A criação dos filhos

Autor: Wanderley Freitas

Para que Deus nos dá Filhos?
Deus poderia ter feito uma multidão de seres humanos, mas fez apenas um homem e uma mulher. E os encarregou de gerarem uma raça. Entre as muitas razões, três são as mais importantes:

Para Nos Mostrar o Seu Favor (Sl 127.3-5). Deus nos ama. Seu coração paterno desejava compartilhar conosco a linda experiência de criar filhos. Eles não nos são dados para nos sobrecarregar ou nos fazer sofrer inutilmente, mas para formar-nos à semelhança de Deus, o Pai Eterno.

Para Criá-los em Deus (Ef 6.1-4; Cl 3.20-21). Devemos ter uma atitude de seriedade e fé diante do privilegio de criar filhos no Senhor. Temos apenas uns 18 ou 20 anos para completar em cada filho a etapa de formação. Não podemos perder nenhum desses anos.

Para Encaminharmos a Geração Seguinte na Vontade de Deus (Gn 18.17-19; Sl 128). O homem se projeta para o futuro através dos filhos e dos filhos de seus filhos. A maior obra que podemos fazer nesta vida é a de criar filhos para que honrem ao Senhor e abram caminho para a extensão de seu reino. Deus não intervém diretamente na criação de nossos filhos. Nós é que devemos assumir esta responsabilidade. Não podemos ignorá-la, porque um dia vamos ter que prestar contas do que fizemos nesta área.
Deus manifestou a sua confiança em Abraão quanto a isto (Gn 18.17-19). Entretanto, revelou seu profundo desagrado com o sacerdote Eli por sua irresponsabilidade na disciplina e formação de seus filhos (1Sm 2.12,27-30; 3.11-13).

Determinando Objetivos Na Formação Dos Filhos
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviara dele” Pv 22.6.

Esta tarefa não é fácil. Requer uma dedicação seria durante muitos anos. Mas Deus nos assegura a sua graça e sabedoria.

Compreendendo a Natureza da Criança (Pv 22.15; Sl 51.5). Elas não se inclinam naturalmente para o bem. Por isso devemos ensiná-las, formá-las e discipliná-las.

As Metas Importantes na Formação da Criança são:

Uma relação pessoal com Deus – consciência de que são parte da família de Deus e devem se relacionar diretamente com ele.

A formação do caráter – capacidade para enfrentar as responsabilidades da vida, trabalho, casamento, solida base moral, auto-disciplina, auto-estima, domínio próprio, controle sobre os sentimentos, gostos, etc.

Formação social – clara consciência de sua identidade, capacidade de se relacionar com outros, assumir compromissos, e sujeição às autoridades.

Formação Física – hábitos alimentares e higiene.

Quais São as Responsabilidades dos Pais?
Há quatro áreas específicas de responsabilidade dos pais: exemplo, instrução, disciplina e carinho. Tudo isto são expressões práticas do amor. Além de aceitarmos os filhos como eles são, com seu próprio sexo, virtudes e debilidades, cor dos cabelos e da pele, personalidade, devemos considerá-los que são herança do Senhor. Temos portanto a responsabilidade diante de Deus de criá-los para a Sua glória.

Exemplo
Os filhos aprendem tudo com o comportamento de seus pais. Ensinamos mais com o exemplo do que com palavras, ordens ou ameaças. O exemplo é a base fundamental para formação do caráter dos filhos. Eles procuraram imitar seus pais no que dizem e no que fazem. Não adianta cobrar ações de graça em toda e qualquer ocasião se os pais não agem assim.

Instrução (Pv 22.6)
Enquanto o exemplo é a base fundamental para a formação da vida dos filhos, a instrução direciona e ordena essa formação. Instruir significa: ensinar, doutrinar, formar, capacitar, comunicar. As crianças não aprendem somente por ver e imitar, elas necessitam ser instruídas na: honestidade, justiça, perdão, generosidade, respeito pelos outros, pudor e asseio, modéstia, diligência e etc.

Também é responsabilidade dos pais incentivar os filhos a desenvolverem sensibilidade espiritual, docilidade e boa disposição diante de Deus.

