A crise do homem da meia idade

Autor: Robinson Cavalcanti

“Há uma crescente  opinião  entre sociólogos, psicólogos e psiquiatras,  e outros profissionais, que todos os homens irão atravessar em algum grau… é uma crise natural do desenvolvimento, e, ao mesmo  tempo,  inevitável”.  Assim escreve o pastor  e psicólogo Jim  Conway em seu livro  Men In Midlife Crises  (Publicadora  David  C. Cook), por mim adquirido em Amsterdam, Holanda, quando participava do “1º Congresso  Internacional para Evangelistas Intinerantes”  (julho  1983), patrocinado pela Associação Evangelistica   Billy Graham.  O livro, que teve ampla difusão (mas pouco levado a sério), foi recomendado por alguns dos ícones do evangelicalismo norte-americano  da época, como J.  Dobson, V. Grounds, J. A. Peterson e K.  N. Taylor.

CRISE  INEVITÁVEL
Para o autor, “A crise da meia  idade é quase que  publicamente ignorada na igreja, embora muito dos seus membros irão passar pelo problema”.    A Igreja precisa reconhecer  que essa  crise é um problema significativo no desenvolvimento  de todos  os homens adultos  que a irão enfrentar.  Temos obreiros para crianças  ou idosos, mas muitos  homens de meia idade  deixam a  igreja temporariamente por falta  de compreensão e de ministérios especializados.
Por que essa crise não foi estudada antes?   Simplesmente porque havia poucos homens de “meia idade”.  Assim, a  sociedade ainda não a absorveu, como fez com a adolescência.
Antes as poucas pessoas de meia idade viviam, em sua maioria, em comunidades rurais tradicionais, ou em sociedades autoritárias, que, por séculos, reprimiram as expressões da evolução  emocional  dos seres  humanos.  Hoje elas afloram pela opção da liberdade, chocam, causam apreensão, perplexidade, incompreensão.
Em que idade a crise aparece?   Os autores  divergem: para  Kenn  Rogers, entre os 30  e os 39 anos; para Carl Jung, entre os 35 e os 50 anos, e para  Joel  e Lois Davitz, entre os 40 e os 50 anos.  Pesquisa, nos Estados Unidos, constatam que entre os 34 e os 42 anos 80% dos executivos passam  pela crise.
Não se trata de uma “menopausa masculina”,  mas, para  Conway, as sensações são parecidas: depressão, ansiedade, irritabilidade, isolamento, fadiga, auto-piedade, e, sobretudo, infelicidade quanto à vida.  Há uma  variedade de fatores causais: mudanças no corpo  (envelhecimento),  consciência maior das limitações e da morte, das falhas do passado e  do temor do futuro, a confrontação das fantasias do jovem adulto com a realidade, uma queda na auto-imagem.   Chega-se ao ponto em  que tudo o que se sonhou ou planejou  como projeto  de vida ou já foi realizado ou, muito  provavelmente, nunca será  realizado.
Voltam fortes, nesse período,  as questões existenciais  básicas:  Quem sou?   O que  faço?  Qual será  o meu destino?  Há uma sensação de que o melhor da  vida está  no passado.  Há um vazio e um sentido de urgência ( o que dá para  fazer, de diferente, ainda?), agravados pelo estresse da vida urbana competitiva, em uma sociedade móvel (geográfica e culturalmente), em um  mundo que cultiva o mito da juventude.  Há pressões e demandas de todos os lados, os filhos na  adolescência e os pais na velhice.  O corpo e a mente  se esgotam.  Descobre-se que muito dos “amigos” eram apenas  interesseiros ou, até, verdadeiros inimigos.

CRISE  NECESSÁRIA
Instala-se  a crise existencial e de identidade.  Vive-se o que alguns autores denominam de “segunda adolescência”.  A família, a igreja, a empresa,  a  sociedade não o compreendem (nem aceitam).  Não percebem a naturalidade, a  inevitabilidade e a necessidade (transição para a próxima etapa da  vida), e emitem apenas  apressados,  superficiais e  descaridosas  julgamentos morais (“Velho Sujo”)   ou espirituais ( “desviou-se” ,    “caiu em pecado”).  Para o autor, nessa hora o homem “necessita de amigos que estão dispostos a sofrer com ele, e não de um acusador”,  e  que a igreja deve desenvolver compreensão e aceitação.
Na crise,  os homens  se cansam com a família e o trabalho.   Buscam mudanças ( “enquanto dá tempo”), de bairro, de cidade, de Estado, de País, de atividade profissional, de igrejas, de amigos e desenvolvem novos  gostos em termos de arte, esportes e lazer.   Passam por  dificuldades em relação à Deus  e  aos valores (especialmente os formados  em  concepções mais  rígidos e represssores),  redimencionam seus casamentos ou optam por nova experiência conjugal.  Durante a  crise, percebe-se,  com profundidade,  a mensagem do Salmo 102.
A própria  pessoa deve aceitar a realidade da crise, que, quando  atravessada adequadamente, conduz ao amadurecimento.  Prepara-se, Assim, para  um envelhecer útil e com classe.   Aprofunda-se um novo relacionamento com Deus.  Para aquele autor: “Seguindo-se a  crise  da meia idade, um  homem  se move para o terceiro período, começando no término dos 40 e indo até a sua  aposentadoria.  O homem que navega com sucesso a crise  da meia idade irá experimentar uma crescente  produtividade, um declínio na competitividade, um maior desejo de aprender dos outros a habilidade para o lazer e a habilidade para estar só”.
A crise  –  embora com traços comuns – é diferente de personalidade para personalidade, dependendo da história de vida, da conjuntura, da cultura, da classe social, da teologia e do sistema de valores adotados e da reação das pessoas e instituições que o cercam.  Deve-se, em todos os casos,  respeitar a solidão e  a peregrinação sofrida dos que passam pela crise, apoiando-o em suas decisões e saídas.
A redescoberta da Graça de Deus, da  humanidade de Jesus e da nossa própria humanidade, a superação  do dogmatismo e do legalismo, a redescoberta da natureza e da vida, concorreriam  para uma igreja mais sadia  e terapêutica  e para cristãos (especialmente  líderes) menos hipócritas, mas  felizes, mais felizes e mais maduros.

Fonte: http://www.ieabrecife.com.br/index1.htm

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