Violência e o papel da Igreja

Autor: Daniel Costa

“Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito: socorro! Porém não há justiça” (Jó 19:7). Violência! Violência! Violência! Estamos cercados por este grito por todos os lados. O tráfico manda fechar o comercio do Ingá… Traficantes fecham o túnel de São Francisco… Rebelião em Bangu  mata seis pessoas a mando de Fernandinho Beira-mar… E o que é pior, esses não são episódios isolados ou uma exceção das grandes cidades do país. Vivemos numa guerra civil, reféns dos bandidos e da incompetência do Estado. Os números da violência no Rio de Janeiro, por exemplo, são alarmantes e já matou mais do que a guerra entre Israel e Palestinos. Não é mais um problema apenas de polícia ou do Estado. Ou a sociedade sai da passividade contemplativa e medrosa em que está e assume uma reação indignada, ou os nossos filhos não terão futuro para viverem nessa nação. O que podemos fazer? Qual é o nosso papel como sociedade e principalmente como Igreja?
Não quero dar respostas utópicas ou simplistas. Sei que precisamos de leis justas, de melhor distribuição de renda, de política de emprego, de investimento no preparo policial, de combate à corrupção, de responsabilidade jurídica criminal para menores de 16 anos em diante, de amparo à criança carente e suas famílias, de exercer melhor o voto, de uma cobrança maior sobre políticos e etc. Mas, me parece que isso ainda não é tudo. A resposta à violência não está só nas mãos do Estado ou mesmo de uma cidadania consciente e responsável, com cada um exercendo melhor o seu poder de voto. Isso tudo ajuda muito, mas não é tudo. Há um fator na violência que não passa por nenhuma dessas coisas, mas é causada pela ausência de Deus. Por isso, há um papel que só pode ser exercido pela Igreja. Quero lhe desafiar para três dessas atitudes:
Primeiro – A Oração. O salmista nos alerta para a responsabilidade de orarmos frente às questões dos conflitos da cidade: “Orai pela paz de Jerusalém…” (Sl. 122:6). Esse é um papel que só a Igreja pode exercer, porque é a única instituição consciente do poder de Deus para mudar as circunstâncias. Assim como Jesus fez (Mt. 23:37), precisamos levantar um clamor que represente lamento contra a violência. Clamor pelas perdições, pelos desperdícios de vidas e de oportunidades de gerar saúde que a cidade demonstra não ter. Um clamor que represente também a necessidade de compaixão por parte de Deus, de acolhimento e de cuidado. Neste mundo de violência gratuita e de falta de justiça só se pode viver sem medo, sem paranóia, se crermos que Deus cuida de nós, se crermos que Ele pode nos abrigar como a galinha agasalha os seus pintinhos. E que esse acolhimento de Deus possa se reproduzir no comportamento das pessoas em acolher uns aos outros.
Segundo – O profetismo, a pregação da Palavra de Deus. Esse é outro papel que só a Igreja pode exercer, pois é a única autorizada por Deus para isso. Como disse o Senhor a Jonas: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim” (Jn.1:2). Nestes tempos precisamos ser profetas e isso significa uma ação de proclamação e confrontação. Justiça social só não basta. As estruturas sociais não mudam pelo simples fato de as pessoas ganharem mais dinheiro. As estruturas sociais só mudam quando o caráter, quando o coração do homem se transformar. Por isso, precisamos pregar: Creio no poder e eficácia da cruz de Cristo para mudar vidas. Mas profetismos é também confrontação. Exercer a boca de Deus sobre os desmandos, as malícias, as injustiças, as corrupções, as violências da cidade. Termos coragem de dizermos aos “Fernandinhos Beira-mar da vida”, aos poderes corrompidos, paralelos ou oficiais  que a mão do Senhor pesará e não tardará o tempo da Sua visitação. O juízo vem e um ano não passará sem que isso aconteça.
Terceiro – O poder de curar. Esse é outro papel que pertence à Igreja. Pregamos o poder de Jesus curar, mas reduzimos esse poder apenas às enfermidades físicas das pessoas. Jesus tem poder para curar as enfermidades conjunturais e sociais da cidade (Lc. 10:8-9). Nossa ação na cidade precisa se fundamentar nesse poder curador, no poder de produzir movimentos que ofereçam incentivo à vida, que ofereçam estruturas novas, alternativas e oportunidades para que a vida aconteça, rompendo toda indiferença, desigualdade, injustiça – Isso é o reino de Deus. Zuenir Ventura disse há alguns anos atrás, que só a Igreja tinha o poder de deter o avanço do tráfico nos morros da cidade. Está na hora de exercermos a nossa responsabilidade social de forma mais consciente, sem escapismos e com absoluta esperança escatológica de que “as trevas não prevaleceram contra a luz”.

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