Áreas que Merecem Mais Atenção dos Pais:

Realizar trabalhos e cumprir ordens;

Ajudar outras pessoas;

Concentrar-se nos estudos.

Resolver problemas e discórdias sociais.

Formar amizades;

Vencer a tentação;

Desenvolver um sentido de dignidade moral;

Usar bem o dinheiro e o tempo;

Encontrar e permanecer no emprego;

Desenvolver uma bom comportamento com o sexo oposto;

Descobrir sua vocação.

Os pais devem elogiar, felicitar e aprovar tudo aquilo que os filhos fazem bem ou quando mostram interesse de acertar. Isto ajudará a firmar os valores positivos do caráter. Faz com que os filhos se sintam reconhecidos e apreciados reforçando a auto-estima.

Os filhos, por outro lado, devem conhecer os limites de sua liberdade. Isso se faz com pequenas regras de funcionamento da casa. Essas regras devem ser poucas e razoáveis, e se exigirá o cumprimento.

Quanto aos adolescentes, é necessário explicar-lhes bem as coisas. Não bom agir com uma atitude simplesmente impositiva. Quando se explica, isso ajuda na formação de critério e bom juízo, ainda que eles resistam diante de normas estabelecidas.

Entretanto, apesar das boas e devidas instruções que os pais possam dar, nada substitui o exemplo dos pais. Muitos não seguem este princípio e acabam “apagando com o cotovelo o que escrevem com as mãos”.

Disciplina
Cl 3.20,21; Pv 3.12; Pv 13.24; Pv 19.18; Pv 20.30; Pv 22.15;
Pv 23.13,14; Pv 29.15.

A relação de uma criança com Cristo prospera na medida em que obedece a seus pais. Jesus Cristo vive e trabalha na vida de um filho obediente.

A obediência não é opcional nem se limita no que o filho considera justo. A obediência deve ser a tudo. A autoridade dos pais foi dada por Deus para formar e disciplinar a seus filhos e tem dele todo o respaldo.

Os pais podem se enganam muitas vezes mas, quando isso ocorrer, devem admitir logo seus erros. Ao admitir que estão errados, demonstram ser pessoas a quem Deus pode respaldar. Sua autoridade não vem do fato de estarem certo, mas sim de Deus de quem eles a receberam.

O Uso da Vara
Os textos acima citados, mencionam o termo vara repetidamente. Isso sugere um castigo físico. Não se trata aqui de simplesmente castigar a criança. O uso das mãos ou de objetos de uso pessoal foge do princípio e dos objetivos. As mãos servem para acariciar, proteger e afagar. Cintos, chinelos, fios elétricos, etc representam objetos pessoais. Mas a vara (pode ser uma simples varinha de madeira, ou mesmo um objeto de couro) de uso exclusivo, representa um instrumento de correção e disciplina.

Também, a única área adequada para aplicar a disciplina são as nádegas, por ser uma região carnosa e sem nenhum órgão vital. Disciplinar não é torturar, ferir ou espancar. É um ato de amor ordenando o futuro dos filhos.

Quando Usar a Vara

Quando houver uma rebelião clara, quando a criança não acata uma ordem ou por qualquer outra ofensa séria.

Não se usa para faltas menores ou para corrigir erros nas crianças (como deixar cair coisas por descuido).

Deve-se aplicar a disciplina sobriamente e sem ira. Os pais que disciplinam seus filhos irados, transmitem seus sentimentos negativos.

É necessário acalmar-se antes de aplicar qualquer disciplina. A disciplina tem como objetivo corrigir a criança e não descarregar sobre elas nossos desagrados.

O objetivo principal na disciplina é ensinar os filhos a obedeceram a seus pais quando eles se dirigem. É assim que Deus deseja: “filhos, obedecei a vossos pais…”

As crianças sofrem muito quando seus pais não as disciplinam corretamente. A disciplina justa alivia o sofrimento e os libera do sentimento de culpa e do peso da consciência.

O maior problema no ser humano é a rebelião contra a autoridade legítima. Os pais não devem permitir rebelião em seu lar. É responsabilidade dos pais livrar seus filhos de atitudes de rebelião.

