Mc 16.15-16). O Senhor nos elegeu com um propósito, Ele não tirou das trevas para Sua maravilhosa luz à toa, mas foi a fim de proclamarmos as virtudes do nosso Pai da Luzes, não de nossas organizações (1 Pe 2.9). E não fazemos isso sozinhos, mas amparados no poder do Espírito Santo. “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (At 1.8)
Os tempos atuais e o papel da Igreja
Talvez, a Igreja nunca tenha vivido tempo tão hostil à mensagem do Evangelho, às boas-novas de salvação. O que nos conforta é que tempos como esse foram preditos nas Escrituras. Paulo advertiu a Timóteo: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” (2 Tm 4.4-5). As pessoas estão cada vez mais buscando fábulas. Vemos a ressurgimento dos gnomos, duendes e fadas, esquecidos desde a Idade Média. A Nova Era vem trazendo à tona esses temas e, por incrível que pareça, as pessoas estão mais propensas a crer nestas fábulas do que no Evangelho. Se bem que não era para surpreender-nos, pois há dois mil anos o apóstolo já predisse. A coceira nos ouvidos do ser humano parece estar cada vez mais aguda.
Por outro lado, vemos uma crescente antipatia contra a religião de um modo geral. No Brasil, a sociedade nunca foi muito simpática aos evangélicos e isso piorar ainda mais. Não bastassem as diversas e atrocidades cometidos por religiosos e pseudocristãos no decorrer dos séculos, uma das maiores religiões do mundo (o Islamismo) protagoniza um dos atos mais bárbaros e covardes de nossos tempos. O atentado ao World Trade Center colocou na berlinda a religião, questionando seus métodos, objetivos e, até, a sua importância no mundo. Não adiantaria argumentarmos que é um grupo isolado, que nem mesmo a massa dos muçulmanos aprova e apoia, pois os ateus e agnósticos de plantão parecem estar com seus ouvidos cerrados devido ao preconceito e a falta de Deus. O que devemos fazer?!
Não há outro passo a se tomar, a Igreja precisa resgatar a sua essência e assumir, com total confiança na providência divina, a sua responsabilidade num mundo em crise, onde o homem não tem identidade e o que ora pende para o místico e para as fábulas, ora para o ceticismo e o desespero.
A Igreja deve ter o conselho de Paulo a Timóteo como base de sua ação no mundo atual: “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.” (2 Tm 4.5). Sobriedade, para não cair no ridículo e no fanatismo; Força, para suportar as aflições e perseguições; Unção, para pregar a Palavra e evangelizar na autoridade do Espírito; Comunhão com Deus, para cumprir aquilo que está em suas mãos, que Deus designou como seu ministério. Urge deixarmos nossas confortáveis e inertes posições e abraçar a Cruz de Cristo com vigor e com ardor, pois, se carregarmos a Cruz na nossa caminhada diária, quando chegar dia mau, será ela que nos carregará.
Não sou um missionário, Deus me deu o dom de DIVULGADOR…Divulgo os ensinamentos e orientações de Deus e de Jesus, contidos nas Escrituras Sagradas – Bíblia – em áudio , através dos sites http://antigo-novo-testamento.net e http://evangelho-de-jesus.net Deus abençoe …