Autor: Luiz Augusto Correa Bueno
“Se, porém andarmos na luz, como ele está na luz, temos Comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus, Seu Filho nos purifica de todo pecado”. (1ª João 1.7)
E como afeta! Sem dúvida alguma a graça de receber perdão está diretamente ligada a graça de perdoar. Por causa do materialismo e consumismo existente hoje nos arraiais evangélicos, a idéia de perdão e comunhão se tornou muito verticalizada. Há muitos cristãos que acreditam que a área mais importante de suas vidas é estar em comunhão com Deus do ponto de vista pessoal e que a realidade horizontal, isto é, os relacionamentos tem pouco a oferecer a eles.
Na verdade, esta idéia é mais pagã do que cristã. E sem querer, nos encontramos mais paganizados do que cristãos. A época da Igreja primitiva é marcada pelos cultos pagãos que eram oferecidos a deuses e a deusas que exigiam um culto individualista e contemplativo. Há muita razão em Paulo questionar a espiritualidade dos Coríntios devido ao culto a Deus transformado quase em um culto pagão, pois as mesmas línguas que eram faladas no culto corintiano pagão eram também repetidas no culto cristão, especialmente as línguas estranhas que eram segundo os politeístas um testemunho da espiritualidade estática dos adoradores aos deuses de mistério.
Quando Jesus aparece, ele vem questionar toda esta espiritualidade mórbida e estática que havia e mostrar que a comunhão vertical está ligada a comunhão horizontal. Não posso ser perdoado, se ainda não perdoei. Os apóstolos e mais especificamente João compreendeu essa visão e então nos mostra que os relacionamentos humanos tem muito a ver com a comunhão com Deus. Não posso amar a Deus a quem não vejo, se não amo a meu irmão a quem vejo. E por isso, analisando este texto acima citado, podemos chegar a algumas conclusões práticas:
1. A comunhão uns com os outros é essencial para sermos moldados por Deus. Não há dúvida que quando aprendemos a conviver e aceitar pessoas
diferentes, nos tornamos mais humanos. Quando nos relacionamos e nos submetemos uns aos outros, várias virtudes brotam de dentro de nós e elas são conseqüências da ação do Espírito Santo. Não somos mais bondosos se não houver um ambiente para que demonstremos isso. Seremos mais tolerantes e pacientes e essa virtude refletirá a paciência de Deus para conosco.
2. A comunhão uns com os outros produz espiritualidade sadia. João diz: E o sangue de seu filho nos purifica de todo o pecado. Há muita gente doente emocionalmente porque nunca aprendeu o que é perdoar e ser perdoado. Há muita espiritualidade esquizofrênica. A espiritualidade verdadeira só se encontra nos relacionamentos humanos. João diz que a comunhão é resultado de andar na luz. Então, vemos que jamais seremos iluminados por Deus se não aprendermos os passos de Jesus. Crescemos espiritualmente não só quando estamos estudando a Palavra, mas quando nos mostramos acessíveis a pessoas, externalizando nossas fraquezas, buscando ajuda uns com os outros, desenvolvendo relacionamentos que sejam respeitosos e amigáveis. Aqueles que se mantém embrutecidos e rígidos em seus relacionamentos não aprendem o que é a Graça de Deus. Por isso não existirá jamais uma Igreja verdadeira que seja virtual, isto é Igrejas movidas pelos meios de comunicação. Só há amor quando nos colocamos debaixo de um mesmo ambiente. Foi isso que Deus fez quando se encarnou.
3. A comunhão uns com os outros nos ensina a sermos um mesmo na diversidade. A comunidade dos discípulos de Jesus é a única sociedade que pode mostrar ao mundo o verdadeiro amor, porque aprendem que existe um vínculo muito mais forte que os une do que os pequenos vínculos que pode fazê-los desunidos. Vez por outra, ouvimos de Igrejas inteiras que se dividem por que aspectos periféricos de cultura ou mesmo litúrgicas acabam por separar o corpo de Cristo. Há muitos que se convertem a um método cristão e não a Cristo. Há os que acreditam que ser verdadeiro cristão é manter uma forma de liturgia sem quaisquer vínculos com os seus semelhantes.
Deus usa o Espírito Santo para espalhar a diversidade no mundo. Este é nosso maior desafio. A diversidade jamais poderá nos separar, porque o que nos une é a pessoa maravilhosa de Cristo, seu amor, seu sacrifício, sua vida, sua morte e sua ressurreição.
Portanto somos desafiados a olhar para a nossa espiritualidade, olhando para o nosso irmão. Quanto mais soubermos conviver na diferença, mais estaremos encontrando uma comunhão sadia para a glória de Deus.
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