Aspectos Importantes da Disciplina

Deus estabeleceu os pais como responsáveis diretos pela conduta de seus filhos (Pr 4:1-9; 1Sm 3.13,14).

O pai é a figura principal quanto a disciplina. Ainda que a mãe tenha que disciplinar, o filho deve saber que ela conta com o apoio de seu marido. Isto facilita a tarefa da mãe.

Os pais têm que mostrar unanimidade na disciplina. A mulher deve ter o cuidado para não contradizer a seu marido, e o homem deve respaldar a sua esposa, especialmente na presença dos filhos.

Os pais não devem proferir ameaças nem expressões de ódio.

A disciplina deve ser administrada imediatamente após a ofensa ou desobediência

“Visto não se executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal.” (Ec 8.11).

A disciplina deve ser:

Com firmeza e decisão;

Com critérios estabelecidos (não segundo as emoções);

Proporcional a ofensa; e,

Sem ira ou amargura.

O que Deve Ocorrer Após a Disciplina
A disciplina correta deve seguir um processo que inclua:

Explicação: a criança deve saber o por quê da disciplina.

Castigo: Com a vara e proporcional à ofensa.

Oração.

Perdão: a criança deve saber que a partir da disciplina não há mais culpa pelo ocorrido, e que ela é amada pelos seus pais.

Reconciliação: isso significa reparar ofensas, pedir perdão, restituir coisa roubadas, voltar a amizades rompidas, etc.

Principais Deficiências No Exercício Da Disciplina

Condicionar a obediência à compreensão da criança: a criança não obedece, apenas concorda. Não há reconhecimento de autoridade, mas uma negociação.

Ajudar na “obediência” para evitar confronto: dar uma ordem e auxiliar na execução quando a criança oferece resistência. Quando isto se torna um hábito (vício) doméstico provoca sérios vexames em ambientes estranhos ou públicos.

Achar desculpas e justificativas para as manias: Ex.: “é o gênio”, “são os dentes”, “está com sono”, etc. Nada disso justifica a rebeldia. A criança, mesmo indisposta, pode e deve obedecer aos pais em tudo e prontamente.

Diferenciar ordens (mais ou menos importantes): ordens são ordens e devem ser obedecidas prontamente, qualquer que seja. Estabelecendo-se diferenças, confunde-se a criança. Ela não entende porque há mais severidade para umas ordens do que para outras. Ela só sabe que, às vezes, exige-se obediência e outras não. Exemplos: 1º – Não toque na tesoura x Vá escovar os dentes; e, 2º – Não suba na janela (quarto andar) x Não toque na radiola.

Deixar-se manipular: “Só essa vez”, “ó mãe, me perdoe”, “eu prometo que não faço mais”, “estou tão cansado”, “você nunca me deu isto ou aquilo”, etc.

Deixar-se levar pela desculpa da memória, desobediência cor-de-rosa: “oh! esqueci”. Vara é bom para a memória.

Compensação por sentimento de culpa: os pais se sentem culpados por não poderem atender algumas necessidades e desejos, ou até caprichos dos filhos, por não terem recursos, e querem compensar tornando-se muito tolerantes.

Não exigir obediência total, irrestrita e imediata: não entender ou não concordar com Deus quanto a autoridade delegada aos pais. A base da relação pais x filhos é a autoridade. Pais inseguros apelidam frouxidão de “amor” ou compreensão.

Não exigir obediência na ausência dos pais,: “você não é meu pai nem minha mãe”. Filhos desaforados e desrespeitosos para com os mais velhos e adultos em geral.

Contentar-se com uma obediência circunstancial. Não buscar uma disposição de submissão nos filhos nem levá-los a ter uma cerviz dobrada. Quem acha muita explicação para os erros dos filhos, também achará para os seus, diante de Deus.

Não entender que a disciplina é corretiva e formativa e não punitiva. As Escrituras dizem: “vara da disciplina” – o castigo imposto pela vara, ao contrário de tentar punir, visa , antes, corrigir defeitos e formar o caráter da criança.

Falta de perseverança: hoje disciplina, amanhã não, ainda que pelo mesmo motivo. Isto confunde a criança.

Papai “Esquecido”: sempre esquece as advertências que fez e volta a advertir. Ridiculariza-se a si mesmo e aos filhos.

Papai “Gamaliel” é o super-mestre: sempre explica muito e não age nunca. Esquece que é a vara e não o sermão que afasta a estultícia do coração da criança.

Papai “Eli” é o super espiritual: quer transmitir uma imagem forte do “Papai-do-Céu”, sendo ele próprio um molenga. Os filhos não aprenderão a temer o “Papai-do-Céu” se não aprenderem a obedecer ao “papai-da-casa” ( Ex 32.21, 25 x Gn 18.19 ). O Deus de Abraão ficou conhecido, depois dele, como “O Temor de Isaque”.

Papai “Fariseu” exige tudo e não faz nada. Os filhos não são estimulados e desafiados pelo exemplo, além de perderem o respeito pelos pais diante da hipocrisia destes.

Carinho
Ser o exemplo, dar instrução e disciplinar, são expressões de amor que muitas vezes não são compreendidas ou consideradas com tal. Nossos filhos têm sentimentos e carências afetivas. É necessário que se some a todas essas ações, muito carinho.

Carinho é o mesmo que afeto, meiguice, docilidade, atenção e cuidado. São maneiras de tratamento que expressam sensibilidade para com aqueles a quem amamos. Nossos filhos sabem quando somos sensíveis a eles e às suas necessidades.

Existem algumas maneiras de se demonstrar isso:

Expressão Verbal
Esta é a mais simples de todas mas não menos importante. Dizer aos nossos filhos que os amamos é o mínimo que podemos fazer. Expressões como: “Eu amo você”, “você é muito importante para mim”, “sou grato a Deus por tua vida”, “você é um presente de Deus para nós”, são simples mas produzem um resultado maravilhoso.

Todos gostamos de saber que somos amados. Os que tem telefone, liguem especialmente para os filhos, mande-lhes cartões e telegramas. Eles adorarão.

Gestos Carinhosos
As palavras muitas vezes não conseguem expressar tudo. É preciso gestos! Um afago, uma carícia, passar a mão pela cabeça, segurar com carinho as mãos, beijar, carregar nos braços, carregar nas costas, rolar pelo chão, correr juntos, brincar de pega-pega e esconde-esconde, podem ser expressões mais fortes que as palavras. Juntas, produzem uma revolução de amor.

Presentes Criativos
Nesta época em que o consumismo e a moda nos levam a comprar brinquedos industrializados, diminuiu muito a criatividade dos pais. Presentes criativos, feitos pelos próprios pais (carrinhos de sucata, pipas, barracas, aviões, cavalinhos, etc…) têm um valor muito maior. As crianças são sensíveis a isso.

Também é necessário que os pais saibam ensinar o valor de cada presente. Eles devem ter um significado pessoal. Hoje em dia se dá presentes em épocas determinadas e não por significados pessoais. Temos que presentear nossos filhos com coisas simples, porém significativas. Cuidado para não trocar carinho por presentes caros. O carinho é insubstituível!

Valorizar Suas Idéias e Coisas
Ouvir os filhos: suas idéias e ideais. Interessar-se pelo que eles se interessam. Buscar suas opiniões e sugestões. Dar oportunidade para que eles se expressem e participem das decisões. Tudo isso são formas de dizer: “O que vocês são e dizem são importantes para nós”.

Respeitando seus gostos e desejos e, levando-os a alcançarem seus alvos, ajudaremos na formação da auto-estima deles. Nossos filhos precisam saber que são capazes e aceitos, respeitados como indivíduos.

Amar = Exemplo + Instrução + Disciplina + Carinho

Meditação e Estudo

Até que ponto Deus responsabiliza os pais pela próxima geração?

Que diferença as Escrituras assinalam entre a formação dos filhos de Abarão e dos filhos do sacerdote Eli?

Com respeito a natureza humana que está toda torcida, o que nos ensina a própria experiência como pais?

Converse sobre a importância de cada uma das áreas que merecem mais atenção dos pais.

Compartilhe experiências pessoais no exercício da responsabilidade dos pais. Anote os erros cometidos e as lições aprendidas.

www.geocities.com/wanderfr/fam-08.htm

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